Durante muito tempo, adaptações cinematográficas de personagens ou jogos de videogames foram uma tendência em Hollywood. Um dos primeiros a ser levado para as telonas foi o encanador Mario, da Nintendo, no filme Super Mario Bros. (1993), considerado até hoje um dos piores filmes já feitos. Depois dele muitos vieram e poucos agradaram crítica e público. Tais adaptações viraram uma espécie de maldição, e antes mesmo dos filmes estrearem havia um consenso: é adaptação de um game? Deve ser ruim.
Um dos grandes deméritos dessas produções foi mudar completamente a história dos jogos, muitas dessas adaptações descaracterizavam personagens clássicos – como se esquecer do Bowser do saudoso Dennis Hopper ou do Blanka de Street Fighter? Digno de um cosplay do Hulk direto dos anos 70 – outro fator que contribuiu para o ridículo foi o boom dos efeitos especiais dos anos 90, as produções eram exageradas e tinham cara de filme B, a maioria envelheceu muito mal. Além disso, muitos filmes contavam com rostos famosos: de Jean-Claude Van Damme a Christopher Lambert, mas nem isso ajudava nas bilheterias.
Parece que quando a coisa se leva a sério demais é um problema, com isso, de uns anos pra cá, adaptações de games voltadas para o público mais infanto-juvenil foram surgindo: Angry Birds e Detetive Pikachu são os exemplos mais recentes. E agora, o ouriço azul mais famoso do mundo finalmente também chega às telonas em um formato live-action voltado para a família e para os mais saudosistas. Aliás, deve-se destacar o respeito da produção para com os fãs após o efeito negativo causado pelo primeiro trailer, o Sonic de traços humanizados não foi bem aceito e o filme foi adiado para que a aparência do bichano fosse modificada, o resultado foi bem melhor – alguém aí assistiu Cats?
Inspirado no personagem criado pela Sega em 1991, Sonic: O Filme traz o ouriço alienígena de poderes supersônicos em um breve prefácio sendo enviado para a Terra por uma sábia coruja antes que seja capturado por forças malignas em seu planeta de origem. Portando seus anéis mágicos, Sonic vive durante dez anos na cidade de Green Hill – numa clara referência à primeira fase de seu jogo – de onde o xerife Tom (James Marsden) está prestes a se mudar com sua esposa Maddie (Tika Sumpter).
Sozinho e sem ninguém para chamar de amigo, Sonic causa um blecaute na cidade e chama a atenção do Doutor Robotnik (Jim Carrey, de volta aos velhos tempos fazendo suas caras e bocas), um cientista maluco chamado pelo governo para apurar o apagão. Após descobrir que se trata de algo extraterreno, Robotnik parte em busca desta poderosa fonte de energia para seu arsenal tecnológico, sem saber que ela é o próprio Sonic.
Elementos clássicos
Enquanto outras adaptações de games não se encaixaram bem ao formato cinematográfico, Sonic: O Filme faz bom uso dos elementos clássicos do jogo de forma que eles tenham uso funcional na narrativa. Os anéis dourados são como portais que levam Sonic para onde ele quiser, o visual clássico do Dr. Robotnik de bigode espalhafatoso e físico rechonchudo não foi aplicado em Jim Carrey, como visto no trailer, mas aguarde até a primeira cena pós-crédito que valerá à pena – a segunda vale ainda mais -, enquanto o visual do Sonic traz as luvinhas brancas e seu sapatinho vermelho, ou seja, sua identidade visual foi preservada, e isso é o mínimo que se espera de uma adaptação.
O diretor Jeff Fowler não ousa no formato enquanto história e o roteiro escrito a cinco mãos é bem simples e previsível. Remete e Meu Amigo Dragão (2016) – ou até E.T. (1982) se você quiser ir mais longe – com uma tenra mensagem sobre amizade, onde dois seres distintos se conectam de alguma forma – a diferença aqui é que Tom já é um adulto – unindo forças com a população de uma pequena cidade do interior e lutando contra as forças do governo que querem usar a tal criatura para experimentos científicos.
No meio desse filme família, Fowler se permite fazer algumas piadinhas politicamente incorretas – como a da criança presa na bolsa – e até dá indícios de uma relação homoafetiva entre Robotnik e seu ajudante Stone (Lee Majdoub) sem ridicularizá-los. A brincadeira aparece também nas cenas de ação, onde é aproveitada a ultravelocidade de Sonic para deixar tudo em câmera lenta e o ouriço se deleitar durante uma briga de bar – sabe aquela cena do Mercúrio em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido? – até mesmo referências cinematográficas aparecem aqui e ali – Sonic adora Velocidade Máxima – e o resultado acaba sendo essa sessão prazerosa, onde o principal combustível está no carisma do protagonista e no ritmo acelerado que nunca cansa o espectador.
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