Review | Tô Ryca!

O cinema nacional anda carente de boas comédias. Apesar deste ser o gênero que mais lança filmes nas telas nacionais, seus exemplares são sofríveis e ainda insistem em seguir a fórmula Rede Globo de se fazer filmes. Infelizmente, Tô Ryca!, do diretor Pedro Antônio (da série 220 Volts) não foge a regra e tenta, com um humor megalomaníaco e caricato, construir uma crítica sobre a política brasileira. No entanto, falha ao dar mais importância para gritos e caretas do que para a mensagem.

Em Tô Ryca!, Samantha Schmütz vive Selminha, uma escalafobética suburbana do Rio de Janeiro que encontra, do nada, um tio misterioso à beira da morte que propõe um desafio: gastar R$ 30 milhões em 30 dias para ter direito a fortuna de R$ 300 milhões que ele está prestes a deixar de herança. Com algumas regras, como não poder adquirir nenhum bem e só poder gastar 5% desta quantia em doações e jogos de azar, Selminha parte nessa missão que seria fácil demais se o filme se passasse no mundo real.

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Escrito por Fil Braz (de Minha Mãe é Uma Peça: O Filme) e Vitor Brandt (Copa de Elite), Tô Ryca! é um filme sobre exageros durante os 102 minutos de exibição. No início, a vida pobre da protagonista e de sua amiga Luane (Katiuscia Canoro) na periferia do Rio de Janeiro com ônibus lotado e emprego miserável e explorador é recheada de piadas sem timing algum e despejadas aos montes, como um show de stand up acelerado. A necessidade de fazer humor a qualquer custo faz as personagens criarem uma frase de efeito por segundo, tentando ao trancos e barrancos arrancar algum riso do espectador. No final das contas, o tipo de humor do filme se aproxima muito do humor estereotipado e exagerado de Zorra Total e se distancia do que o próprio programa vem tentando (eu disse tentando) fazer nos últimos anos, agora sob o nome de Zorra.

Tô Ryca! também é pouco original e, ao tratar como as pessoas devem lidar com o dinheiro, não traz nada de novo do que filmes como os tão ruins quanto Até que a Sorte nos Separe e Suburbano Sortudo já apresentaram. No final, a velha história de que o dinheiro corrompe as pessoas e as afasta de quem os quer bem é o mote principal da trama, levando o nada a lugar algum. Ou melhor, leva para aquele final que todo mundo já conhece. Isso pra não dizer que é cópia cuspida de Chuva de Milhões, filme que você já deve ter conferido em alguma matinê por aí.

Em seu terço final, Tô Ryca! arranha uma crítica (também estereotipada) do atual cenário político brasileiro. Com a presença de Marcelo Adnet (Os Penetras), interpretando Falácio Fausto, um clássico político conservador que muitos diriam ser a personificação de Bolsonaro (não sou eu que estou dizendo ok?), o filme até tem alguns lampejos de lucidez como a cena do debate, por exemplo, e se não fosse seu desfecho, seria a melhor do filme, disparada. Mas novamente, o exagero e caricaturismo atrapalham o texto e o que fica na tela são gritos e mais gritos.

Enfim, com mais um exemplar pífio de comédia brasileira, resta torcer para que o gênero realmente se reinvente no cenário do cinema nacional. Se não, uma sala de cinema com 10 pessoas nas poltronas (como foi a minha sessão, na segundo dia de exibição do longa) é tudo o que ele irá conseguir por aqui.

 

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