Review | Ninguém Vai Te Salvar

As invasões alienígenas sempre povoaram o imaginário popular, criando extensas discussões sobre os mais catastróficos efeitos que causaria na humanidade – menos quando nos pediram para buscar conhecimento. Explosões, destruição em massa, aniquilação – tudo muito Michael Bay. E no cinema, como não poderia deixar de ser, vimos materializados alguns de nossos maiores devaneios e pesadelos. E, sinceramente, os momentos mais memoráveis sempre aconteceram quando o escopo foi reduzido e a ameaça se tornava mais íntima, como acontece aqui neste surpreendente Ninguém Vai Te Salvar (No One Will Save You, 2023), disponível nacionalmente no Star+.

Protagonizado pela jovem Kaitlyn Dever, que também é produtora executiva, o projeto americano, original do streaming Hulu, conta com com direção e roteiro de Brian Duffield e aposta em uma mistura de terror e ficção científica com drama. Sim, isso mesmo que você leu.

A premissa inicial é bastante simples: um dia, a solitária Brynn precisa lidar com uma invasão alienígena em sua casa, afastada da cidade, onde mora sozinha. No entanto, o espectador é levado por uma viagem onde o maior inimigo em tela não está vindo do espaço.

 

Mas ninguém vai te salvar mesmo?

Tratando de temas como depressão, ansiedade e luto (temas recorrentes em produções de terror recentes como o ótimo Fale Comigo), a película nos guia pelo caminho tortuoso que a protagonista encara a perda.

Passando por alegorias como encarar medos maiores ou menores, eliminar versões de si mesmo que tem lhe impedido o progresso para dar continuidade a vida e até mesmo o isolamento, o filme justifica seu nome ao nos escancarar que, de fato, ninguém, se não nós mesmos, vai nos salvar, quando se trata do que precisamos encarar aqui dentro – aponta para a cabeça, parecendo um maluco enquanto escreve em frente ao computador.

Inclusive, vale ressaltar um aspecto bastante incomum: o filme mal tem duas, três linhas de diálogo em sua uma hora e meia de extensão. E isso não é sem um porque, afinal, é na imersão dentro do ser, no mais profundo silêncio, que nossos medos soam mais assustadores e reais. 

Ninguém Vai Te Salvar (Star+)
Ninguém Vai Te Salvar (Star+)

 

Cinemão de ficção e terror, com homenagens aos clássicos

Com relação a cinematografia da obra, tudo vai muito bem, obrigado. A direção é bastante segura, imprimindo algumas tomadas que não escondem nada do que está acontecendo. Inclusive, os planos abertos fazem questão que você saiba o que está rolando ali ao lado, lá no fundo, do lado da protagonista. E isso contribui demais para o aspecto horror do filme. 

A escolha da paleta de cores também diz muito sobre as sensações em tela – afinal, sempre é melhor mostrar do que dizer. Seja para expressar solidão, angústia, atenção, perigo, ou uma aparente tranquilidade.

Kaitlyn Dever segura o rojão, com diversas caras e bocas, dizendo muito sem precisar falar praticamente nada.

Alguns têm criticado os efeitos especiais do filme, que se não são um primor, mostram-se competentes na grande maioria do tempo – onde há alguns takes bastante próximos dos visitantes extraterrestres, que são assustadores, embora baseados naquela visão clássica do “pernudo com cabeça redonda” que visitou Varginha e foi autopsiado ao vivo no Fantástico.

Aliás, o respeito e a homenagens aos clássicos aparece em diversos momentos. É fácil reconhecer muito de Sinais, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Guerra dos Mundos por aqui. Tem até algumas cenas que saúdam obras como Poltergeist e O Iluminado.

Se você gosta dessa mistura de gêneros, mergulhe de cabeça nessa obra e você pode se surpreender muito positivamente, como aconteceu comigo. Sem dúvidas, um dos mais instigantes filmes de ficção dos últimos anos. De fato, Ninguém Vai Te Salvar se provou um filme de outro mundo, diante do que tenho visto no mercado.

 

Alexandre Fernandes

Pai do Yuri Rafael, sou só um cara de meia idade que reclama bastante, mas não ao ponto de perder o bom humor. Nostalgia é meu sobrenome, e sim: gosto muito de cultura pop, filmes, séries, música, animes e mangás, videogames e tudo isso aí que faz um nerd. Mas não sou nerd, eu juro.

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