Review | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

Em tempos nos quais Stranger Things segue fazendo sucesso e chega à terceira temporada, e o aguardadíssimo It – Capítulo Dois está prestes a chegar aos cinemas, não é de se espantar que surjam cada vez mais histórias do tipo “crianças em suas bicicletas se unem para salvar a cidade de entidades do mal”.

Parece haver uma onda de saudosismo aos anos oitenta que foi resgatada por Hollywood recentemente e que com certeza brilhou aos olhos de Guillermo Del Toro, produtor do filme. Embora a história se passe em 1968, o longa é baseado em uma série de contos do escritor Alvin Schwartz, que publicou um livro homônimo em 1981. Com isso, há uma natural aura oitentista que paira sobre a trama deste Histórias Assustadoras.

O filme se passa na cidade de Mill Valley, que há gerações é assombrada pelos mistérios que cercam a mansão da família Bellows. Foi no porão desta casa que Sarah Bellows, jovem cheia de segredos e rejeitada pelos pais, escreveu um livro com histórias assustadoras. Anos depois, essas histórias começam a se tornar reais quando Stella (Zoe Colletti de Vida Selvagem) e seus amigos acabam se envolvendo com seu passado sombrio.

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A ideia de juntar várias histórias de fantasmas, espíritos, assombrações – chame como quiser – em um filme só é ótima e já vimos ser repetida várias vezes até mesmo na Sessão da Tarde – como se esquecer do clássico Deu a Louca Nos Monstros? -, ter a assinatura de Del Toro também é um chamariz muito grande, dado que o diretor é conhecido por produzir algumas obras do terror que fizeram certo sucesso recentemente, como O Orfanato e Mama, e lá em 1993 estreava na direção com um simpático Cronos que já deixava bem clara uma prática constante em seus longas: eles se vendem mais pela capa do que por sua essência.

Não é diferente neste Histórias Assustadoras, o filme começa apático e previsível, sem qualquer tipo de originalidade. A direção do norueguês André Øvredal (do bom Trollhunter de 2010) está no automático. O filme é um típico produto de estúdio que parece ter sido filtrado inúmeras vezes até que tudo aquilo que vemos em sua embalagem – a mão de Del Toro, as promessas de histórias assustadoras que se passam no Halloween, um diretor de found-footage – tenha desaparecido e resultado numa fotografia excessivamente escura – que não é o mesmo que criar um clima sombrio – uma sucessão de jumpscares previsíveis e crianças sem personalidade.

O elenco teen parece ter saído de alguma série da Netflix, são sempre os mesmos estereótipos, o valentão, o engraçado, o mais medroso, aqui, pelo menos, a protagonista é uma menina, mas Colletti não consegue dar carisma necessário à personagem para que nos importemos com ela. Entre os demais, um esnobado Austin Abrams (que está muito bem em O Estado das Coisas) serve apenas para ser o garoto mais velho que apavora os mais novos.

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A trama poderia ganhar ótimos contornos se a gama de contos de terror que invadem Mill Valley fugissem do óbvio. John Carpenter tem um ótimo exemplo em sua filmografia de como unir metalinguisticamente terror literário e cinema no insano À Beira da Loucura (também disponível na Netflix), mas obviamente a intenção de fazer algo autêntico passou longe aqui.

É preciso que o espectador vá ao cinema sabendo que verá as crianças de sempre encontrando pelo caminho os fantasmas de sempre em uma eterna noite de Halloween. A história dos Bellows fica em segundo plano por boa parte do longa . Ao final, as intenções ficam óbvias: Histórias Assustadoras é um filme caça-níquel que deixa um gancho para uma improvável sequência. Del Toro já foi melhor.

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