Review | O Alienista, Temporadas 1 e 2 (Netflix)

A segunda temporada de O Alienista estreou ano passado na Netflix, mas aproveitando que Daniel Brühl está on como o Barão Zemo de Falcão e o Soldado Invernal, vale a pena falar desta boa série, que muita gente nem prestou atenção.

Há um bom motivo para que esta série seja homônima do conto de Machado de Assis, que chegou a ser filmado e “novelado”: alienista era como os psiquiatras eram conhecidos no século XIX por tratar de quem sofria de alienação mental, ou seja, loucura.

A primeira temporada é baseada em best-seller do mesmo nome do escritor e historiador militar Caleb Carr; assim como a segunda é inspirada na aventura seguinte do Dr. Laszlo Kreizler, Anjo das Trevas. A produção original é da TNT americana, e chegou a concorrer a prêmios como minissérie (a produção e Daniel Brühl foram indicados ao Globo de Ouro). Foi o sucesso de público e crítica – mais a existência de um segundo romance – que possibilitaram a continuação.

Na Nova York de 1886, meninos prostituídos aparecem assassinados e mutilados, deixando a polícia chefiada pelo comissário Theodore Roosevelt (Brian Geraghty, de Guerra ao Terror) desconcertada. Com a ajuda do repórter-socialite John Moore (Luke Evans, o Gastón de A Bela e a Fera) e da intrépida aspirante a detetive Sarah Howard (Dakota Fanning, a maior estrela infantil do início do século), o médico Laszlo Kreizler começa a investigar as mortes do ponto de vista psicológico, tentando identificar o serial killer por meio de um perfil.

Daniel Brühl, ator alemão que nasceu na Espanha e que ficou conhecido com Adeus, Lênin! e Bastardos Inglórios, faz sua composição evidentemente inspirada em Sigmund Freud, mesmo que o termo psicanálise não existisse até 1900, ano da publicação de A Interpretação dos Sonhos.

Investigação

Outro personagem fixo é o ex-chefe de polícia Thomas Byners (Ted Levine, que é recorrente em viver tiras, como em Monk e The Bridge), que rejeita os métodos científicos de investigação, preferindo a intimidação e brutalidade contra os suspeitos usuais. Por outro lado, não hesita em servir aos poderosos, como o magnata da imprensa William Randolph Hearst (Matt Letscher, de Flash) ou o banqueiro J.P. Morgan (Michael Ironside, de Vingador do Futuro).

Representando a polícia científica – que ainda vai demorar décadas para prevalecer – estão os irmãos Marcus e Lucius Issacson (Douglas Smith, de Big Little Lies; e Matthew Shear, de Os Meyerovitz), especialistas forenses contratados por Roosevelt, mas que auxiliam Kreiszler em suas investigações não-oficiais.

A ambientação de uma Nova York que emerge como metrópole mundial dos ricos, ao mesmo tempo que sustenta um submundo sórdido, é muito bem explorada, como se fosse o inconsciente da cidade teimando em se mostrar para sua face respeitável.

Aparências e preconceitos que afastam possíveis amantes, como o alienista e sua governanta Mary Palmer (Q’orlanka Kilcher, de Yellowstone), assim como John e Sarah, que de coadjuvante na primeira temporada assume o protagonismo na segunda, quando já comanda sua própria agência de detetive, livre dos preconceitos das delegacias oficiais.

É interessante notar a influência da escolha de Dakota Fanning para o papel, uma atriz que vimos crescer em filmes como Uma Lição de Amor e Guerra dos Mundos, agora jovem adulta, e que tem como personagem uma mulher que descobre a sexualidade e lida com ela sem ceder à prisão das conveniências.

É o ponto alto de Anjo das Trevas, subtítulo do segundo ano da série, cuja trama central envolve o rapto de recém-nascidos, que reaparecem mortos com as pálpebras pintadas como olhos abertos.

Nesta temporada, a série seguiu a tendência do empoderamento, e já começa com um sequencia forte de Sarah tentando evitar a execução de uma mulher pobre acusada de matar seu próprio bebê.

Além de um foco maior na forma como mulheres de todas as classes eram subestimadas e vilipendiadas, as personagens femininas ganham relevância, com o próprio dr. Kreiszler tendo como interesse romântico uma igual, a também psiquiatra Karen Stratton (Lara Pulver, que foi a sensacional Irene Adler da série Sherlock).

Recomendo as duas temporadas

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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