Review | Cemitério Maldito

Começo esse texto com uma frase de Stephen King, presente no livro A Dança Macabra, onde ele fala um pouco sobre os amantes de terror e a “arte” de assistir a filmes de terror.

Não sou nenhum apologista da produção cinematográfica de baixa qualidade, mas quando você passa 20 anos ou mais caçando diamantes, ou lascas de diamantes, em meio a filmes B, chega à conclusão de que se não mantiver o senso de humor você está liquidado. Quando você tiver visto uma boa quantidade de filmes de terror começará a desenvolver um gosto por filmes bem m****.”

Dito isso, King teve muitas de suas obras adaptadas para o cinema, por isso é normal que estas adaptações variem entre horríveis, ótimas, clássicas, datadas, fiéis aos livros ou não. Entre essas inúmeras, Cemitério Maldito é uma delas.

O livro ganhou sua primeira adaptação em 1989, dirigido por Mary Lambert e, se visto hoje pela nova geração, com certeza não passará das análises de engraçado, trash e bizarro. O que não deixa de ser.

Você teria medo de um bebê desse? (O garotinho Gage em Cemitério Maldito, 1989)

Um remake em boa hora

Realmente o tempo não foi generoso com o primeiro Cemitério Maldito, que acabou virando um clássico cult para os fãs do horror, e é justamente por este (mau) envelhecimento que o remake dirigido pela dupla Kevin Kölsch e Dennis Widmyer vem bem a calhar.

Embora sejam desconhecidos da maior parte do público, os diretores não são novatos no terror. Kolsch e Widmyer já haviam dirigido e escrito os roteiros do terror psicológico Starry Eyes (2014) e do segmento Dia dos Namorados na ousada e divertida antologia de terror Holidays (2016).

Dessa vez, coube a eles adaptarem o roteiro de Jeff Buhler, o mesmo de Maligno. Escolha acertada. Embora Cemitério Maldito seja um filme de estúdio que ainda se escora em um clássico, a dupla fez o possível para não torná-lo um remake quadro a quadro do original, criando bons momentos de sustos nada previsíveis, um visual sombrio muito bem fotografado por Laurie Rose (Operação Overlord) e seguindo rumos diferentes do filme de 1989.

Na trama, a família Creed se muda para uma nova casa localizada nos arredores de um antigo cemitério para animais de estimação. O que eles não sabem é que o local é uma barreira entre dois mundos e que será ultrapassada pelo pai Louis (Jason Clarke, de A Maldição da Casa Winchester), após ouvir histórias do vizinho Jud Crandall (John Lithgow, de Síndrome de Caim), causando um horror inimaginável que os fará repensar se, às vezes, não é melhor estar morto.

Há um grande cuidado por parte do roteirista Buhler em fazer das escolhas e dos rumos deste novo filme mais verossímeis e menos absurdas que as do clássico. Se lá o visual de telefilme aliado à morte e retorno do garotinho Gage – que não devia ter nem três anos – faziam do filme um trash exagerado no gore, aqui todos esses “pontos fora da curva” são ajustados para cortar os excessos e funcionar para as audiências mais exigentes e menos inocentes de hoje em dia.

Pra começar, aqui não é uma criança que mal consegue andar direito que se transforma em um zumbi assassino da noite para o dia. Há um desenvolvimento nada apressado do laço entre Louis e a filha Ellie (Jeté Laurence, de Boneco de Neve) o que faz com que sua morte seja bastante dolorosa (não que a de Gage no original não seja), e sua volta como uma zumbi assassina é muito mais aceitável, embora ainda seja perceptível lampejos de uma comicidade do “terrir” nos olhares e na satisfação de Ellie ao matar suas vítimas. É divertido sem passar do tom.

O fim justifica o remake

Poderia falar também do final inesperado, mas a subversão da história também pode ser analisada em outras partes do filme sem que eu entregue o final, como na cena do atropelamento, arquitetada de uma forma muito inteligente e causando uma quebra de expectativa para quem já viu o filme original. Quem não viu também irá se impressionar com a brutalidade da sequência.

Aliás, este novo longa não se sujeita a poupar o espectador do sangue, mas também não vá esperando uma carnificina. Ele é contido e, ainda assim, funcional. Há cenas de violência explícita, com um trabalho de maquiagem caprichado, e o destaque vai para uma personagem do arco de Rachel (Amy Seimetz). Seu trauma de infância com a irmã deformada – mostrado por meio de flashbacks – é desenvolvido com um pé no terror de gênero. O aspecto quase monstruoso da irmã é apavorante, gerando algumas das sequências mais arrepiantes do filme.

Em suma, Cemitério Maldito é uma adaptação que não inova muito na forma com que conta sua história, mas revigora uma ideia que já se mostrava datada no clássico de 30 anos atrás, sendo bastante eficiente naquilo que se propõe: assustar, divertir e apresentar Stephen King para as gerações atuais de uma forma que lhes pareça menos bizarra e mais séria.

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