Review | Samurai de Olhos Azuis (Netflix)

Samurai de Olhos Azuis, da Netflix, vem conquistando público e crítica com razão: é muito bem escrita, com muita pesquisa sobre o Japão do início do período Edo (século XVII), personagens fascinantes e um desenvolvimento perfeito…até que chega o último episódio.

Mas não vamos nos antecipar. O ronin Mizu (Água, em japonês) aparece em uma casa de soba (macarrão ensopado) em busca de informações para completar sua vingança. Como em um bom filme de samurai, logo as perguntas desembocam em uma luta, da qual o misterioso espadachim emerge vencedor, fascinando o cozinheiro Ringo, que logo o segue querendo ser seu aprendiz.

Ambos são párias, o pretenso discípulo por não ter mãos e o relutante mestre por ser mestiço, quase sub-humano no Japão isolado do mundo até o século XIX.

Além disso – o que não chega a ser spoiler, porque a sinopse entrega – Mizu é, na verdade, uma mulher, que oculta seu sexo para não sofrer ainda mais discriminação. Sua jornada de vingança é em busca dos últimos gaijin (estrangeiros) a deixar o país, um dos quais teria abusado de sua mãe, sendo seu pai biológico e responsável por sua miserável existência.

Tridimensional

Abandonada na infância, Mizu acaba sendo adotada por um mestre fabricante de espadas cego, que acaba fazendo dela seu auxiliar, sem saber que se trata de uma menina. Essa e outras histórias dela serão contadas em flash backs, criando um retrato mais tridimensional da protagonista.

Paralelamente conhecemos a princesa Akemi, filha de um proeminente daimyo (senhor feudal), que deseja escapar de seu destino de se casar com um dos filhos do xogum (governante supremo) para fugir com seu amado Taigen, um arrogante espadachim que acabará sendo humilhado por Mizu durante uma luta no dojo (escola de luta) da qual faz parte.

A narrativa adota um ritmo que mistura os filmes de samurai e videogames, com suas fases e desafios crescentes. O problema é o final, em que depois de enfrentar o chefão da temporada, há uma solução brochante para induzir a uma segunda temporada, que pode acontecer até em um cenário completamente diferente.

Pode ser bom para a ambição dos showrunners, mas é decepcionante para quem maratonou esta primeira temporada. A boa notícia é que a manobra deu certo e uma nova série de episódios foi confirmada.

Samurai de Olhos Azuis é projeto digno, com diversas surpresas e ótimo desenvolvimento de personagens. Eu, nikkey, preferia assistir legendado e dublado em japonês para uma melhor imersão. Vale a pena conferir, apesar dos pesares.

PS: a segunda temporada JÁ FOI confirmada pela Netflix. Agora nos resta aguardar.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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