Andor, da Disney+, é a redenção do universo Star Wars

Depois das decepções com Star Wars: Ascensão Skywalker e Obi-Wan Kenobi (#forakathleenkennedy), estava disposto a abandonar de vez a franquia. Justo eu, um fã que assistiu Guerra nas Estrelas em seu lançamento nos cinemas – sim, Guerra nas Estrelas era o título original de Uma Nova Esperança, jovem padawan.

Deste sentimento veio o atraso em completar Andor, disponível na plataforma Disney+. Mas antigas paixões são difíceis de esquecer e quando finalmente engatei os episódios da série… nossa, é uma das melhores do ano!

Consta que Tony Gilroy, roteirista de Rogue One: Uma História Star Wars (2016), levou a ideia para Kathleen Kennedy de uma produção que passasse longe do mainstream de Star Wars. E surpreendentemente, a CEO da LucasFilm topou (todo mundo acerta uma, eventualmente).

Andor se passa anos antes de Uma Nova Esperança e pouco antes de Rogue One (como a cena pós-créditos do último episódio deixa evidente). O Império domina toda a galáxia ainda com certa margem de manobra para empreendedores independentes. O que a nascente Rebelião quer é criar uma situação para que Palpatine reaja com mão de ferro, fazendo com que a revolta se torne inevitável.

Se o projeto original de George Lucas era fazer um mix de capa e espada com Akira Kurosawa e pitacos de zen budismo, na visão de Gilroy o universo de Star Wars é uma fábula sobre opressão e revolução.

O controle da informação pela máquina imperial remete às fake news que governos de diversos países – inclusive o nosso, no últimos anos – criam para se legitimarem; a marcha dos habitantes de Aldani em sua relocação é referência direta aos deslocamentos a que os nativos americanos foram submetidos, nos quais milhares morreram de fome e frio; e o sistema de mão de obra escrava em uma sociedade tecnológica desmente o famoso discurso de Marlon Brando em Queimada, quando ele compara o escravo à esposa e o trabalhador livre à prostituta, em que esta sai mais em conta que a primeira, numa suposta lógica capitalista.

Na verdade, nada é mais barato que a mão de obra não remunerada, e o século XXI da automação industrial, em que a exploração humana continua, está ai para provar

Mas Andor é mais que um roteiro engenhoso e bem dirigido, é um thriller de ação e suspense de primeira, mesmo que demore um tanto para pegar. Começa com a história de saqueadores oportunistas, passa para uma aventura de assalto, vira um filme de fuga da prisão e termina em um clímax eletrizante. É, como muitos já disseram, o melhor produto Star Wars em muitos anos.

Diego Luna, que já disse ser uma a versão mais barata de Gael Garcia Bernal, está ótimo como Cassian Andor, assim como o elenco – na maioria, caras pouco conhecidas – que se sai muito bem, com destaque para Denise Gough como a implacável oficial de inteligência Deidra Meoro (acima).

Entre os conhecidos estão Stellan Skarsgård (Ninfomaníaca) com seu Luthen, chefe da espionagem da Rebelião; Fiona Shaw (Killing Eve) como Maarva, mãe adotiva do protagonista; Andy Serkis (O Planeta dos Macacos) no papel de Kino, encarregado de seu setor na prisão; Forrest Whitaker como o recorrente Saw Gerrera, de Rogue One e das animações; e Genevieve O’Reily, voltando como a senadora Mo Motha de Rogue One e A Vingança dos Sith.

Agora nos resta esperar a segunda – e última – temporada de Andor, com filmagens em andamento. Quer dizer, se Kathleen Kennedy não fizer outra besteira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *