A Bruxa de Blair (1999) pode não ser uma unanimidade entre as pessoas que gostam, especificamente, do cinema de terror. Muita gente torce o nariz para as atuações, para o roteiro um pouco nebuloso e para o esquema found footage de filmagem, aquele de imagens feitas com câmera na mão que são encontradas. No entanto, na minha opinião, o primeiro longa metragem da franquia tem seu lugarzinho naquele documentário sobre as icônicas produções da história do terror nos cinemas exatamente por causa deste último item citado (pra não citarmos a ótima campanha viral que fez todo mundo acreditar que se tratava de um caso real). Há 17 anos atrás, as câmeras tremidas, com balanço frenético e com closes que permitem ver os pelos mal aparados do nariz do personagem eram novidades. E uma novidade muito bem vinda, propondo uma nova abordagem em filmes de terror/suspense, já que aproximam a narrativa do factível, do real. Mas isso era 1999. Em 2016, o recurso se esgotou e Bruxa de Blair (2016),  sequência do longa original, falhou em reinventar o estilo.

O filme se passa em 2014, 20 anos após os acontecimentos do longa original e conta a história de James (James Allen McCune, da série Shameless), irmão de Heather, personagem do primeiro filme que desapareceu após entrar na floresta em busca de saber mais sobra a lenda da Bruxa de Blair. Ao ver um vídeo publicado na Internet sobre o caso da irmã e convencido de que sua irmã ainda está viva, James se une a outros amigos para adentrar novamente na floresta. O resultado você já deve desconfiar.

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Dirigido por Adam Wingard e escrito por Simon Barret (que ocupam as mesmas posições em Você é o Próximo), Bruxa de Blair tenta propor uma nova abordagem aos filmes de câmera na mão com a utilização dos recursos tecnológicos que 2016 proporciona. A equipe de universitários que explora a floresta tem todo um arsenal de filmagem e tecnologia à mão: câmeras auriculares (daquelas que parecem um fone de ouvido para atender chamadas em celulares), drone com GoPro, GPS, rádio transmissores etc etc. O problema é que Wingard não soube explorar todas estas alternativas e retirar o melhor delas. No corte final, o que se vê é um filme cheio de tremedeira, cortes secos que te impedem de ver o que realmente acontece em cena e som alto nos momentos daquele susto que todo mundo gosta de pregar. Wingard perdeu a oportunidade de utilizar os novos recursos para ambientar o espectador. Nas vezes que o drone sobe, ele não nos entrega nada além de belas imagens feitas pela GoPro, que não acrescentam à história ou mostram algo que espreita pela floresta.

Dito isso, fica evidente que Bruxa de Blair não adiciona nada ao estilo de câmera e o mesmo acontece com a história da lenda. Apesar de ser uma continuação direta do primeiro filme (ignoraram o segundo, A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras, graças ao deus que você quiser), o roteiro de Barret apenas utiliza o que o primeiro longa já havia disseminado a respeito da história. Não há nada novo, dando a impressão que, na verdade, a tentativa foi de criar uma refilmagem. O mesmo roteiro não sustenta os personagens que não conseguem manter um padrão de comportamento dada as situações que enfrentam. Em determinado momento da “película”, cinco minutos após testemunhar o episódio mais assustador da trupe até então, James parecia sereno e calmo em meio a floresta escura. Por isso, não há sentido de urgência no filme, algo essencial para um exemplar de terror.

Ao final dos 90 minutos, a impressão que fica é que Bruxa de Blair tentou se apoiar demais no sucesso e culto ao primeiro filme e esqueceu de criar a sua própria identidade, não deixando de homenagear seu antecessor. Então, se você ver por aí uma floresta suspeita, tente não entrar novamente, por favor.

por Rodrigo Gatti

Jornalista que não faz mais jornal. Nem é tão nerd, já que sabe até dançar. Lembra com avidez da época em que alugava De Volta para o Futuro nas famigeradas locadoras. Filho da era 16 bits, tem saudade do tempo em que sua maior preocupação era saber se o combustível do carro vermelho em Top Gear iria durar até o final da corrida. Hoje, seu maior problema é pagar contas com o salário de jornalista.

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