Review: Ponto de Virada – A Bomba e a Guerra Fria (Netflix)

Além dos documentários true crimes, que tanto fazem sucesso hoje em dia, a Netflix também tem produções mais relevantes, como as do selo Ponto de Virada, de Brian Knappenberger. A primeira, 11/09 e a Guerra Contra o Terror, é de 2021; e a segunda, A Bomba e a Guerra Fria chegou há pouco na plataforma de streaming.

Essa nova série aproveita a onda criada pelo vencedor do Oscar Oppenheimer, e conta a história da corrida armamentista entre EUA e URSS a partir de então, que parecia ter acabado com a queda do Império Soviético em 1991, mas que na verdade vem sendo realimentada por Vladimir Putin, especialmente no impasse da invasão da Ucrânia. Aliás, todos os prólogos mostram momentos do ataque russo que começou em fevereiro de 2022, há dois anos, portanto.

Mesmo tendo um ponto de vista americano – inevitável – Ponto de Virada não exime dos EUA da responsabilidade em patrocinar golpes de Estado na Guatemala e Irã – os casos mais bem-sucedidos do ponto de vista da CIA – e dos fiascos das tentativas de promover levantes na Ucrânia (que custou a vida de muitos “agentes” nativos treinados por Washington e enviados de volta ao país natal) logo após a II Guerra e a invasão da Baia dos Porcos, em Cuba. Vietnã, o golpe no Chile e o apoio à nossa e à ditadura argentina não são citados, pois são apenas nove episódios. Mas, evidentemente, os crimes de Stálin recebem um episódio inteiro, incluindo o polêmico Holodomor, ou o genocídio ucraniano pela fome, nos anos 30.

Além dos autores que escreveram sobre momentos do processo e acadêmicos, há os depoimentos de gente que esteve na linha de frente, como a ex-secretária de Estado Condoleeza Rice; Daniel Elsberg (que divulgou os Documentos do Pentágono); Pavel Palazchenko (intérprete de inglês de Mikhail Gorbachev); Volodimir Zelenski (presidente da Ucrânia, sem bem que virou figurinha fácil); o filho do casal Rosemberg (executados por espionagem em meio à paranoia anti-comunista nos EUA); diversos diplomatas e políticos; sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, etc.

 

 

Há momentos históricos cruciais como quando Kruschev livrou a cara de Kennedy na Crise dos Mísseis de Cuba, ao não revelar que os EUA retiraram as armas balísticas da Turquia como contrapartida; ações individuais de oficiais de baixa patente que evitaram o holocausto nuclear ao não reagirem imediatamente a um mal funcionamento dos sensores de alerta de ataque das superpotências; Reagan baixando a bola do seu discurso belicista após assistir The Day After (telefilme ianque que aqui passou nos cinemas); Gorbatchev criando a Glasnost após a tragédia – e sucessões de erros –  em Chernobyl; o Muro de Berlim (foto) que cai quase por acaso, pegando de surpresa até a cúpula do governo americano; a coragem pessoal de Boris Yeltsin que evitou que os linha-dura soviéticos dessem o golpe na URSS em 1991 (se ele posteriormente virou um bêbado e inventou Putin, é outra história); e. é claro, a blitzkrieg russa que deu errado na Ucrânia, entre outros motivos porque Zelenski decidiu ficar e não dar no pé, como sugeriu Biden.

É uma produção importante para quem quer entender a história e de como as consequências da bomba de Oppenheimer ainda pairam sobre nós, oito décadas depois.

 

 

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