Review | Uma Dobra no Tempo

Antes de começarmos a falar sobre Uma Dobra no Tempo, é preciso tratar um aspecto relevante de sua produção, numa época em que a representatividade tem sido tão falada. Sem soar tão militante, o novo filme da diretora Ava DuVernay (Selma: Uma Luta pela Igualdade) – a primeira negra a dirigir um filme com orçamento superior a 100 milhões de dólares – conta também com uma protagonista negra, a pequena Storm Reid (12 Anos de Escravidão), mas tudo isso é entregue de forma extremamente natural para o público infantojuvenil.

Antes do início da sessão, a própria DuVernay deixa uma mensagem aos espectadores sobre as intenções de sua obra. Mesmo voltada para o público dos 8 aos 12 anos, o filme deve despertar a criança dentro de cada adulto que se deixar levar pela magia de Uma Dobra no Tempo, uma fábula criada com tons de autoajuda.

Baseado no livro homônimo de Madeleine L’Engle, escrito há mais de 50 anos, o longa começa com uma breve conversa entre o cientista Dr. Alex Murry (Chris Pine, da trilogia Star Trek) e sua filha Meg (Reid) sobre a importância do amor, pouco antes da chegada de seu irmão adotivo Charles Wallace (Deric McCabe). Depois de quatro anos do desaparecimento do pai, Charles e Meg irão embarcar em uma aventura pelo universo, acompanhados do amigo Calvin (Levi Miller, de Peter Pan) e guiados por três mulheres celestiais: Sra. Quem, Sra. Qual e Sra. Quequeé.

Uma Dobra no Tempo é um filme didático, onde não faltam momentos em que os personagens dirão frases de “biscoito da sorte” e de grandes mentes como William Shakespeare – geralmente proferidas pela personagem Sra. Quem (Mindy Kalling, da série The Office). Tudo isso serve de forma lúdica às crianças, uma vez que o roteiro de Jeff Stockwell (Ponte para Terabítia) e Jennifer Lee (Zootopia – Essa Cidade é o Bicho) aborda alguns temas da pré-adolescência como bullying e rejeição.

Elo fraco

Aliás, este talvez seja o elo fraco do filme, já que as abordagens são rasas e breves demais. Nem mesmo as constantes frases prontas e lições de moral conseguem dar força ao texto, transformando a produção em um apanhado de boas intenções que, reunidas, não possuem substância. No entanto, ainda é possível se divertir com a viagem pelo universo na presença soberana de Oprah Winfrey (A Cor Púrpura), como a Sra. Qual, e da atrapalhada Sra. Quequeé (Reese Witherspoon, de Legalmente Loira).

Mesmo sendo extremamente colorido e com belas tomadas aéreas, Uma Dobra no Tempo não chega a ser um espetáculo visual e interdimensional como Doutor Estranho (2016) ou até mesmo Um Olhar do Paraíso (2009), de Peter Jackson, mas em cenas os efeitos se sobressaem, principalmente em Camazotz – uma espécie de ponto negro no universo onde o mal habita – onde Meg é confrontada por uma “versão melhorada” dela própria, num grande acerto do longa ao mostrar como esta idealização pode atingir as crianças.

Uma Dobra no Tempo irá decepcionar alguns, seja pela falta de profundidade em abordar seus dramas, seja pelo aspecto aventuresco pouco explorado durante a jornada de Meg e Charles Wallace. Ainda assim, boa parte do público infantojuvenil deve se envolver com a história, já que seus personagens são carismáticos.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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