O interior do Brasil sempre reservou ótimas histórias, embora nem sempre felizes. A desigualdade social que assola o rincão brasileiro funciona quase como um deus que dá vida a pessoas e personagens humildes, sem acesso a qualquer tipo de ferramenta do mundo desenvolvido e informatizado, que geralmente se apegam a religião e família como uma espécie de proteção às mazelas do mundo e do próprio homem.
Em O Nome da Morte, o diretor e roteirista Henrique Goldman (Jean Charles) caminha por este terreno muitas vezes visitado no cinema: o bom moço que se torna um criminoso e passa a ter dilemas de moral e de fé ainda que precise do dinheiro sujo de seu trabalho.
Na história, Júlio (Marco Pigossi estreando nos cinemas) é um jovem que vive com a família no interior do Brasil. Por lealdade ao tio Cícero (André Mattos de Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro) Júlio mata pela primeira vez. Descobre então uma perturbadora vocação que irá se transformar em ofício. Religioso é atormentado a cada disparo, mas segue adiante enquanto vive um mergulho num país sem lei, onde cada vida tem seu preço, mas nenhum valor.
Pigossi funciona enquanto o bonzinho repleto de questionamentos, porém, conforme seu personagem vai fazendo mais vítimas ele tropeça com uma atuação apática demais, embora, em alguns momentos, fique claro que isso é culpa do texto preguiçoso repleto de convenções.
Os coadjuvantes não encontram muito espaço para brilhar, Fabiula Nascimento (O Lobo Atrás da Porta) e André Mattos até tentam, mas não há muito o que fazer ali. Mattos é quem segura boa parte do início do filme, como o personagem que leva Júlio para o mundo dos crimes por encomenda, enquanto Fabiula é boicotada por aparecer em um momento onde a história já estava comprometida.
Muito da rasa construção desses personagens se deve ao roteiro de George Moura (Redemoinho), que não ajuda em nada no desenvolvimento deles e nem no andamento da narrativa, a história é muito convencional, com soluções fáceis, e com um personagem principal pouco explorado em sua sanidade, embora a história peça isso a todo instante.
Por ser baseado em uma história real, O Nome da Morte frustra quem espera por uma abordagem mais crítica e política da coisa. A corrupção da polícia e a justiça falha estão presentes na história a todo instante, mas tais elementos são abordados de maneira vexatória e até ridicularizados por Goldman, como na cena em que um policial dirige um Camaro amarelo, na cena em que o tio Cícero faz zumba em uma academia e até mesmo em uma cena mais ao fim, onde Júlio participa de um coral em uma igreja, são momentos de exagero que não combinam com a abordagem da trama.
Goldman constrói um Julio, personagem real, de maneira preguiçosa e sua história também trilha por caminhos já tantas vezes percorridos, não que isso seja um demérito, porém, quando se trata de Brasil e o momento político e social em que vivemos, O Nome da Morte poderia ser algo a mais do que um simples thriller sem muito a ser absorvido.
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