Limbo é um dos jogos mais icônicos da cena indie de todos os tempos. Anos depois, mais precisamente em 2016, a mesma Playdead elevou tudo aquilo que seu título anterior já apresentava a outro patamar com Inside, considerado por muitos como um dos melhores jogos do ano passado. Nestes dois exemplares, o maior destaque foi, além da direção de arte primorosa, a capacidade de contar histórias sem dizer ou escrever uma palavra sequer. Em 2017, pelas mãos da Tarsier Studios (desenvolvedora dos jogos da franquia Little Big Planet), chega Little Nightmares, jogo que se inspira nos títulos da Playdead para contar uma história de terror e que tem como seu maior aliado a atmosfera em que insere o jogador.
Little Nightmares narra a história da jovem Six, que apenas com uma capa de chuva e um isqueiro precisa entender onde está e como sair de um pesadelo em que todos os seus medos e demônios estão a espreita.
Apesar da semelhança com Limbo e Inside, conhecidos por utilizarem de forma magistral a ausência de cor, o título da Tarsier aposta no contraste. Mesmo que a escuridão possa ser em muitos momentos sua principal inimiga e até mesmo aliada, Little Nightmares destaca utiliza da luz para destacar coisas importantes no cenário, com cores mais vivas. Aqui, o monocromático dá lugar às cores.
Apostando em um terror atmosférico, o título usa desta ferramenta para imergir o jogador naquele mundo estranho com criaturas mórbidas e bizarras. O objetivo, claro, é causar empatia por Six e todo o terror vivido pela personagem naquele lugar. E o maior aliado neste aspecto é seu design de som. Com músicas minimalistas (que mais parecem barulhos), mas tensas, o clima é instaurado e a tensão se complementa com os efeitos sonoros utilizados no jogo, como o barulho causado por objetos e o ranger da madeira a cada passo mais apressado dado pela protagonista.
Outro bom ingrediente é a direção de arte e o uso da câmera do jogo. Quase como uma câmera do gênero plataforma, as tomadas em zoom e zoom out casam bem com as cenas apresentadas, passando de forma competente a mensagem sobre o sentimento de Six naquele mundo. Quando a personagem entra em alguma tubulação, a câmera se aproxima, dando um temor claustrofóbico. Em cenários imensos, o plano se afasta para mostrar cenas importantes ao fundo ou até mesmo para retratar o quão pequena Six se sente naquele mundo de coisas e criaturas gigantes.
Little Nightmares também executa muito bem o uso do seu cenário e objetos dispostos nele. Tudo pode ser utilizado para te ajudar, como os brinquedos que podem ser lançados em um botão para acionar um elevador, por exemplo. Mas também, estes mesmos objetos podem jogar contra você, acusando sua presença aos inimigos caso você esbarre em uma garrafa.
Como um jogo de muitas facetas, Little Nightmares consegue dividir bem suas sequências específicas. Há momentos de stealth, ação e claro, puzzles. Muito criativos e desafiadores em sua maioria, exigindo uma boa atenção ao cenário, eles somente pecam na repetição de objetivo, principalmente no terço final do jogo. Quando você precisa, pela terceira vez em pouco tempo, procurar por uma chave para abrir a porta, algo está errado.
Apesar da imersão ser o ponto forte em Little Nightmares, é uma pena que a mecânica de pulo, principalmente nas sequências de ação, não contribua com este aspecto. Nestes segmentos, que exigem agilidade e precisão nos saltos, tudo fica ainda pior quando o jogo exige que você execute comandos também para agarrar bordas. Enquanto você corre, desvia dos inimigos e salta, o jogo te obriga ainda a dar apertar mais um botão para executar uma tarefa que seria natural para o personagem. É o caso inverso daquela famosa frase “Menos é mais”.
Outra característica que também prejudica a imersão, só que desta vez nas sequências de stealth, é a inteligência artificial. Não foram poucas as vezes em que os inimigos viram a pequena Six e correram para capturá-la. No entanto, a situação foi solucionada apenas entrando debaixo de qualquer armário ou mesa. Mesmo que os inimigos vejam que você se escondeu, eles não continuam a busca. Simplesmente fazem de conta que você sumiu e voltam a respeitar o script da sua ronda pelo cenário.
Mesmo com seus problemas com mecânicas e inteligência artificial que não colaboram com a imersão ao jogador, Little Nightmares é um excelente exemplar de jogos de terror atmosféricos e é um ávido suspiro de mudança no gênero, que se vê refém de jogos em primeira pessoa, que se destacam pela tensão em assustar. Little Nightmares não quer te assustar, mas te deixar apreensivo e fazer você, de todas as formas, superar os medos e seguir adiante.
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* Este review foi produzido com uma cópia de review de Xbox One fornecida pela Bandai Namco.
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