Review | Okja

O cineasta sul-coreano Joon-ho Bong, apresentou no celebrado Festival de Cannes deste ano o seu mais recente trabalho. Tratava-se de Okja, uma fábula moderna onde uma garota determinada e uma porca gigante encontram-se em perigo nas mãos de uma grande corporação. Entusiasmados, os críticos aplaudiram o longa ao final da sessão. Reação contrária ao início da exibição, quando o mesmo filme foi iniciado com vaias. É preciso deixar claro que as vaias não foram para o filme, mas sim para o logotipo da Netflix que surgiu na tela.

Okja é a primeira produção da Netflix a estrear no mais famoso festival de cinema do mundo e concorrer a Palma de Ouro. Tamanho feito rendeu várias polêmicas e divergências entre o júri do festival. Enquanto Pedro Almodóvar – presidente do júri – se mostrou contrário a tal exibição, ao afirmar que as produções devem ser assistidas em salas de cinema, o astro Will Smith – membro do júri – defendeu a prática e a importância do serviço de streaming. Bong não quis entrar na briga e passivamente disse que compreendia a raiva dos que vaiaram. Mas deixou claro que se não fosse a Netflix, dificilmente teria realizado o filme da maneira como queria.

Escrito por Bong e Jon Ronson, o filme apresenta a jovem Mija (Seo-Hyun Ahn), órfã que vive com o avô em uma colina da Coreia do Sul e tem como melhor amiga a porca gigante Okja. A empresa que criou Okja, e centenas de outros porcos semelhantes, quer a criatura de volta e planeja usá-la em um golpe de publicidade, para aumentar a venda de carne processada. Desesperada Mija começa uma busca por sua amiga, enfrentando os criminosos, obtendo a ajuda de um grupo de militantes contrários a matança dos animais.

Okja é uma fábula, muitas vezes cruel e com um forte teor ecológico. O politicamente correto da produção serve como uma denúncia contra as grandes multinacionais que maltratam seus animais do nascimento até o derradeiro e inevitável final.

Bong Joon-ho, é o mesmo visionário cineasta de algumas das mais criativas obras do cinema recente. Autor de O Hospedeiro (2006) e Expresso do Amanhã (2013), Bong cria mais uma história fascinante, que mistura fantasia e realidade para falar de algo muito maior e atual.

A crítica feroz à indústria alimentícia inserida no filme atinge níveis que muitas outras produções não têm coragem de mostrar.  Conduzida de forma satírica, irônica e expositiva, o roteiro inteligente consegue apresentar diversos conceitos da mesma forma que tenta amenizar os fatos mais cruéis e desesperadores.

Não há dúvida que Okja atinge seu objetivo de crítica à indústria alimentícia, seja por sua despreocupação ambiental, pelos maus-tratos aos animais ou por ignorar as consequências na saúde do consumidor. Ao final, fica bastante claro que a mensagem passada por Okja funciona como um alerta. Joon-ho Bong cria simbolismos tão intensos ao longo da narrativa que causa arrepios, como por exemplo, no impactante paralelo com os campos de concentração.

As atuações também são peças chaves na produção. Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal constroem personagens extremamente caricatos, que neste caso fortalecem o tom satírico do longa. Os maneirismos apresentados são a ferramenta necessária para estabelecer o humor do filme. A protagonista Mija, é interpretada com determinação pela jovem Ahn Seo-hyun, que apresenta uma  atuação bem simples e humana, indo bem da comédia ao drama, destoando do restante do elenco, mas sendo necessária como o elo entre espectador e filme. A figura de Okja se destaca pelo uso louvado dos efeitos especiais, transformando a criatura num ser adorável e carismático. A criatura é tão bem desenvolvida que o diretor não tem medo de mostrá-la em planos fechados e explorar sua emoção, passada muitas vezes apenas pelo olhar.

Okja é uma bela produção onde o diretor Joon-ho Bong consegue construir uma atmosfera que ao mesmo tempo mistura a fantasia com a triste realidade. Aborda questões bastante atuais, sem temer mostrar o pior da humanidade e seus interesses. Temos aqui uma aventura, uma fantasia que entretém, emociona e gera o desconforto necessário em quem assiste.  Longe do lugar comum ou de querer agradar, a obra é impactante e bastante relevante, merecendo ser assistida.

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