Muitas vezes algumas séries não conseguem a devida repercussão durante seus anos de transmissão e acabam sendo descobertas quando são reprisadas ou até mesmo quando lançadas em outras mídias. Atualmente, várias produções estão sendo redescobertas graças ao catálogo da Netflix, que cada vez mais amplia suas opções, elevando alguns títulos ao status de cult.
Recentemente, a Netflix – que cada vez mais vem produzindo material próprio de altíssima qualidade – anunciou a aquisição de Gilmore Girls, série com sete temporadas exibidas entre 2000 e 2007. Além de fazer parte do eclético catálogo, foi anunciado um revival com a produção de quatro novos episódios.
Os fãs enlouqueceram e a mídia começou a acompanhar as filmagens dos novos episódios, querendo descobrir como seria essa volta e se todos os atores reprisariam seus personagens. Depois de meses de espera, a Netflix finalmente libera os novos episódios e os saudosistas podem comemorar: as garotas Gilmore estão de volta e em altíssimo estilo.
Para os já adeptos ao peculiar estilo da série, os novos episódios são um deleite em todos os sentidos. Lorelai (Lauren Graham) e Rory (Alexis Bledel) continuam afiadas, reproduzindo uma verborragia de referências pop, sempre muito bem humoradas e antenadas com as novas tendências. Daniel e Amy Sherman-Palladino são roteiristas muito competentes e dão vida às novas situações, relembrando o passado, mas sem esquecer do futuro. Toda a série consegue caminhar bem sozinha, mas fica muito mais prazerosa se o espectador conhecer o que já foi apresentado antes.
Dividida em quatro partes, ilustrando as estações do ano, Gilmore Girls amadurece na medida certa, acompanhando as mudanças de suas personagens e seus conflitos.
A primeira explicação do retorno foi definir o destino de Richard Gilmore, interpretado por Edward Herrmann, que faleceu antes das filmagens. De forma acertada e rendendo homenagens, a morte do ator foi integrada a série. Já no primeiro episódio acompanhamos o reencontro das Gilmore e as consequências de uma perda tão sentida. A morte de Richard serve de arco para novos dramas e consequentemente as mudanças trazidas para cada personagem.
Emily (Kelly Bishop), por exemplo, agora precisa aprender a viver sozinha e a cuidar de si, depois de 50 anos dedicados ao marido. A volta das personagens também apresenta mudanças em Lorelai, que precisa administrar uma crise pessoal, chegando ao ponto de fazer uma aventura no estilo do livro (e não do filme) Livre. Rory, agora uma mulher, tem que tomar decisões que definirão sua vida e farão com que seu futuro profissional mude repentinamente, assim como seus amores.
Mais uma vez, o brilhante roteiro, tão característico de toda a série, se faz por valer, não existindo muitos momentos desperdiçados, nem situações que pareçam desnecessárias. A série que sempre primou pela inteligência, continua mantendo o nível e tudo o que sai da boca dos personagens são diálogos honestos e imprevisíveis. O respeito pelas mulheres continua sendo o fio condutor.
Talvez o que incomode um pouco é que a série parece ser feita exclusivamente para os fãs, sem se preocupar em conquistar uma nova geração, principalmente os jovens, que devoram séries em grande quantidade. Os coadjuvantes, mesmo se mantendo extremamente engraçados, podem parecer esquisitos demais para aqueles que estão conhecendo a série somente agora.
Se as coisas são mesmo para os fãs, então rever Stars Hollow, todos os lugares exatamente iguais, com toda sua agitação, torna-se uma tarefa prazerosa e emocionante. Antigos atores, que marcaram presença na série, estão de volta. Melissa McCarthy, Jared Padalecki e Milo Ventimiglia estão presentes em momentos simples, mas bastante significativos, comprovando que a série marcou suas carreiras.
Noves anos separam a derradeira e decepcionante temporada final dos novos episódios, tempo suficiente para que Lorelai e Rory amadurecessem, sem perder a essência sempre tão característica que as colocaram como ícones do feminismo, sendo sempre tão queridas pelo público.
Gilmore Girls nunca foi uma série com grandes reviravoltas, sempre preferiu se manter intimista, deixando que os sentimentos fluíssem naturalmente. Toda a graça e beleza vinham de todas as situações atípicas com um pé na realidade.
Um Ano Para Recordar usa sua narrativa para fazer reflexões sobre o tempo e a vida, sobre os caminhos que seguimos e sobre a importância das pessoas que entram e saem de nossas vidas. As quatro últimas palavras da série, mantidas em sigilo absoluto, quando ditas, revelam que um ciclo se fechou, mas que as garotas Gilmore ainda têm muito a dizer.
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