Review | Maestro (Netflix)

Bradley Cooper fez sua carreira na direção em Nasce uma Estrela, tendo o triplo desafio de estrear, dirigir a si mesmo e fazer da popstar Lady Gaga, uma atriz. Saiu-se tão bem que o filme não apenas foi um grande sucesso como muita gente achou que os dois engataram um affair de verdade, tão bem-sucedida foi a sua condução das atuações.

Agora, em seu segundo trabalho atrás das câmeras, enfrentou novos desafios: comandar uma produção de primeira envolvendo gente grande (Martin Scorsese e Steven Spielberg como produtores) e retratar um ícone da cultura americana, interpretando-o, inclusive.

Maestro é uma cinebiografia de Leonard Bernstein, o primeiro grande regente americano, compositor que transitou entre as salas de concerto e a Broadway, e divulgador da música erudita com seu programa Young People’s Concerts (que aqui teve seu equivalente no Concertos para a Juventude).

O roteiro é centrado em seu relacionamento com Felicia Montealegre, papel de Carey Mulligan (Bela Vingança), que na verdade é coprotagonista, ou até protagonista, já que seu nome aparece nos créditos iniciais antes do ator-diretor. Ela foi a única esposa do maestro, que na verdade era gay, e teve que dividi-lo com outros homens durante todo o relacionamento de quase 30 anos.

O filme começa de forma frenética (em preto e branco), durante os anos de juventude de Bernstein, passando de um evento para outro como foi sua carreira meteórica a partir de sua estreia à frente da Orquestra Filarmônica de Nova York, passando pelo encontro com Felicia e o subsequente romance.

Embora mais uma vez o diretor Bradley Cooper aborde a música, este filme é menos musical que Nasce uma Estrela, embora tenha pelo menos um número fantástico, que é uma encenação de Um Dia em Nova York (que virou filme com Gene Kelly e Frank Sinatra) com a coreografia de Jerome Robbins.

Curiosamente, Amor, Sublime Amor, sua grande partitura para a Broadway, aparece apenas como músicas incidentais, talvez pelo fato do produtor Spielberg ter feito sua versão há pouco (e é espetacular).

Se a direção é excelente, o mesmo não se pode dizer da atuação de Cooper, cujo nariz falso faz com ele o mesmo que a dentadura de Rami Malek fez para seu Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (ok, ganhou o Oscar, mas que é um trambolho, isso é).

Além disso, a meticulosidade com que reproduz maneirismos e trejeitos do personagem – e o peso de seu legado – engessam de modo geral sua interpretação, que cresce quando envelhece. E, é claro, ele se concede um momento Live Aid, no concerto na catedral, único momento em que o vemos regendo de verdade, e é arrebatador.

Quem dá um show é Carey Mulligan, atriz que está na fila do Oscar desde 2010, com Educação. Sua Felicia é uma atriz ambiciosa, que se apaixona pela personalidade e imenso talento de seu namorado/noivo/marido, que inicialmente aceita seu estilo de vida promíscuo, mas aos poucos vai desgastando a relação. Da juventude à agonia final, ela conduz a personagem de forma brilhante, e sua indicação ao Oscar é uma barbada.

Há quem acuse o filme de ser Oscar bait, ou chamariz de Oscar. De fato, uma cinebiografia de um ícone cultural, com elenco estelar e com uma produção de primeira linha reúne elementos que em geral recebem indicações ao prêmio da Academia. Em alguns casos, podem até ganhar, como foi o caso do medíocre Bohemian Rhapsody, mas logo caem no esquecimento.

Maestro é uma obra que não apenas resgata Leonard Bernstein para o século XXI, como é um acréscimo e tanto para a crescente filmografia do diretor Bradley Cooper.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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