Review | Venom

Escrever sobre um filme que chega aos cinemas detonado antes mesmo de sua estreia é tarefa difícil. Por isso, vou focar em tentar entender porque Venom existe e o que pode te agradar ou não, afinal, o filme já é considerado como o novo Motoqueiro Fantasma ou Quarteto Fantástico dos heróis nas telonas.

As primeiras reações negativas sobre o filme têm uma origem que pode ser explicada com a seguinte pergunta: por que fazer um filme com Venom? Os garotinhos ou garotinhas que cresceram nos anos 90 lendo Marvel ou DC e ouvindo seus pais falarem sobre ter ido aos cinemas assistir Superman nas décadas de 70 e 80, talvez nem pensassem em conferir Venom, um anti-herói das histórias do Homem-Aranha, nas telonas algum dia – embora isso pudesse ser um sonho distante para alguns mais esperançosos, numa época em que as adaptações de jogos de videogames ganharam força e, querendo ou não, fizeram os grandes estúdios apostarem em heróis anos mais tarde.

Os anos 2000 vieram e, com eles, alguns super-heróis ganharam seus filmes. É o caso da trilogia do Homem-Aranha, de Sam Raimi, provavelmente o herói mais bem-sucedido do início deste século quando se fala em personagens da Marvel – junto com os X-Men de Bryan Singer.

Aos que conhecem quadrinhos, a ligação de Venom com o herói aracnídeo é uma lembrança viva, muito embora a primeira aparição do anti-herói nos cinemas, exatamente em Homem-Aranha 3, interpretado por Topher Grace, deva ser esquecida. Mas, se já haviam tentado representar Venom uma vez, de maneira completamente equivocada, por que tentar de novo? Se nunca houve um coro dos fãs para tanto, pergunto novamente: por que fazer um filme sobre o Venom?

Aposta

Observando – e desejando – a ascensão e domínio da dupla Marvel/Disney no mercado dos super-heróis, a Sony Pictures, como detentora dos direitos de alguns personagens do Aranhaverso para as telonas, viu-se “obrigada” a investir também em seu universo compartilhado de heróis. Para tanto, com os personagens que tinha em mãos, fez sua primeira aposta: Venom.

Para os que ainda não sabem, depois dos insucessos (não dá para dizer fracassos) de O Espetacular Homem-Aranha 1 e 2, dirigidos por Marc Webb e protagonizados por Andrew Garfield, a Sony Pictures entrou em acordo com a Disney para que o cabeça de teia entrasse no Universo Cinematográfico Marvel, como visto em Capitão América: Guerra Civil, agora com Tom Holland como um jovem Peter Parker.

De volta aos seus domínios, restou à Sony apostar na adaptação de algumas das melhores histórias de Venom, contando sua origem e evitando qualquer ligação com o teioso. A ideia, segundo consta, é criar um novo universo compartilhado, com personagens do Aranhaverso, como Morbius, já oficializado pelo estúdio, com Jared Leto (o Coringa de Esquadrão Suicida) no papel principal e Daniel Espinose (Crimes Ocultos) na direção.

Assim, os fãs mais ortodoxos podem se sentir “incomodados” com algumas alterações na história de origem do simbionte, que parece um filme fora de época por diversos aspectos que irei entrar em detalhes a seguir.

Simbiose

Com direção de Ruben Fleischer (Zumbilândia), Venom começa quando uma nave da Fundação Vida – apesar do nome e dos antigos rumores, não tem ligação alguma com o filme Vida, de 2017 – sofre uma explosão ao adentrar a atmosfera, caindo na Malásia e trazendo consigo uma ameaça alienígena que vai passando de corpo para corpo.

No papel principal, Tom Hardy (Mad Max: Estrada da Fúria) é Eddie Brock, um jornalista respeitado que aposta em um furo de reportagem para acusar a Fundação Vida e seu líder, Dr. Carlton Drake (Riz Ahmed, de Rogue One: Uma História Star Wars), de experimentos antiéticos. O tiro sai pela culatra e Brock perde o emprego, o prestígio e até mesmo a confiança de sua companheira, Anne Weying (Michelle Williams, de Ilha do Medo).

Fadado ao ostracismo e desempregado, Brock novamente se vê envolvido com a Fundação Vida após uma denúncia da cientista Dora Skirth (Jenny Slate, de Hotel Artemis) sobre os experimentos em humanos que Drake realiza. Brock vai aos laboratórios e acaba entrando em contato com o simbionte, dando origem ao Venom.

É justamente a partir dessa fusão – ou simbiose, como dita no longa – que o filme muda de rumo e abandona o discurso chato e didático de Drake acerca da Fundação Vida e parte para a relação entre Brock e Venom, definitivamente o ponto forte do filme.

Hardy esbanja carisma e se mostra à vontade para se expressar, seja verbalmente, com tiradinhas ágeis e discussões em voz alta com o simbionte – até mesmo sobre sua paixão por Anne, sua Mary Jane – assim como com expressões corporais hilárias, principalmente no início, quando luta pelo controle dos movimentos de seu corpo, quando se assusta com o reflexo de Venom no espelho e quando vê a própria perna em perfeito estado após vê-la quebrada.

Saindo desta relação, resta pouco a ser elogiado. Os efeitos digitais são fracos, a criatura não impõe respeito ou medo – já que conhecemos de antemão a personalidade de Venom – e sabemos que ele é apenas um piadista que não tem noção do que é ser mau de verdade.

Genérico

Justamente por isso, o antagonismo fica para Riot, basicamente um Venom genérico, só que mais malvado. Sua aparição se resume ao terceiro ato, em um confronto direto contra Venom que mais cansa as vistas do espectador do que empolga. Por sorte, é uma luta bem rápida, mas pouco aproveitável.

Ao menos, Fleischer faz uma cena de perseguição pelas ruas de São Francisco lá pela metade do longa que alia batidas e explosões ao lado cômico de Hardy, ainda impressionado com os poderes de Venom, o que dá ao filme uma boa cena de ação.

O grande problema de Venom é não se arriscar tanto quanto poderia. O roteiro é genérico e a violência que poderia ser atrelada ao personagem é levada de maneira cômica – como na cena em Michelle Williams exclama: “oh meu deus, eu comi a cabeça dele” – além disso, a ausência de sangue mostra que as intenções da Sony são de uma classificação indicativa baixa, que possa chamar o máximo de público possível para que consiga continuar investindo em futuros filmes de heróis ou anti-heróis. Contudo, depois deste Venom, parece que ainda terão que remar muito para conseguir.

Em tempos onde a Marvel também faz seus filmes genéricos (Homem-Formiga e a Vespa está aí para provar isso: divertido, mas esquecível), Venom pode ser visto como uma aposta errada de um estúdio que tenta imitar a fórmula Marvel. Se por um lado a experiência é esquecível, por outro lado há o carisma de Tom Hardy e uma primeira cena pós-créditos que pode dar novos rumos a uma (im)possível sequência.

P.S.: Além da primeira cena pós-créditos, que apresenta um novo personagem do universo Venom, confira também a segunda cena, que traz uma grata surpresa aos fãs do Homem-Aranha. Vale a pena ficar até o final!

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