Review | Trama Fantasma

De acordo com o próprio Daniel Day-Lewis, este Trama Fantasma é seu último trabalho no cinema. A aposentadoria de um dos maiores atores de sua geração não chega a ser uma surpresa. Quem conhece a impecável filmografia de Daniel sabe que o ator não costuma sair de casa para fazer qualquer filme. Aos 60 anos, e com três Oscars na prateleira, a precoce aposentadoria do astro entristece a maioria dos cinéfilos, mas pelo menos sua despedida pode ser conferida em grande estilo.

Nesta sua última atuação, Lewis une-se novamente ao diretor e roteirista Paul Thomas Anderson. A dupla que realizou a obra-prima Sangue Negro em 2007, agora repete a elogiada parceria, dessa vez numa produção mais linear, mas nem por isso menos fascinante ou arrebatadora.

Paul Thomas Anderson já coleciona oito indicações ao Oscar – como diretor, roteirista e produtor – e inacreditavelmente nunca saiu vitorioso. Espera-se que este erro seja futuramente corrigido pela Academia, já que Anderson é um grande contador de histórias. Ao contrário de outros realizadores contemporâneos, que demonstram arrogância em obras bastantes pretensiosas – sim, estou falando de você, Darren Aronofsky – Paul colhe elogios da crítica por méritos próprios, se arriscando e acertando sempre em cada novo trabalho.

Trama Fantasma apresenta Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), um talentoso e renomado estilista. Junto a sua irmã, Cyril (Lesley Manville), fez muito de seu nome ao vestir grandes membros da alta sociedade de Londres. Suas criações são extremamente cobiçadas. Woodcock também é um homem charmoso e que atrai a atenção de muitas mulheres. No entanto, mesmo despertando tantos interesses, Woodcock não é dado ao romance, sua dedicação ao trabalho não é abalada por coisas mundanas. Eis que surge a jovem Alma (Vicky Krieps), uma garçonete que acaba se tornando não só a sua amante, mas também sua modelo e musa inspiradora.

Sob comando de outros diretores, Trama Fantasma não passaria de um bom drama de época. Nas mãos de Anderson, o filme ganha contornos intrigantes, principalmente na construção de seus personagens. A produção é impecavelmente bem realizada. Mesmo com poucos personagens e cenários, tudo é apresentado na medida certa. Cada canto é minuciosamente explorado. A câmera de Anderson está sempre no lugar certo.

À moda antiga

Anderson consegue apresentar um suspense à moda antiga, que se desenvolve no seu próprio ritmo, sem recorrer ou apelar para clichês. Mesmo com uma trama clássica, foge das previsibilidades, entregando um final que arrebata toda a história, num clímax pouco convencional. A trilha sonora de Jonny Greenwood  ajuda na construção dos personagens e principalmente na personalidade de Woodcock. O mesmo pode ser dito dos deslumbrantes figurinos, que aqui parecem mais um personagem do filme.

O grande destaque da produção é a relação entre Woodcock e Alma. A guerra de nervos entre os personagens não caminha para uma resolução comum. Nesse momento, os dois personagens entram em confronto e o espectador fica atônito, sem saber quais serão suas próximas investidas.

Os três personagens principais são suficientes para amarrar toda a história e contam com três grandes interpretes. Fica evidente em cada cena o motivo pelo qual Daniel Day-Lewis fará tanta falta nas telas. O ator em cena é uma daquelas figuras que conseguem criar um trabalho de composição que preenche toda a tela, seja em cenas que requeiram grandes conflitos, ou em momentos mais minimalistas, onde só o olhar ou os gestos já dizem tudo. Daniel transmite todos os vícios, inseguranças e a genialidade do personagem com tamanha precisão que fica difícil imaginar outro ator para o mesmo posto. Lesley Manville e Vicky Krieps conseguem destaque em meio ao desempenho hipnótico de Daniel. O destaque acontece porque Anderson sabe o que fazer com as personagens e como a presença delas é importante para a trama e para a maneira com que Woodcock age.

Em meio a uma trama repleta de ciúme, inveja, cinismo, posse e provocação, Trama Fantasma evidencia o talento de Paul Thomas Anderson em criar e contar histórias, respeitando o tempo que cada uma precisa para se resolver. Elegante e intelectual, o filme chega ao Oscar 2018 com seis indicações: Melhor Filme, Direção, Ator, Atriz Coadjuvante para Lesley Manville, Melhor Trilha Sonora e Figurino.

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