Review | WandaVision (Disney+)

Terminada a série WandaVision há duas semanas e – baixada a poeira causada pela conclusão – podemos analisar de forma mais fria esta primeira incursão televisiva do Universo Cinematográfico Marvel (UCM).

Esqueça Agentes da S.H.I.E.L.D. e as séries da Netflix: Kevin Feige, após lutas internas dentro da própria Marvel, só agora aterrissa na televisão trazendo histórias que se ligam diretamente aos filmes da bilionária franquia. Por ser a pioneira, WandaVision começou como uma verdadeira homenagem à TV, especialmente a americana, na forma de um de seus principais produtos, que é a sitcom.

Os SPOILERS começam aqui porque, mais do que uma crítica, esta é uma conversa com quem já viu e está pensando no seriado. Por isso, não vai ter nota.

Nos primeiros episódios, que acontecem na forma de comédias televisivas dos anos 50, 60 e 70, imaginamos que aquele seja um microcosmo criado por Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen, ótima), nascida e crescida na Sokóvia, uma país imaginário identificado com a ex-Iugoslávia e as guerras fraticidas que lá ocorreram nos anos 90.

Para explicar como os sitcoms americanos fizeram parte do imaginário dela, criaram um subterfugio interessante, já que a cultura pop dos EUA é consumida pelo mundo inteiro de forma oficial ou não.

O mundo gerado pela Feiticeira Escarlate, em que ela e o Visão (Paul Bettany, tendo maiores oportunidades de exibir sua versatilidade dramática) são um casal dos subúrbios com filhos gêmeos fizeram os fanáticos das HQs vibrarem, por se referir a uma famosa saga dos heróis.

Isso gerou uma enorme expectativa pela revelação do vilão da história, que nos quadrinhos era Mefisto, a versão da Marvel do Tinhoso bíblico. Sempre achei que essa solução fugiria do que Feige tinha feito até agora no MCU, evitando caracterizações exageradas e explicações sobrenaturais.

Sem falar que a personificação do Capeta num produto Disney não ia pegar bem no Cinturão da Bíblia. Cheguei a achar que trariam Dormmamu de volta por causa desta imagem no Halloween.

A antagonista veio de outro fan service dos quadrinhos, Agatha Harkness (Kathryn Hahn, de Crossing Jordan e Transparent), aqui sem a aura de uma mestre Yoda de saias e encarnada na vizinha enxerida Agnes (nome tanto da tia atrapalhada de A Feiticeira, quanto da atriz que interpretava a poderosa Endora, Agnes Moorehead).

Fazer com que a história seja sobre o luto de Wanda e não uma trama de um demônio extradimensional foi um acerto e um anticlímax: cria novas possibilidades para a personagem – já anunciada em Doutor Estranho e o Multiverso da Loucura – mas frustra que aguardava a abertura de perspectivas mais interessantes.

Isso foi criado principalmente pelas pegadinhas ao longo da série, sendo a principal a escalação de Evan Peters para fazer um Pietro alternativo. O ator havia vivido a versão dos X-Men do Mercúrio, e sua aparição fez todo mundo imaginar a aparição dos mutantes no MCU, agora que a Fox também estava sob o guarda-chuva da Disney.

Infelizmente, foi só um engana-trouxa, que fez os fãs – nós todos – de idiotas. Achei inútil e de mau gosto.

A aparição de Monica Rambeau (Teyonah Paris, de Se a Rua Beale Falasse) também causou frisson pela sua ligação com a Capitã Marvel e porque ela também ganha superpoderes. Ainda que sua trajetória na série caminhe nesse sentido, com sua biologia sendo afetada pelo campo de força do Hex e ganhando um uniforme involuntariamente, ela não completa sua transformação como Fóton ou outra de suas identidades das HQs.

Como primeiro produto em uma nova mídia, WandaVision é um abre-alas para as futuras séries da Marvel. No Halloween supracitado, aparece ao longe um boneco do Vigia, o narrador de What If..?, já anunciada para o final do ano como animação com realidades alternativas dos heróis Marvel. Já na primeira cena pós-créditos, Monica se encontra com um skrull, alienígenas responsáveis pela Invasão Secreta, outra série já programada.

Restou a última cena pós-créditos, com Wanda isolada numa cabana enquanto seu corpo astral lê o Darkhold, livro que estava em poder de Agnes, que já apareceu em Agentes da S.H.I.E.L.D, e é um poderoso artefato das HQs, capaz de invocar demônios interdimensionais.

Deve ser a ligação com o segundo filme do Doutor Estranho previsto para março do próximo ano, mas com que propósito? Resgatar os gêmeos vindos de não sei de onde que foram para sabe-se lá aonde?

Enfim, para quem chegou a esperar a chegada dos mutantes ao UCM, todas as portas abertas por WandaVision se tornaram mais chamadas para as próximas atrações, do que grandes revelações.

Agora, é esperar O Falcão e o Soldado Invernal, que estreia nesta sexta-feira, 19 de março. Aguardemos.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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