Review | Um Lugar Silencioso

Nem sempre o cinema irá se dispor a criar discussões ou se apoiar em simbolismos, analogias e lições de moral para entreter. O escapismo está muito presente por aí, seja nas comédias, nas aventuras, assim como no terror e no suspense.

Pode-se dizer que Um Lugar Silencioso é um exercício de tensão e um filme escapista. Não mais que isso. Não que isso seja um demérito, o grande problema é que a proposta do diretor John Krasinski (13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi) respira demais do ar reciclado do gênero e precisaria de algo a mais para se diferenciar.

De 2016 até hoje, pudemos conferir quatro filmes com propostas semelhantes à de Um Lugar Silencioso. Um deles pode incentivar o debate e exige mais do espectador, enquanto os demais também servem como mero entretenimento, muito embora sejam eficientes em brincar com o espectador em seus mistérios.

Rua Cloverfield, 10 e O Homem nas Trevas são os grandes acertos neste sentido, dois filmes que funcionam tanto em desenvolvimento de personagens quanto em crescimento de tensão. Até mesmo Hush: A Morte Ouve – que particularmente não gosto – soube seguir por caminhos ousados e agradou diversos fãs do gênero. As três produções são de 2016.

Ao Cair da Noite (2017) carrega diversas semelhanças com Um Lugar Silencioso, que podem ser notadas desde o trailer. Enquanto há uma ameaça lá fora, existe uma família tentando permanecer unida e fora de perigo. Porém, as execuções divergem: um deles traz conteúdo e menos barulho; o outro, barulho demais e nada de conteúdo.

É até engraçado notar que Michael Bay (da franquia Transformers), conhecido por explosões barulhentas e megalomaníacas, seja um dos produtores de Um Lugar Silencioso. Será que ele se deu bem arriscando seu suado dinheiro nessa área?

Cumplicidade

Logo de cara, somos apresentados a uma mensagem de “89 dias” e uma família composta pela mãe (Emily Blunt, de A Garota no Trem), pai (Krasinski) e três filhos: uma deficiente auditiva (Millicent Simmonds, de Sem Fôlego), um mais medroso (Noah Jupe, de Extraordinário) e o menor (Cade Woodward).

Fica nítido que a cumplicidade e a cooperação entre eles devem ser máximas, já que uma ameaça que pode atacá-los ao menor barulho é iminente, e toda a comunicação se dá por meio de gestos e luzes. Depois de certo evento – que não contaremos aqui –, o filme dá um longo salto no tempo, mais de um ano depois. Por isso, há de se esperar que os personagens já estejam mais habituados em suas rotinas e tenham mais malícia ou inteligência em suas atitudes.

Um pequeno detalhe – que também não contaremos aqui – vai contra meu senso de “proteger a família e evitar ameaças futuras”, por isso vou me abster ao “proteger a família”. Ora, se há uma ameaça que vem dizimando grandes cidades, que faz imprescindível o silêncio e a máxima de que “família unida permanece unida”, por que se afastar?

Não faltam momentos nos quais os personagens saem em duplas ou sozinhos por aí, correndo sérios riscos. Não possuem um plano para conter a ameaça e ainda não chegaram a nenhum esclarecimento sobre ela. É possível compreender isso, mas não a “coragem” de se arriscar por aí já sem uma estratégia de defesa ou ataque.

Outro problema de Um Lugar Silencioso é a ameaça. Apresentada cedo demais, logo fica possível prever sua maneira de agir. Isso não seria um problema caso Krasinski soubesse variar suas formas de ameaçar os personagens e de nos assustar, porém isso se dá sempre da mesma forma: barulho perto, ameaça é atraída; barulho mais alto ao longe, ameaça sai de perto.

Um Lugar Silencioso começa muito bem e o silêncio da sala de cinema ajuda na imersão, porém, a partir do momento em que a ameaça entra em ação, o suspense perde em originalidade, podendo até causar certa tensão. Mas a verdade é que você já viu muito disso por aí, e diversas vezes executada de melhor maneira.

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