Review | O Shaolin do Sertão

Após o grande sucesso de Cine Holliúdy, filme falado em ‘cearencês’ devidamente legendado para português, Halder Gomes continua explorando sua terra natal e apresenta agora O Shaolin do Sertão.

Cine Holliúdy abriu as portas para Halder e o diretor agora conta com mais recursos para concretizar sua nova empreitada. No novo filme, revivemos os anos 80 e a popularidade dos filmes de kung fu, muito devido à chegada do VHS. Na cidade de Quixadá acompanhamos a rotina do sonhador Aluísio Li (Edmilson Filho), padeiro obcecado por artes marciais que vê sua vida mudar quando é convencido a enfrentar o temido Tony Tora Pleura (Fábio Goulart) e defender a honra do município cearense provando seu valor.

O Shaolin do Sertão não deve ser levado a sério em momento algum. Toda sua trama é escrachada e pode ser encarada como uma sátira aos filmes de artes marciais, mas com uma pegada bem regional. É mais lúdico e menos realista. A trama toda em si rende momentos hilários, mais por causa do elenco do que propriamente pela história. Com personagens estereotipados, mas também muito engraçados, o filme ganha um apelo comercial necessário e acertado para encontrar o sucesso em todas as regiões.

Halder tem à disposição, mais uma vez, o parceiro Edmilson Filho, que consegue de novo fazer graça, num personagem que remete a comparações – em pequena escala – com Mazzaropi. O leque de opções do diretor com o elenco é grande, alguns desempenhos beiram a perfeição tamanha a naturalidade. O que dizer, por exemplo, do cantor Falcão interpretando um chinês utilizando métodos pouco ortodoxos para treinar o lutador – só essa descrição já parece engraçada – ou Frank Menezes na pele do prefeito da cidade relembrando Odorico Paraguaçu de O Bem Amado?

Fafy Siqueira e Dedé Santana têm participações menores, mas nem por isso menos importantes. Os coadjuvantes, mesmo com poucas falas, são engraçados por natureza e arrancam risos só com trejeitos e olhares. O destaque maior fica por conta do garoto Igor Jansen, um legítimo cearense de fala rápida, ajudante do lutador e dono de boas ideias.

Mesmo sofrendo com um ritmo irregular e momentos pouco inventivos, o filme apresenta um visual curioso e original ao misturar características do sertão com elementos chineses. A sequência de abertura – passada na imaginação de Aluísio – é brilhante, sinal de que Halder sabe fazer comédia, rindo de suas referências e de sua cultura.

O Shaolin do Sertão busca certa originalidade em seu material, mesmo sofrendo inevitáveis comparações com Cine Holliúdy, tendência essa que deve perseguir Halder por um tempo. Mas o diretor não parece preocupado e já anunciou continuações tanto de Cine Holliúdy como de Shaolin. O sucesso dos longas demonstra que o Brasil sabe fazer cinema longe do eixo Rio-São Paulo e tem capacidade para exportar a cultura local, tornando-a acessível para todas as plateias. Quando um material é realmente bom, não enfrenta obstáculos: nem da cultura, nem da linguagem.

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