Review | Xógum – A Gloriosa Saga do Japão (Star+ e Disney +)

A recém encerrada minissérie (será?) Xógum – A Gloriosa Saga do Japão (subtítulo bobo) cumpriu o que esperávamos ao fazer o review dos primeiros episódios. Como disse anteriormente, a produção é baseada no romance de James Clavell, que já havia sido adaptado para a TV em 1980. Li o livro e assisti à minissérie estrelada por Richard Chamberlain e Toshiro Mifune, e a versão atual é superior em vários aspectos.

Para começar o novo Toranaga, Hideyuki Sanada (que é escalado sempre que o Ocidente precisa de um samurai convincente, como em Westworld e John Wick 4) interviu no roteiro e fez de seu personagem o protagonista, fazendo do John Blackthorne de Cosmo Jarvis uma mera ponte entre o ponto de vista europeu e o japonês.

Isso fez com que o romance com a aristocrata Mariko, Anna Sawai, se tornasse mais verossímil e não dominasse a narrativa. Clavell, a despeito da boa pesquisa feita para seus romances, era um típico escritor de best-sellers, sempre de olho na possível venda para o cinema ou televisão. Então, seu herói era o inglês, retratado com um intrépido marinheiro, cheio das manhas, sedutor e simpático.

Mas vamos à trama: em 1600, um navio holandês aporta no Japão, tendo como piloto o inglês John Blackthorne. O objetivo era romper o monopólio de comércio exercido pelos portugueses. Inicialmente feito prisioneiro por vassalos de Kashigui Yabu (Tadanobu Asano, conhecido no Ocidente como Hogum, um dos amigos de Thor), logo ele é adotado pelo poderoso daimyo Yoshi Toranaga, um dos cinco conselheiros que governam o Japão após a morte do taikô Nakamura, que havia finalmente unificado a nação após um século de disputas feudais.

Para conseguir se comunicar com o europeu, ele destaca sua nobre vassala Mariko, uma cristã que aprendeu português com os jesuítas. Fica subentendido que, quando se fala em inglês, na verdade é o idioma de Camões. Todo elenco japonês fala na versão antiga da língua, cheia de salamaleques e sutilezas.

Tridimensionalidade

Quando a história começa, Toranaga e os demais conselheiros são reféns de Ishido (Takehiro Hira, de Monarch: Legado de Monstros e da ótima série nipo-britânica Giri/Haji, disponível na Netflix, que só eu devo ter visto), um burocrata que se tornou senhor do Castelo de Osaka, erguido pelo próprio taikô, e que aspira se casar com a mãe do herdeiro, a ardilosa Ochiba (Fumi Nikaidô), filha do finado ditador Goroda e amiga de infância de Mariko.

No livro e na série de 1980, personagens ocidentais como o padre Alvito (Tommy Bastow) e o piloto Vasco Rodriguez (Nestor Carbonel) tem maior destaque, mas aqui aparecem esporadicamente, deixando o Blackthorne de Cosmo Jarvis praticamente sozinho em meio a um – ótimo – elenco japonês.

Além de Hideyuki Sanada, Tadanobu Asano (que dá a seu Yabu uma tridimensionalidade que ele não tinha originalmente) e Anna Sawai (a única não nascida no Japão – é neozelandesa – mas que se sai muito bem) quem também se destaca é Fumi Nikaidô como Ochiba, lembrando as damas manipuladoras de Kurosawa em Trono Manchado de Sangue (Isuzu Yamada) e Ran (Mieko Harada).

Possivelmente o maior hype do Star+ na temporada, Xógum gerou expectativas de se tornar um novo Game of Thrones, com a diferença de que, enquanto a saga de George R.R. Martin é vagamente inspirada na Guerra das Duas Rosas inglesa, o romance de James Clavell é inteiramente baseado na ascensão ao poder de Ieasu Tokugawa, o criador da dinastia que governaria o Japão até o século XIX, e estabeleceria um longo período de paz e estabilidade.

O subtítulo A Gloriosa Saga do Japão é tolo porque é apenas um episódio da longa história do País do Sol Nascente.

Mas, se o livro acaba mais ou menos como a série atual (também apenas sugerindo o desenrolar da batalha de Sekigahara), há fatos históricos suficientes para sustentar uma segunda temporada, ainda que os showrunners Justin Marks e Rachel Kondo tenham negado a intenção.

Mas sabemos que o dinheiro fala mais alto, e Hideyki Sanada, que atingiu o auge de sua carreira neste trabalho, já se disse disposto a continuar como Torananga. Uma eventual adaptação de outro livro de Clavell implicaria num elenco novo e, se for um dos que são localizados na China, Tai-Pan e Casa Nobre, envolveriam questões delicadas como Hong Kong.

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