Review | Judy: Muito Além do Arco-Íris

Que Judy Garland é uma lenda do cinema, ninguém duvida. O Mágico de Oz (1939) e Nasce Uma Estrela (1954) são marcos na carreira da atriz e da sétima arte, mas nem todo mundo conhece a história por trás da estrela que trilhou a calçada de tijolos amarelos tão rapidamente, por menos de meio século, com uma infância marcada por abusos e relações problemáticas que se refletiram em seus vícios e problemas psicológicos.

Uma coisa é certa sobre Judy: Muito Além do Arco-Íris: a estrela da época de ouro do cinema merecia uma cinebiografia mais acachapante. O recorte trazido pelo diretor Rupert Goold é bem limitado no sentido de compreensão dos traumas da personagem. A edição abusa dos flashbacks para nos mostrar toda a carga dramática de sua vida, e faz isso de maneira corrida. Estão ali os traumas da infância, os abusos sofridos pelos chefões da MGM, o vício em medicamentos contra o sono que, com o passar do tempo, evoluiu para outros tipos de drogas. Se a cantora enchia palcos no auge, por dentro ela se via cada vez mais vazia, principalmente nos últimos anos de sua vida.

O longa se passa no inverno de 1968, quando Judy (Renée Zellweger) aceita estrelar uma turnê em Londres, por mais que tal trabalho a mantenha afastada dos filhos. Ao chegar, ela enfrenta a solidão e os conhecidos problemas com álcool e remédios, compensando o que deu errado em sua vida pessoal com a dedicação no palco.

Superficial

Com uma narrativa superficial e corrida, o filme vai dando voltas ao redor de Judy e seus traumas sem saber muito bem para onde ir. Quando Zellweger não está em cena, o filme cai drasticamente, já que sua presença é seu maior trunfo. Diferentemente de outras atuações em cinebiografias, que tentam imitar (positivamente) figuras icônicas do cinema, Zellweger copia bem não apenas os trejeitos da atriz, mas também toda a carga emocional de uma mulher bastante afetada pelos vícios e por suas inseguranças. Quando ela sobe ao palco e solta a voz, o filme atinge níveis elevados. Ao menos o carinho e o respeito pela lenda são transmitidos.

Com tanta força em sua protagonista, todo o restante parece aquém. Goold até toma umas decisões interessantes, principalmente quando explora jogos de luzes embaçados que iluminam uma artista em decadência, no entanto, os coadjuvantes surgem sem muita força e qualquer minuto a mais dispensado neles parece uma perda de tempo, enquanto Zellweger realmente comanda o show. Em suma, Judy: Muito Além do Arco-Íris é um longa com cara de telefilme que deverá ser lembrado somente pela atuação de sua protagonista, que vem colecionando prêmios. Ao final, o pedido de Judy para que jamais se esqueçam dela já foi atendido… mas não por esse filme.

Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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