Review | A Guerra dos Samurais (Netflix)

Guerra dos Samurais foi anunciada em 2019 como uma versão japonesa de Game of Thrones, só que acabou saindo como uma série documental do tipo History Channel.

Não sei se o anúncio bombástico da época pretendia ser um golpe publicitário ou se as circunstâncias da pandemia reduziram seu escopo, mas quem tiver paciência e acompanhar a história em meio a depoimentos de historiadores de diversas nacionalidades, vai perceber que a comparação lá atrás não era gratuita.

Muito diferente da Guerra das Duas Rosas inglesa, que inspirou George R.R. Martin a escrever suas Crônicas de Gelo e Fogo, o Sengoku Jidai – ou Era da Guerra – durou mais de um século, mas é sua fase final o foco desta coprodução do Smithsonian do Canadá.

Começa com o pequeno daimyo (senhor feudal) Oda Nobunaga, em meados do século XVI, assumindo a liderança de seu clã, e rapidamente, após vencer a disputa interna, subjugar os vizinhos e se tornar a força ascendente no Japão.

Para quem conhece o cinema japonês, é nesta época que acontece a trama de Kagemusha (1980), de Akira Kurosawa, quando Takeda Shingen morre durante a luta contra Nobunaga e seu aliado Tokugawa Iyeasu, e é substituído por um sósia.

Só que o sanguinário líder é traído por um aliado e rapidamente sucedido por Toyotomi Hideyoshi, um camponês que subiu da infantaria à posição de general, e finalmente unifica o Japão. Movido pela ambição e pela necessidade de manter seus samurais em ação, ele decide invadir a Coréia em busca do Trono do Céu da China.

Desafios logísticos

Apesar de contar com os melhores e mais experientes guerreiros da Ásia, Hideyoshi não consegue dar conta dos enormes desafios logísticos da operação, e a campanha fracassa, com exorbitantes custos em vidas humanas e recursos, sem falar na eterna desconfiança de coreanos e chineses em relação ao Japão.

A mesma lógica expansionista se repetiria no século XX, com a ocupação da Coréia e subsequente invasão para a conquista da China, verdadeiro objetivo do Império Japonês na II Guerra Mundial.

Hideyoshi morre deixando seu filho pequeno, Hideyori, como herdeiro, com o ambicioso Tokugawa como regente. Esta fase inspira o best-seller Xogum, de James Clavell, que originou uma minissérie de sucesso estrelada por Richard Chamberlain e Toshiro Mifune.

O autor troca os nomes dos personagens, mas todos baseados em figuras históricas, inclusive o piloto inglês John Blackhorne, inspirado em um marinheiro britânico que realmente se tornou próximo do futuro xogum.

A Batalha de Sekigahara, em 1600, decide o destino do país nos próximos 250 anos, com a instalação do Xogunato Tokugawa e do Período Edo, dando início à era dos ronin, os samurais sem mestre, que se tornam andarilhos, bandidos ou mestres da arte da espada. Um dos sobreviventes de Sekigahara é um certo Miyamoto Musashi, o mais famoso samurai espadachim da história.

Tudo isso não é spoiler porque é história. O que torna A Guerra dos Samurais interessante é justamente a riqueza de detalhes e desenvolvimento de personagens secundários, mas fascinantes, como Date Masamune, o Dragão de um Olho.

Daria uma ótima produção tipo Vikings (History), Genius e Os Eleitos (NatGeo), mas é o que temos para hoje. Embora seja uma história fechada, daria para fazer uma segunda temporada com outros eventos importantes envolvendo os samurais, como a invasão mongol do século XIII, que inspirou o game Ghosts of Tsushima, para PlayStation 4; ou a ascensão dos Minamoto no século anterior, que dá início à Era dos Samurais.

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