Review | Logan

A trajetória solo do mais carismático mutante do cinema não tem sido fácil. Seu primeiro filme, X-Men Origens: Wolverine, de 2009,  é uma unanimidade: desastre total. O segundo, do mesmo diretor James Mangold, de Logan, vai bem até o desfecho, que é uma vergonha alheia. Dessa vez, porém, os executivos chatos que costumam dar palpites visando atrair mais público (ou seja, dinheiro) devem ter dado uma folga, já que era a despedida de Hugh Jackman do papel que o tornou um astro. E que adeus!

A primeira pista do que veremos em cena é o título, Logan, um nome próprio, sem sobrenome, assim como Shane, que no Brasil ganhou o título épico de Os Brutos Também Amam, filme que Charles Xavier assiste com a jovem mutante Laura num intervalo da fuga da corporação que os persegue (isso não é spoiler, se você viu o trailer). O clássico de George Stevens conta a história do pistoleiro que encontra pouso no rancho de uma família, cuja propriedade é assediada por criadores de gado inescrupulosos. Quando a ameaça termina numa morte, o relutante Shane veste o coldre e decide a parada. Esse breve resumo de um longa de 1953 também não é spoiler –  viu, seu editor –  já que nada disso acontece no nosso filme em review. Mas o espírito do faroeste, ah, esse sim, está em Logan.

 

Caliban e Logan no futuro pós-apocalíptico dos mutantes

No começo, vemos nosso herói em 2029, com seu poder de cura debilitado e nem conseguindo controlar suas famosas garras direito. Para maior humilhação, virou motorista de Uber. É o jeito que encontrou para salvar seu mentor Charles Xavier (Patrick Stewart, de Star Trek: A Nova Geração, também em seu último filme no papel), que também perdeu o controle de sua telepatia e depende de remédios para não ferir outras pessoas. Nesse futuro alternativo, os dois mais Caliban (o comediante Stephen Merchant, de The Big Bang Theory) são os últimos mutantes do mundo. Pelo menos, é isso que eles acham.

A enfermeira Gabriela (Elisabeth Rodriguez, de Orange is the New Black) o aborda para que salve a garotinha Laura (Dafne Keen – de onde tiraram essa menina?!), perseguida pelo mercenário ciborgue Pierce (Boyd Holbrock, de Narcos). Aí começa o road movie, com Logan, Xavier e Laura (alguém ainda não sabe que ela é a X-23?) fugindo pelo país com os Carniceiros – nome dos capangas de Pierce – em seu encalço. É uma jornada em busca da esperança para Laura e Xavier, e redenção para este velho Logan, cansado de perder pessoas queridas e que por isso evita se apegar de novo. Mesmo que haja uma ligação mais forte que o sangue.

Mangold, desta vez, manteve o ritmo necessário para dar dar corpo à história. Há o uso inteligente dos quadrinhos, não apenas como easter egg, mas como inspiração a alguns personagens,  e desta vez é evitado o clímax escalafobético, que acometeu não apenas Wolverine: Imortal como todos os filmes de mutantes da Fox.  E o duelo final – já que este é um western moderno* – é com o maior inimigo de Logan, que é ele mesmo.

Dafne Keen é uma grata surpresa em 'Logan'

Entram os créditos e a música é Hurt, com Johnny Cash. A letra: “I hurt myself today/To see if I still feel/I focus on the pain/The only thing that’s real…What have I become/My sweetest friend?/Everyone I know goes away/In the end”. Lágrimas e aplausos da plateia, que fica até o fim da canção, ainda embasbacada com o que acabou de ver. Decisão acertada de evitar cenas pós-créditos, pois estragaria o clima. Se Deadpool surpreendeu pelo humor no ano passado, Logan emociona. Que filmão!

*Outro faroeste, nem tão famoso, me ocorreu nas cenas finais: Os Cowboys, de 1973, estrelado por um outonal John Wayne (Rastros de Ódio), que lidera um bando de garotos na condução de um rebanho de gado e que são atacados por bandidos liderados por Bruce Dern (Nebraska). Recomendo que assistam, assim como Os Brutos Também Amam.

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