Review | Millennium: A Garota na Teia de Aranha

A trilogia de livros Millennium, lançada lá fora entre 2005 e 2007 e aqui no Brasil apenas em 2008 e 2009, escrita pelo sueco Stieg Larsson, falecido em 2004, antes mesmo de ver o sucesso de sua obra, logo se tornou um best-seller e também não demorou muito para que ganhasse adaptações para o cinema.

A produtora sueca Yellow Bird apostou e lançou as adaptações da trilogia de Larsson em 2009, com Noomi Rapace (Prometheus) no papel da hacker Lisbeth Salander e Michael Nyqvist (o vilão de De Volta ao Jogo e Missão Impossível – Protocolo Fantasma) no papel do jornalista Mikael Blomkvist.

Hollywood também adaptou a história, mas apenas o primeiro capítulo dela, em 2011, com direção de David Fincher (A Rede Social) e contando com Daniel Craig (007 Contra Spectre) e Rooney Mara (Carol) nos papéis principais.

Apesar da boa aceitação do público e da crítica, os americanos pararam por aí. Os dois livros que encerravam a trilogia não foram adaptados até hoje e, com a chegada de Millennium: A Garota na Teia de Aranha, baseado no quarto livro escrito por David Lagercrantz – que também escreveu o quinto capítulo – é difícil crer que um dia essas adaptações saiam.

A direção deste quarto capítulo da franquia ficou a cargo do uruguaio Fede Alvarez, conhecido por dirigir obras de terror, como o remake Evil Dead (2013) e o elogiado O Homem nas Trevas (2016). Nos papéis principais, a premiada Claire Foy (O Primeiro Homem) assumiu o papel de Lisbeth Salander e Sverrir Gudnason (Borg vs McEnroe) vive Mikael Blomkvist.

Em uma análise preliminar dos cartazes, elenco e trailers, o espectador se pergunta: como Foy se sairá em um papel ousado como este, justamente por ser a primeira vez que assume uma personagem tão diferente de tudo o que já fez e que já foi tão bem encarnada por Mara e Rapace? A verdade é que pode haver uma certa dificuldade em nos desvincularmos das outras Lisbeths. Comparações nunca são justas, por isso, se depender de expectativas baseadas na adaptação americana de 2011, o espectador pode sair frustrado da sessão. A Lisbeth de Foy é mais humana e menos implacável.

Flashback

O filme começa com um flashback mostrando um breve momento da infância conturbada de Lisbeth e sua irmã enfrentando o pai abusivo. Ambas se separaram há anos e, nos tempos atuais, Lisbeth é reconhecida no mundo inteiro graças às matérias publicadas por Blomkvist na revista Millennium. Graças à sua fama, ela é contratada para recuperar um poderoso software que pertence ao governo norte-americano e que também é desejado por uma sociedade secreta chamada Os Aranhas.

Como pode-se notar, há uma mudança no protagonismo, o jornalista Mikael Blomkvist é tão relegado a ser coadjuvante que seu personagem é praticamente descartável para a história, uma espécie de M do James Bond, mas sem a mesma pompa de Judi Dench.

A tentativa em tornar a história mais compatível aos dias de hoje acaba sendo o grande problema. Muita informação é jogada para o espectador de maneira expositiva e didática, assim como subtramas dispensáveis e desinteressantes e personagens secundários que aparecem apenas para que Lisbeth consiga prosseguir com seus objetivos – e é devido a essas pontas soltas e conveniências que o roteiro vai se tornando cansativo e falho.

Por apostar tanto em Salander, faltou aos roteiristas dar mais personalidade a ela. Foy não compromete tanto o resultado já que parece entregar aquilo que lhe pediram, uma personagem com poucas falas e muita rapidez nos teclados, mais adequada ao mundo cibernético e interconectado de hoje. Sua frieza não é ameaçadora como nas Lisbeths anteriores, é apenas apática e ciente de que resolverá o próximo enigma se digitar alguns códigos no computador.

A direção de Alvarez está longe de ser ruim, ele emula o estilo de Fincher, o que acaba deixando a história bem menos confusa do que parece, mas, aliada ao fraco roteiro, acaba tornando Millennium: A Garota na Teia de Aranha um produto genérico. Parece que quanto mais a história se desenvolve mais desinteressante ela fica – e com personagens tão mal desenvolvidos não era por menos.

Salva-se pouco nessa nova aventura de Lisbeth Salander. Se nem mesmo o bem aceito filme com Daniel Craig e Rooney Mara ganhou sequência – já que arrecadou menos do que o aguardado – Millennium: A Garota na Teia de Aranha também não deve ir muito além.

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