Venom 2: Tempo de Carnificina estreia esta semana e já vimos

A grande estreia desta semana é Venom: Tempo de Carnificina, que já vimos e criticamos, mas não podemos ignorar Cry Macho – O Caminho da Redenção, o último filme de Clint Eastwood.

No meu ponto de vista de crítico de cinema formado nos longínquos anos 80 – quando avaliávamos a qualidade artística e relevância da obra – , quando se trata de um filme como Venom 2, a questão é entender porque ele faz sucesso. E, acreditem, ele já está fazendo sucesso nos Estados Unidos e deve repetir o hype por aqui.

Afinal, ele é a continuação de um hit inesperado. A primeira aventura do simbionte alienígena rendeu quase um bilhão de dólares, com um orçamento relativamente baixo e uma expectativa ainda menor. Imagino os caras da DC/Warner se perguntando como é que essa bagaça deu tanta grana, enquanto eles afundavam com o muito mais ambicioso e caro Liga da Justiça.

Temos a volta de Tom Hardy (que parece ter achado o tom certo para o personagem) como Eddie Brock, o jornalista picareta hospedeiro do simbionte Venom, que ele agora ele mantém mais ou menos sob controle, alimentando-o com chocolate e galinhas ao invés de cérebros humanos. Em baixa no mercado, ele recebe a chance de se recuperar quando o serial killer Cletus Kasady (Woody Harrelson, de quem falaremos mais adiante) diz à polícia que só aceita ser entrevistado por Brock.

Antes, somos apresentados ao vilão e sua amada Frances Barrington (vivida quando adulta por Naomie Harris, a Moneypenny de 007), num prólogo que exagera os clichês de filmes de terror, com aquela trilha macabra e tudo mais.

Ao se assumir como um produto do Universo Cinematográfico Marvel das categorias de base, o Aranhaverso da Sony evita um dos problemas das produções de Kevin Feige, que é metragem interminável. Mas ao se limitar a uma hora e meia de duração para apresentar os antagonistas e estabelecer o vínculo com Eddie Brock/Venom, a narrativa fica atropelada e as conexões inconsistentes. Muita coisa para pouco tempo.

E o diretor Andy Serkis não é um bom condutor de elenco. Se Tom Hardy é o dono da franquia (que, aparentemente, fez com que Ruben Fleischer fosse substituído por Serkis), Woody Harrelson foi orientado a atuar no modo Assassinos por Natureza (casal de psicopatas detonando em um conversível?) e Naomie Harris recria a Tia Dalma de Piratas do Caribe.

Já a pobre Michelle Williams, com suas três consistentes indicações ao Oscar, fica perdida no rolê. E os CGIs são toscos, baratos e culminam numa daquelas batalhas entre criatura digitais que já não impactam ninguém (e teve quem reclamou do combate dos monstros em Shang-Chi… enfim).

Por que então, com tantos “poréns”, a franquia faz sucesso e se tornou a ponta de lança do universo do Homem-Aranha? Acho que uma coisa das possíveis explicações é a simplicidade da narrativa, sem conexões com outros filmes (a não ser na cena pós-crédito…) e aquela violência de videogame, que faz mais rir que assustar.

Num ponto de vista psicanalítico, Venom é um Id dentro de um sujeito com Ego e Superego frágeis, quase uma criança com superpoderes e apetites primais. E isso deve encontrar eco em um grande público.

Cry Macho – O Caminho Para a Redenção conta a história de Mike Milo (Clint Eastwood, astro e diretor), um ex-astro de rodeio e criador de cavalos fracassado, que, em 1979, aceita uma proposta de trabalho de um ex-chefe para trazer Rafa (Eduardo Minett), o jovem filho desse homem, de volta do México para casa.

A dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo pode encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem.

Do alto de seus 91 anos – e 50 só como diretor – Clint Eastwood declarou não estar pensando em se aposentar: “só tenho isso para fazer”. Última lenda viva do faroeste, imagem do policial casca-grossa graças a seu Dirty Harry, como cineasta ele se dispôs a fazer o revisionismo desses estereótipos e ainda criar grandes obras-primas, das quais podemos citar O Estranho sem Nome (1973), Bird (1988), Os Imperdoáveis (1992), Um Mundo Perfeito (1993), As Pontes de Madison (1995), Sobre Meninos e Lobos (2003), Menina de Ouro (2004), o dítpico Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima (2006), Gran Torino (2008) e Sniper Americano (2014), acumulando três Oscars de Direção e dois de Filme, como produtor.

É verdade, porém, que seus melhores trabalhos como diretor são os que contam com ele como protagonista (os sublinhados), mesmo que ele tenha distribuído Oscars a seus atores (Sean Penn e Tim Robbins em Sobre Meninos e Lobos; Hilary Swank e Morgan Freeman em Menina de Ouro). E como ele não é sequer indicado a Ator por Gran Torino?

De toda forma, sua direção segura e sua presença física sempre constituem uma atração: um filme de e com Clint Eastwood sempre tem algo de bom.

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