Talvez a comparação com Bohemian Rhapsody seja inevitável – e injusta para ambos os lados – pois Rocketman chega aos cinemas alguns meses após o sucesso do “filme do Queen”. Porém, as duas cinebiografias diferem em estilo e proposta.
Rocketman não é um espetáculo musical como eu esperava que fosse – ingenuamente influenciado pelos 15 minutos finais de Bohemian Rhapsody – ele é muito mais uma terapia musical sobre o passado de Elton John, contada e cantada pela visão dele próprio.
As fases de sua vida são compactadas em duas horas de forma homogênea, sem começo, meio e fim, ainda que o longa siga de sua infância ao sucesso como artista, passando brevemente por seus problemas com o pai, as drogas, a bebida e empresários, não há ápices ou grandes momentos, nem mesmo os números musicais são tão empolgantes, embora belamente entonados por Taron Egerton, principalmente em Tiny Dancer.
Roteiro confuso
O roteiro de Lee Hall (Cavalo de Guerra) se mostra apático e desajustado na maior parte do tempo, algumas escolhas são questionáveis e parecem encaixadas na trama mais para emocionar e empolgar o espectador do que para servir de evolução aos personagens, como alguns números musicais – na cama quando criança e no fundo da piscina – o uso cafona dos efeitos especiais na sequência de Rocketman e a piegas e autoindulgente sequência final na sala de terapia.
Aliás, os elementos fantásticos surgem diversas vezes, como na apresentação de Crocodile Rock – em um dos poucos momentos que funcionam – mas o longa nunca assume de fato esse lado fantasioso que o artista Elton John sempre carregou consigo. Aqui, o foco é muito maior na pessoa triste e sofrida cercada de falsidade e falta de amor.
Coadjuvantes decepcionam
O problema maior é que Dexter Fletcher (Voando Alto) não sabe explorar os coadjuvantes, falta profundidade nos acontecimentos e nas pessoas que marcaram Elton, todos começam e terminam a história da mesma forma, há zero evolução naqueles personagens fadados a martirizarem o protagonista para que ele se encontre.
Bryce Dallas Howard (Histórias Cruzadas) e Jamie Bell (Estrelas de Cinema Nunca Morrem) são ótimos atores e aqui são relegados a aparições pontuais geralmente acompanhados de frases de efeito. O pai, o empresário e sua avó são meros fantoches de roteiro. Com isso, o show fica para Taron Egerton, excelente tanto como o espalhafatoso astro quanto o solitário Elton John.
Rocketman é um longa que funciona enquanto um estudo intimista de uma personalidade, mas que falha quando explora o artista Elton John, seus feitos, por onde passou e o que atingiu, talvez não tenha sido essa a proposta, mas a terapia de grupo também não convence por ser um grande monólogo de zero profundidade.
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