Review | Frozen 2

É notável que Hollywood é tomada por “movimentos” de tempos em tempos. Atualmente estamos na era dos blockbusters requentados: continuações, spin-offs, remakes, reboots, pouco material original tem sido produzido pelos grandes estúdios nos últimos anos, e claro que as animações não fugiriam disso – e olha que nem estou citando os live-actions que chegam como uma onda ameaçadora – estão aí Os Incríveis 2, WiFi Ralph: Quebrando a Internet e Toy Story 4 que não me deixam mentir que a Disney não tem se arriscado nem mesmo com a criançada, apenas trazendo de volta personagens carismáticos e já estabelecidos com o público para garantir uma boa bilheteria.

Quando Frozen chegou, lá em 2013, a Walt Disney Animation Studios já tinha certeza de que não deveria apostar na animação tradicional após os fracassos de bilheteria de A Princesa e o Sapo (2009) e Winnie the Pooh (2011) e o sucesso das animações digitais Enrolados (2010) e Detona Ralph (2012) impulsionou isso. Além disso, o fracasso de A Princesa e o Sapo foi atrelado ao “princesa” do título, por isso, Enrolados não levou o nome de Rapunzel no título. Frozen muito menos – coincidência ou não, deu certo. Concebido em CGI, Frozen foi um sucesso imediato, Let It Go virou hit -mundial, o longa se tornou a maior bilheteria mundial para uma animação – batendo Toy Story 3 – e seu sucesso provavelmente fez com que os produtores da Disney repensassem a ideia de abandonar as princesas. Desde então, apenas Moana (2016) se aproximou do conceito, mesmo não sendo uma princesa de fato. Coube então a Anna e Elsa voltarem à realeza com Frozen 2.

Onda

Frozen 2 é mais um produto que surfa na onda das continuações – desnecessárias até – mas que acerta exatamente por não se limitar a continuar a história anterior, como acontecera com Os Incríveis 2. A verdade é que Frozen se tornou um hit muito mais pelo Let It Go, mas também por subverter alguns elementos dos “filmes de princesa” como a protagonista (Elsa), que não quer um par romântico – esse papel ficou para a irmã Anna – e por se resolver graças ao amor entre duas irmãs. Tudo isso numa embalagem bem tradicional (estão lá as músicas, o alívio cômico e o vilão óbvio desde a primeira vez que surge em tela) e a dupla de diretores Chris Buck e Jennifer Lee conduz tudo com eficiência.

Dizem que para seguirmos em frente é preciso compreendermos nosso passado. Dessa forma, a dupla de diretores volta à direção e inicia o filme com um flashback de Anna e Elsa ainda crianças ouvindo uma história de ninar reveladora – até certo ponto – do pai, rei Agnarr, plantando uma semente de curiosidade na cabeça do espectador – e das irmãs -, quase um macguffin que irá fazer com que a Anna e a Elsa dos tempos atuais sigam uma voz misteriosa que chama por Elsa e que a levará em busca de revelações sobre o passado de seus pais e sobre a origem de seus poderes.

A proposta é por si só ousada, afinal Buck e Lee decidem levar Elsa e seus amigos em uma jornada que irá revelar o segredo acerca dos poderes da rainha. É como se fosse a jornada da heroína e durante essa aventura a dupla de diretores encontra momentos para brincar com tradições. Olaf surge novamente como alívio cômico, e parte justamente dele um momento de zoação com o filme anterior – um resumão para aqueles que não revisitaram o capítulo de 2013 a tempo – além disso, os números musicais assumem um ar muito mais brega, um deles remetendo ao clipe Bohemian Rhapsody, do Queen, ou de qualquer boy band dos anos 90. Por outro lado, nenhuma música tem o mesmo poder chiclete de Let It Go, um certo alívio para os pais que não ouvirão seus filhos cantarolando a mesma música incansavelmente por dias a fio.

Decididos em dar um passo à frente mesmo com uma narrativa que concilia passado e descobertas, Buck e Lee contextualizam toda uma mitologia em torno dos poderes de Elsa, se baseando nos quatro elementos da natureza – água, ar, fogo e terra – e também no desentendimento entre dois povos ancestrais. Assim, o longa ganha em apelo para as gerações atuais e futuras – que ainda não assistem a noticiários nem acessam mídias sociais onde uma Greta Thunberg esbraveja contra os adultos. Dessa forma, a mensagem é de respeito pelos povos nativos e pela natureza, incorporando a uma história de princesa – tal qual Moana fizera – uma mensagem universal que precisa ser passada.

[wp-review id=”13449″]

 

Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours