As séries médicas sempre estiveram presentes na história da programação da televisão americana. Desde a clássica M*A*S*H (1970-1983), até as populares ER: Plantão Médico (1994-2009) e Chicago Hope (1994-2000), o cotidiano de um hospital e os dramas de seus médicos e pacientes sempre despertaram a curiosidade do público, fazendo com que vários programas se tornassem líderes de audiência.
Ao longo das décadas o gênero se popularizou e nos anos 2000 as emissoras continuaram investindo pesado na temática. Entre as séries mais assistidas destacaram-se House (2004-2012) e o fenômeno Grey’s Anatomy, presente desde 2005 e com sua 17ª temporada prestes a estrear.
Nos últimos anos, cada grande emissora americana apresentou pelo menos uma série médica em sua programação. Atualmente no ar, The Good Doctor, Chicago Med, The Resident e New Amsterdam são alguns exemplos de séries que disputam a atenção dos fãs.
No Brasil, o tema nunca foi popular e poucos projetos se destacaram. Estrelada por Francisco Cuoco, Obrigado, Doutor representou o gênero em 1981, e em 1998 foi a vez de Mulher, com Eva Wilma e Patrícia Pillar encabeçando o elenco. Ambas exibidas pela Rede Globo e com pouco tempo na tela.
Já com a popularização dos canais pagos e com parcerias com produtoras independentes, Unidade Básica foi destaque na Universal TV, que exibiu no começo desse ano a segunda temporada do drama médico.
A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro
A história de Sob Pressão começa em 2016, com o lançamento do longa-metragem de Andrucha Waddington. Livremente inspirado no livro Sob Pressão: A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro, do cirurgião torácico Marcio Maranhão em depoimento à jornalista Karla Monteiro, o filme debutava nas telas dos cinemas. A tímida bilheteria não apagou os elogios da crítica e um ano depois o argumento do filme serviu de base para a criação da série.
Em 2017 estreava na Rede Globo, em parceria com a Conspiração Filmes, a primeira temporada de uma série que se tornaria um sucesso entre público e crítica. Criada por Renato Fagundes e Jorge Furtado, e mantendo Andrucha na direção, não demorou para que o seriado caísse nas graças do público, virando fenômeno de audiência com grande repercussão nas redes sociais. O elenco encabeçado por Júlio Andrade e Marjorie Estiano também foi mantido e ambos proporcionaram grandes atuações.
Ambientado em um hospital público, a série revela os dramas de seu pacientes, que mal conseguem ser tratados devido a precariedade da saúde pública, enquanto os médicos são retratados como super-heróis que se desdobram para não deixar que seus pacientes morram ou não recebam atendimento diante de um sistema que não privilegia comunidades carentes, que mais precisam de tratamentos.
A batalha enfrentada pela equipe médica divide a atenção com dramas particulares dos personagens. Dilemas éticos, traumas do passado, saúde mental, honestidade, são alguns temas presentes dentro e fora do hospital com os quais os personagens lidam.
Com três temporadas completas exibidas na Rede Globo e disponíveis no Globoplay, a quarta temporada estava prevista para 2020, mas assim como tantas outras produções, as gravações foram adiadas diante da pandemia. Com as atividades voltando devagar, e com rigorosos protocolos sanitários, Sob Pressão precisava deixar registrado o atual cenário que atingiu gravemente a todos.
Hospital de Campanha
Mesmo com todas as produções paralisadas desde março, os Estúdios Globo abriram suas portas para receber os profissionais que criariam o ambiente necessário para produzir dois episódios especiais dedicados ao Covid-19, que foram gravados ao longo de vinte dias dentro de um hospital de campanha desolador com proporções reais, montado dentro da Rede Globo.
Sob Pressão: Plantão Covid continua a história do final da terceira temporada. Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) voltam ao Rio de Janeiro depois de um apelo de Décio (Bruno Garcia), que está comandando um hospital de campanha e precisa da ajuda dos renomados médicos.
A realidade de um vírus desconhecido, a falta de recursos e com a própria vida em risco, médicos e pacientes sofrem as consequências de algo ainda tão inexplicável.
Assim como já é conhecido por aqueles que acompanham a série, o nível de realismo se faz bastante presente neste especial. A reprodução do hospital de campanha é feita nos mínimos detalhes. Figurantes e atores estão bem entrosados, o que proporciona grandes planos-sequência em meio ao caos que aumenta a tensão.
Enquanto jornalistas ficaram longe de hospitais, por segurança, impossibilitados de registrar uma realidade tão triste, a série cumpre essa missão e coloca o espectador dentro dos leitos, dando uma ideia de toda a dificuldade enfrentada diariamente pelos profissionais de saúde, agora com o agravante da pandemia.
Atuações
O roteiro se divide em duas partes, deixando de lado a conhecida premissa da série. A história explora as inseguranças que marcaram nossas vidas quando ainda era muito difícil prever algo sobre esse vírus.
Os personagens ganharam histórias emocionantes e bem desenvolvidas ao longo das duas partes, fazendo uma ponte entre a ética hospitalar com a intenção de ajudar o próximo. A série não deixou também de falar daqueles que ainda ignoram os efeitos da pandemia, sem se preocupar com o próximo.
No primeiro episódio, Marjorie Estiano foi o grande destaque. Em três temporadas, já vinha demonstrando com grande intensidade todas as nuances de sua personagem. Indicada ao Emmy Internacional, a atriz é sem dúvida uma das melhores de sua geração e consegue com muito pouco entregar toda emoção e drama que envolve sua personagem.
A cena final do primeiro episódio partiu os corações de quem assistiu, transformando o momento em um dos assuntos mais comentados do Twitter.
Julio Andrade viu seu personagem, o Dr. Evandro, ser vítima da Covid-19. Internado, sendo obrigado a usar o respirador artificial e a lutar pela vida, seu personagem exemplificou as dezenas de médicos que também passaram pela mesma situação, onde arriscaram diariamente suas vidas para salvar a de outras pessoas.
Flashback
Um recurso inédito na série foi o uso do flashback no segundo episódio, que mostrou o passado de Evandro (Ravel Andrade) com sua mãe Penha (Fabiula Nascimento). Assim, o público conheceu alguns dos motivos que fizeram o jovem sem rumo se tornar um grande médico. Stepan Nercessian volta como o médico Samuel, mentor de Evandro.
Defendendo a saúde pública, a série cumpre o seu papel de denunciar a corrupção, o abandono e o difícil acesso a direitos básicos garantidos pela Constituição. Problemas que ficaram ainda mais evidentes diante da crise gerada pela pandemia.
E quando tudo já parecia perfeito, o final ainda guardava uma música inédita de Chico Buarque e Gilberto Gil em homenagem aos profissionais da saúde na linha de frente contra o coronavírus, a quem a edição especial da série foi dedicada.
A todos estes profissionais, nosso muito obrigado!
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