Após O Resgate do Soldado Ryan, Steven Spielberg e Tom Hanks se uniram para produzir Band of Brothers, uma das melhores coisas que a TV já fez e de longe a melhor série de guerra, contando a história da Easy Company, que esteve nas principais operações em que os americanos se envolveram no front europeu da 2ª Guerra Mundial. Nove anos depois, eles lançam The Pacific, focando nas batalhas contra os japoneses. As duas minisséries foram ao ar pela HBO (e estão disponíveis na Netflix), mas desta vez Mestres do Ar saiu pela Apple TV+, que anda abrindo o cofre para produções caras com elenco de peso.
O foco aqui é o 100º Grupo de Bombardeiros, chamado de Bloody 100th (Centésimo Sangrento) por causa da alta taxa de baixas em suas operações. Como nas produções anteriores, os personagens foram baseados em pessoas reais (em Band of Brothers há depoimentos dos militares envolvidos, o que já não é possível mais de duas décadas depois). No caso, a dupla de protagonistas são os majores aviadores John “Bucky” Egan (Callum Turner, uma das apostas de Roberto Sadovski e Isabela Boscov para próximo James Bond) e Gale “Buck” Cleven (o “Elvis” Austin Butler). Mas o narrador da história é major navegador Harry Crosby (Anthony Boyle, de Tolkien), autor do livro em que a série se inspira. Outro personagem em destaque é o piloto judeu Robert “Rosie” Rosenthal (Nate Mann, de Licorice Pìzza) e Barry Keoghan, de Saltburn e Os Banshees de Inisherin, faz uma participação especial.
A diferença da mortalidade entre as tripulações de bombardeiros britânicos e americanos residia no fato de que a RAF optava por missões noturnas, com menos chance de abate por parte das baterias anti-aéreas alemãs mas também com maior chance de danos colaterais – leia-se, baixas civis – ; enquanto os ianques preferiam atacar de dia, submetendo-se não só à melhor mira dos flanks (canhões de 88 mm) como aos caças da Luftwaffe, mas com maior assertividade. Óbvio que a mensagem subliminar é que os “mocinhos” americanos queriam evitar bombardear civis, enquanto os ingleses – com sangue nos olhos após anos de ataques alemães às suas cidades – não estavam nem aí.
Mais ao final, há a participação dos aviadores Tuskegee, grupamento composto só por negros, que começam pilotando os obsoletos P-40 mas que ficaram famosos à bordo dos Mustang P-51. O encontro dos pilotos afro-descendentes com os caras do 100º é meio forçado? É, mas ainda que seja um acréscimo de diversidade por conta dos tempos modernos, não deixa de ser uma lição de história para a maioria inculta.
A produção é caprichadíssima: foram construídas três réplicas, uma maior, para que o interior pudesse acomodar câmeras, microfones e outros equipamentos para as filmagens. Foi usada a tecnologia The Volume, usada em The Mandalorian, em que ao invés da tela verde, é usado um painel LED em 360 graus em que são projetadas a imagens às quais o elenco reage, criando uma sensação maior de realidade. O próprio Steve Spielberg afirmou que é a maior produção da qual participou,
O objetivo dessa trilogia sobre a 2ª Guerra Mundial é homenagear os heróis que participaram da última luta em que os americanos podem se orgulhar de terem sido os good guys. Há muito clichê, momentos piegas (onde diabos Egan acha uma bandeira americana num campo de prisioneiros?), a inevitável cena de Holocausto (Spielberg…), citações a outras obras audiovisuais, como o evento que originou o clássico Fugindo do Inferno e, durante a marcha de prisioneiros no final da guerra, eles passam por um Stalag 13, que era o número da instalação onde se passava Guerra, Sombra e Água Fresca (essa é só para quem tem 50 ou mais).
Mas tudo é feito dentro dos padrões de qualidade de Hanks e Spielberg, as cenas de batalha no céu são impressionantes e emociona como os velhos filmes de Segunda Guerra Mundial. Além, é claro, do divertido bromance de Callun e Austin.
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