Review | Hollywood

Com a grife de Ryan Murphy, o premiado criador de Glee, American Horror Story e American Crime Story, Hollywood chegou na Netflix cercada de expectativa. A ideia era mais ou menos criar uma realidade alternativa a partir da Hollywood pós-guerra, com eventos que criariam espaço para gays e negros no starsystem e nos bastidores da indústria. A trama fictícia seria alimentada por acontecimentos reais da época. Parece Era uma Vez…em Hollywood, de Quentin Tarantino? Talvez nas intenções, mas faltou execução.

Ao tratar de temas pesados como prostituição, preconceito racial e de gênero com um tom farsesco, emulando as produções dos anos dourados do cinema americano, a série tenta dar leveza à trama, mas causa mais um descompasso com a direção de atores. As atuações chegam a ser constrangedoras de tão caricatas, e há um evidente desperdício de talento, casos de Darren Cris (vencedor do Emmy e do Globo e Ouro por O Assassinato de Gianni Versace) e Laura Harrier (revelada em Homem-Aranha: De Volta ao Lar e muito bem em Infiltrado na Klan), e mesmo veteranos como Patti Lupone (lenda da Broadway), Dylan McDermott, Queen Latifah e Rob Reiner fazem participações mais afetivas que efetivas. A expectativa gerada por Jim Parsons em seu primeiro grande papel após The Big Bang Theory foi uma grande “bazinga”: seu personagem tem uma virada no último episódio mal explicado e motivado.

Referências

O que talvez seja mais interessante são as referências a fatos reais e pouco conhecidos sobre os bastidores de Hollywood, também conhecidos como fofocas. O gigolô vivido por Dylan McDermott, ErJanie West, é baseado em Scotty Bowers, que alegou ter sido acompanhante e amigo de diversos astros ao longo de décadas; existiu mesmo uma atriz Peg Entwistle, cujo suicídio foi a base do roteiro escrito por Archie Coleman (Jeremy Pope); Anna May Wong (Michelle Krusiec) foi a primeira estrela oriental de Hollywood e de fato perdeu o papel de sua vida para Luise Reiner em A Boa Terra; o agente vivido por Parsons, Henry Wilson, também é verídico e foi tão FDP quanto; as estrelas Tallulah Bankhead (Paget Brewster) e Vivien Leigh (Katie McGuinness) tinham mesmo uma extensa lista de amantes, e famosos encabeçados por Rock Hudson (Jake Picking), George Cuckor, Cole Porter, Noel Coward passaram suas vidas e carreiras no armário por força do preconceito vigente.

Mas a série não dá o peso merecido a esses dramas, possivelmente para não cair no dramalhão e favorecer a fantasia hollywoodiana, como o happy end na cerimônia do Oscar. Só que não funciona: é fake e nada convincente.

Ao final, ninguém se salva desse desastre politicamente correto. Note-se que ele não é ruim por dar uma visão idealista da afirmação da diversidade e empoderamento feminino: é ruim por que é mal feito.

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