Review | Sicario: Dia do Soldado

Quem diria que Taylor Sheridan, que surgiu em 2015 após assinar o roteiro de Sicario – Terra de Ninguém e foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2017, por A Qualquer Custo, voltaria em 2018 como roteirista de Sicario: Dia do Soldado? Digo isso porque os textos de Sheridan sempre foram marcados por duras críticas ao sistema, das mais variadas formas, sem repetições, sempre aliado às técnicas de excelentes diretores: Dennis Villeneuve em Sicario – Terra de Ninguém e David Mackenzie em A Qualquer Custo. Em Terra Selvagem (2017) ele próprio roteiriza e dirige, e se o filme fica aquém dos dois já citados, ainda assim é um trabalho que serve de exemplo para se ficar de olho no futuro de Sheridan, que já não é mais apenas uma promessa.

À primeira vista, Sicario: Dia do Soldado pode parecer uma sequência desnecessária, ainda mais para quem assistiu ao filme de 2015. Havia mesmo necessidade de contar mais daquela história ou tirar mais daqueles personagens? Se o diretor Stefano Sollima aceitou embarcar nessa onda, ao menos não fez feio. Mas claro, o resultado fica aquém do capítulo anterior.

Na história, Matt Graver (Josh Brolin, o Thanos de Vingadores: Guerra infinita e o Cable de Deadpool 2) é designado pelo secretário de governo norte-americano a uma missão secreta no México que envolve a filha de um chefão das drogas, mas para isso precisará da ajuda de Alejandro (Benicio Del Toro, de Star Wars: Os Últimos Jedi) para realizar o lado sujo da coisa.

Sicario: Dia do Soldado funciona muito mais pela força de seus protagonistas do que pelas cenas de ação, pelo clima criado ou pela parte técnica. Não que a ação, o clima, a fotografia e a trilha do filme sejam ruins, mas quando se compara esta sequência ao que Villeneuve e Sheridan já haviam feito, ela fica devendo. Falta a Sollima a inventividade e originalidade que Villeneuve soube trazer ao contar uma história com carga sombria e conteúdo crítico. Sem falar na fotografia desértica de Roger Deakins e na trilha enérgica do saudoso Jóhann Jóhannsson.

Reaproveitado

Aliás, a trilha sonora de Sicario: Dia do Soldado é praticamente reaproveitada à exaustão, os acordes graves da trilha do filme anterior são repetidos constantemente. É marcante, mas nada inovador. Esta sequência também reutiliza os personagens principais – com exceção de Emily Blunt – mas os torna mais humanos. Brolin e Del Toro ganham muito mais cenas em que seus sentimentos são retirados daquelas carcaças duras e frias construídas no filme anterior. É até difícil não se lembrar de Logan ao ver Del Toro e uma garotinha andando pelo deserto, enclausurados em uma casa e chorando um pelo outro.

O roteiro tem seus deslizes, principalmente quando começa mostrando alguns ataques terroristas, mas logo abandona essa ideia, assim como se torna maçante ao mostrar o preparo de um garoto que flerta com o tráfico, embora possamos compreender a razão disso nos instantes finais. Demora para a história se ajustar e os personagens tomarem as rédeas da situação, mas é gratificante quando essa definição de rumo vem acompanhada de uma quebra de expectativa e mudança nos planos dos personagens.

Sicario: Dia do Soldado não é um filme ruim e funciona como sequência, mas quando abandona o pessimismo do filme anterior e não se renova, o resultado é apenas bom.

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