Review | Fundação (Apple TV+)

Neste ano, que marca o começo do fim da maior pandemia em 100 anos, chegam as adaptações para o audiovisual dos dois livros de ficção científica mais idolatrados nesse mesmo período: Fundação, de Isaac Asimov; e Duna, de Frank Herbert.

O segundo estreia nos cinemas esta semana no Brasil (e faremos o review logo após a cabine na quinta-feira de manhã) e o primeiro está em exibição na Apple TV+ há cinco semanas, e um total de 10 episódios semanais (estamos na metade, portanto). É um tempo glorioso par quem é fã de sci-fi.

O conglomerado da maçã não economizou dinheiro para produzir esta saga, que sempre foi considerada inadaptável, por ser a história de uma civilização que se prolonga por séculos, com enormes saltos temporais.

Se alguns admiradores xiitas do texto original viram na inclusão de cenas de ação e romances um sacrilégio contra Asimov, outros, como a crítica da Veja, Isabela Boscov, consideram inteligentes e elegantes as soluções do showrunner David S, Goyer (que também assumiu a futura série Sandman, da Netflix) para tornar a história palatável a um público maior.

Piloto

O episódio piloto já é um deslumbre, partindo da primitiva Synnax, um planeta de fundamentalistas religiosos que tentam combater a elevação dos oceanos com orações, lar da jovem Gaal Dornick (Lou Lobbell, muito carismática), que ao conseguir decifrar uma equação considerada insolúvel, ganha um convite do professor Hari Seldon (Jared Harris, de Chernobyl, com a competência habitual) para a capital do Império, Trantor.

Logo que ela chega (a sequência do elevador espacial levou muitos aficionados às lágrimas), um terrível episódio (que nos remete imediatamente ao 11 de setembro) muda os rumos do Império. Seldon, criador da Psico-história, um estudo capaz de prever acontecimentos de grandes populações ao longo dos séculos, é levado diante do Imperador (Lee Pace, o Ronan de Guardiões da Galáxia) por profetizar a queda de sua civilização em menos de 500 anos.

A Psico-história é resultado da admiração de Asimov por A História do Declínio e Queda do Império Romano, escrito por Edward Gibbon no século XVIII, considerado o primeiro estudo moderno de história. O autor de Eu, Robô usou sua saga intergalática como um reflexo do que acontecia no mundo real.

Asimov nasceu na Rússia dos czares e dos pogroms, emigrou para os Estados Unidos e viu a decadência do Império Britânico e a ascensão das superpotência americana e soviética. Foi ao longo dos anos que vão da Segunda Guerra Mundial (1942) até ás vésperas do novo século (1993, Limites de Fundação, obra póstuma) que ele publicou as histórias e livros que constituem o universo de Fundação.

Dentro dessas premissas, a série reflete nosso tempo atual, de mudanças climáticas, império em decadência e revoltas nos limites deste. A Fundação de Hari Seldon deveria ser o mantenedor do conhecimento e saber contra a barbárie em curso, mas muita coisa vai acontecer até isso se estabelecer.

A intenção da Apple TV+ é de fazer da produção seu Game of Thrones. Mas a exemplo da continuação de Duna – já que Dennis Villeneuve só filmou a primeira parte do livro – uma conclusão vai depender do engajamento do público.

 

 

 

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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