Review | Um Dia de Chuva em Nova York

Um Dia de Chuva em Nova York se transformou em uma tempestade na cabeça de Woody Allen. Isso porque após as acusações de abuso sexual de sua filha adotiva Dylan Farrow contra ele, a Amazon, responsável pela distribuição do longa, desistiu e “cancelou” o lançamento do longa – aliás, o boca a boca de crítica e público também têm trabalhado como publicidade negativa, eis aqui mais uma. Até mesmo Timothée Chamalet embarcou nessa espécie de boicote, doando todo seu salário para instituições, incluindo a Time’s Up – o que pode ser entendido como “desculpem por ter trabalhado com ele”.

Na história, Chalamet é Gatsby, um apaixonado por Nova York que decide apresentar a cidade à namorada Ashleigh (Elle Fanning), que estará por lá a convite do cineasta Roland Pollard (Liev Schreiber). Porém, a cidade tem seu próprio cronograma e ambos se desencontram. A aspirante a jornalista se vê então cercada de três homens: o roteirista Ted (Jude Law), um ator renomado (Diego Luna), e o cineasta Pollard que lhe dá um furo de reportagem que pode impulsionar sua carreira jornalística, enquanto Gatsby se depara com a gravação de um filme na qual encontra Chan (Selena Gomez), a irmã mais nova de sua ex-namorada, e um refinado jantar de família do qual ele quer fugir. Entre idas e vindas, encontros e desencontros, ambos farão suas próprias escolhas numa cidade que não pára.

Típico

É o típico filme de Woody Allen: o rico branco de alta classe (o nome Gatsby não é a toa) perambulando por uma cidade que tem vida própria em meio a seus pensamentos ranzinzas e encontros fortuitos com pessoas variadas – há um quê de Meia-Noite em Paris nessas andanças e encontros imprevisíveis. Nenhuma das personagens diz algo sobre si (talvez apenas Selena Gomez, que consegue fazer muito com o pouco tempo de tela que tem), todas as demais mulheres orbitam ao redor do mais novo alter-ego de Allen, vivido pessimamente por Chalamet, nada à vontade ao repetir os trejeitos do diretor.

Elle Fanning está bem, ainda que numa personagem péssima, de uma efusividade e empolgação que lhe tiram qualquer traço de personalidade. Jude Law, Diego Luna e Rebecca Hall reservam bons e breves momentos, mas logo são atropelados por um roteiro que não se interessa muito por eles.

Se você gosta – muito – do estilo do diretor pode se deliciar. O filme diz logo de cara de quem é (os créditos iniciais e a trilha não se deixam enganar), mas é justamente aí que ele se acomoda. Allen parece parado no tempo, sem interesse algum em mudar suas convenções, personas, e principalmente o tratamento dado às mulheres. Nem mesmo a chuva de Nova York é capaz de lavar sua alma.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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