The Last Of Us, produção televisiva que adapta a obra homônima dos videogames, se passa em um mundo pós-apocalíptico onde uma pandemia causou a transformação de grande parte da população em criaturas mortais.
A série segue Joel (Pedro Pascal), um sobrevivente endurecido que é contratado para levar Ellie (Bella Ramsey), uma jovem imune à infecção, para um grupo de resistência conhecido como os Vaga-Lumes.
A jornada perigosa pelo país transformado pela pandemia desafia a relação entre Joel e Ellie e testa sua capacidade de sobrevivência em um mundo hostil e violento.
Produzida pela HBO, o seriado televisivo conta com a participação do criador do jogo, Neil Druckmann, como produtor executivo.
Mas desde o seu anúncio até agora, com a conclusão da primeira temporada, a pergunta que não quer calar é:
THE LAST OF US É O FIM DA MALDIÇÃO DAS ADAPTAÇÕES RUINS DE GAMES?
Um primor técnico, a série de nove episódios entrega uma experiência bastante semelhante aos games. Os personagens, em sua essência, são bastante semelhantes, bem como o enredo da adaptação.
Aliás, é sempre bom frisar que adaptações implicam alterações, por se tratarem de mídias diferentes. E aqui não haveria porque não ser assim: algumas decisões de roteiro causaram incômodo aos fanáticos, mas para uma experiência analisada enquanto ela mesma, contribuíram de forma bastante coerente para o caminhar da história.
Sobre as atuações, tratar do trabalho primoroso que Pedro Pascal e Bella Ramsey nos entregam é necessário. Em especial por se tratar de um latino, considerado por uma fanbase no TikTok um “daddy dos sonhos”, e da jovem e talentosa atriz, que sofreu com inúmeros comentários maldosos por sua aparência. Tem que ter um babaca, né?
Não podemos deixar de destacar positivamente pontos como a trilha sonora pontual e as escolhas de fotografia que, delicadamente, acompanham a transformação de nossa dupla principal.
Saldo bastante positivo, não?
MENOS INFECTADOS, MENOS PERIGO?
Um ponto que incomodou bastante os fãs dos games (que, na verdade, podem continuar com os games, que estão intactos independentemente do que a série fizesse) é a falta de ação, e de… ameaças físicas, por assim dizer.
Aliás, é engraçado notar que conforme a trama avança, a ameaça dos infectados parece ser menor, ou se mostra menos presente. Diferente do que víamos nos primeiros episódios, quando flashes nos alertavam sobre o início do pânico a níveis maiores, tomando conta das vizinhanças, de países inteiros.
Na verdade, os níveis de perigo aumentam: enquanto não havia qualquer laço entre os protagonistas, nada demais a perder – por isso era fundamental mostrar o mundo todo colapsando. Mas conforme o escopo do roteiro se concentrou em nossos dois personagens principais, um passou a ser, de maneira quase não metafórica, o mundo do outro: então, qual o maior perigo que esse mundo poderia apresentar, que não perder a pessoa amada?
E enquanto somos forçados a encarar essa jornada de solidão e companheirismo, amor e ódio, egoísmo e altruísmo, vamos perdendo a noção de herói e vilão. O que vale, é se manter vivo – seja como for preciso.
MENTIRAS CONFORTÁVEIS OU VERDADES INCÔMODAS?
Note que, no decorrer dos nove episódios, alguns personagens passam pelo caminho de Joel e Ellie como verdadeiros criminosos. Cruéis, mentem e enganam para conseguir seus objetivos, que podem incluir a morte de quem quer que esteja em seu caminho.
Mas não são só eles que o fazem, você já notou isso.
Sem se aprofundar em muitos spoilers, vamos nos concentrar no último episódio, que começa e termina com uma mentira: ambas, para proteger um filho (que, aliás, Joel já perdeu uma vez). Ambas, para proteger alguém que se ama. Nos dois casos elas não se sustentam diante de quem as ouve. Mas compreender o desespero nas palavras de quem as profere, parece servir como uma desculpa aceitável.
Agora, quem não faria diferente?
Eu, como pai, fui atingido em cheio por esse dilema – da mesma maneira que o game, aquele imaculado, trouxe há alguns anos.
Aliás, as questões que permeiam o consciente e o inconsciente do espectador vão além, e nos fazem pensar: até que ponto Joel fez o que fez por amor à Ellie, e até que ponto tudo foi porque ele simplesmente quis?
Como diziam os Vagalumes: busque a luz. Mas o que fazer com ela, vai de cada um, que pode admirá-la, compartilhar com os demais, e até… tomá-la para si. Afinal, quantas vezes não justificamos nossos atos, comandados pelos mais íntimos e entranhados desejos, como uma demonstração (falsa) de abnegação?
A série não se propõe a responder isso, em momento algum. E nem o deveria. É aquele tipo de resposta que só nossa bagagem e vivência constrói, de forma individual, depois do inferno que é compreender que o inferno não são os outros.
Os nove episódios da primeira temporada de The Last Of Us estão disponíveis na HBO Max, serviço de streaming da HBO.
+ Ainda não há comentários
Add yours