Review | Mamonas Assassinas: O Filme

Cinebiografias se tornam ferramentas poderosas quando “emprestam” de seus personagens centrais, histórias de força e superação que merecem ser contadas para o maior número de pessoas. Repleto de drama, suspense e – na maioria das vezes – redenção e sucesso, tais projetos são extremamente perigosos por retratarem ídolos, que atravessam gerações devido ao legado do que seu talento deixou para o mundo.

Mamonas Assassinas: O Filme, em cartaz nos cinemas, estreou envolto em muita expectativa, uma vez que a saga do quinteto de Guarulhos reúne todos os elementos necessários para um drama de primeira grandeza. No entanto, infelizmente, não é o que vemos na telona.

A produção tenta contar a história de Dinho (Ruy Brissac), Júlio (Robson Lima), Bento (Alberto Hinoto), Sérgio (Rhener Freitas) e Samuel (Adriano Tunes), que após cinco anos de perrengues, conseguem alcançar o grande público ao usar toda sua irreverência no palco.

Basta fazer as contas: são cinco anos de batalha para apenas sete meses de sucesso. Nesta frase, está resumido tudo o que hábeis roteiristas precisariam para criar uma trama impactante. Precisariam. Pois nesta produção em cartaz nas telas de todo Brasil, o que vemos está muito longe disso.

Mambembe

Basta uma rápida pesquisa para descobrir que este projeto daria, inicialmente, origem a uma minissérie de cinco capítulos na Rede Record. No entanto, a ideia da série foi abandonada e deu origem ao longa-metragem, que se utiliza do que fora gravado para a televisão para alcançar seus 95 minutos de exibição.

O resultado é nada menos que desastroso. A origem da banda Utopia, que reuniria pela primeira vez a formação dos Mamonas, é resumida em comícios montados no quintal de algum integrante da produção.

A luta de seus integrantes para tornar o disco de estreia uma realidade se torna pretexto para que os atores mostrem seus corpos e a azaração aconteça como em um projeto infantojuvenil (sem qualidade).

O produtor Rick Bonadio parece um midas da música, mesmo que na “vida real” tenha alcançado o estrelato justamente ao produzir e empresariar os Mamonas.

E o que dizer das lambanças amorosas dos irmãos Reoli, causadas por uma fã interesseira? Ou da paixão repentina de Dinho por uma mulher que passa na rua e que depois tenta convencê-lo a abandonar a banda e seguir carreira solo? Quem conhece, diz que nada disso existiu.

Nem mesmo a viagem dos Mamonas para os Estados Unidos, para mixagem do álbum de estreia, ganha destaque. E quando a música dos Mamonas ganha as rádios, a festa está pronta, certo? Pois a cena é tão sem graça que fica impossível se empolgar com algo.

Creuzebek

Tecnicamente falando, Mamonas Assassinas: O Filme deixa a desejar. A montagem é inexistente e no chão da ilha de edição deve ter ficado o filme (ou série) que realmente importa. Os atores parecem querer oferecer o seu melhor, mas o roteiro não ajuda e as falas não criam empatia com o público. Já o elenco de apoio está repleto de “gente famosa”.

Os personagens parecem os mesmos no início, meio e final do filme, sem qualquer vestígio de evolução. Quando o filme se aproxima do fim e os Mamonas conseguem, enfim, tocar no Ginásio Thomeuzão, em Guarulhos, Ruy Brissac emula o desabafo de Dinho, sem conseguir atingir uma centelha do que significou aquele acontecimento.

Acertos

Se existem acertos aqui, está na maneira com que as músicas são tratadas. As faixas que integram o filme foram regravadas com os vocais de Ruy, para garantir autenticidade às cenas em que a banda se apresenta ao público. E o resultado é muito bom.

Aliás, foram nesses momentos em que me emocionei. “Rever” os Mamonas em ação dispara uma série de gatilhos para quem viveu tudo aquilo de perto. Para quem foi ao show dos Mamonas e vivenciou aquele caos maravilhoso. Agora, fica a pergunta: nos dias de hoje, os Mamonas conseguiriam cantar o que cantavam no final dos anos 90?

Mamonas Assassinas: O Filme não explora o acidente aéreo que vitimou os cinco integrantes da banda em 2 de março de 1996 e termina apenas com informações sobre o fato. Ponto positivo. No entanto, ainda sigo aguardando um filme que honre a breve, mas intensa, história do quinteto de Guarulhos.

Quer uma dica? Assista ao documentário Mamonas para Sempre (2009), disponível no Globoplay.

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