42ª Mostra SP | Confira nossos primeiros Reviews do evento internacional

Já noticiamos aqui a 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece de 18 a 31 de outubro na capital paulista e em Campinas. No entanto, Angelo Cordeiro, integrante da equipe Nerd Interior, já conferiu alguns filmes exibidos especialmente para a imprensa e que reunimos aqui, para você conferir as primeiras novidades deste grande evento.

Culpa (Den Skyldige) – Nota 8.0

Thriller dinamarquês eficiente onde o trabalho de som acaba sendo o grande diferencial. É agoniante ver o protagonista Asger, um policial em fim de turno, recebendo e fazendo ligações de emergência de sua mesa sem poder sair dali para ajudar as vítimas das ligações que recebe, uma em especial, a qual é o principal atrativo de Culpa.

Gustav Möller brinca com o ambiente, as luzes, as expressões de Asger e, principalmente, com o que ouvimos do outro lado da linha. É um jogo onde som e imaginação se unem de maneira eletrizante e fazem de Culpa uma tensa experiência com boas surpresas e reviravoltas.

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Verão (Leto) – Nota 7.0

Em Verão, nos idos dos anos 80, acompanhamos um grupo de jovens músicos vivendo a ascensão da cena underground em Leningrado, entre eles Viktor Tsoi e Mike Naumenko, pioneiros do rock russo.

A fotografia em preto e branco dá a sensação estarmos assistindo às lembranças de uma época da qual se lembra com carinho e à qual se deve muito, graças à luta, música e letras daqueles personagens.

Em alguns momentos da primeira hora podemos perceber um ambiente de repressão e censura, como quando em um show do grupo Zoopark uma garota no meio de uma plateia sentada e quase imóvel é repreendida por erguer um cartaz com um coração desenhado.

Kirill Serebrennikov deixa claro para o espectador que aqueles jovens viviam uma realidade bastante diferente da das bandas nas quais eles se inspiravam e que eram de países tidos como inimigos da então União Soviética.

Os números encenados como videoclipes de Psycho Killer, dos Talking Heads, e The Passenger, de Iggy Pop, entre outros, são os gritos de liberdade daqueles jovens. Embora ótimas enquanto protesto e expurgo, tais cenas têm sua tensão e impacto diminuídos quando certo personagem aparece para dizer que nada daquilo é real ou que aquilo jamais aconteceria.

É pena também que Serebrennikov insista em um insosso triângulo amoroso entre Viktor, Mike e sua esposa Natalya que não causa tensão alguma, já que Mike compactua e aceita de maneira apática os desejos de sua esposa, assim como Viktor nunca demonstra ser uma ameaça para o mestre, essa escolha tira muito do peso da história na hora final, que só ganha em conteúdo exatamente quando foca em discussões do trio com a censura acerca das letras de suas músicas. 

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Sofia – Nota 6.0

A diretora Meryem Benm’Barek-Aloïsi conta a história de maneira muito fria, diria até bastante dura – há uma cena no terceiro ato entre Sofia e seu marido que é bastante cruel – falta compaixão do roteiro e dos demais personagens com Sofia, mas não só, parece que até mesmo Sofia carece de paixão por si e por seu filho, em certa altura ela renega o próprio bebê recém-nascido.

Os sorrisos falsos e o casamento espalhafatoso em nome da honra da família, na cena final, são um retrato de como ainda há tanto atraso quando se fala em liberdade feminina mundo afora. Um filme que critica a sociedade patriarcal por moldar as mulheres de uma maneira alheia à que elas querem.

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Pedro e Inês – Nota 7.0

Com uma narrativa multilinear que se divide em três épocas diferentes – onde a quarta seria uma espécie de plano ancestral – Pedro e Inês é um filme sobre o amor além do tempo entre duas almas que parecem ter sido prometidas a si pelo destino.

Baseado no romance A Trança de Inês, que se inspira na lenda de Dom Pedro I e Inês de Castro, o filme tem seu ponto de partida exatamente em meados do século XIV, quando Dom Pedro (Diogo Amaral), herdeiro do trono, tem seu casamento arranjado com Constança (Vera Kolodzig), porém, é pela bela Inês (Joana de Verona) por quem ele se apaixona, e ambos lutarão por esse amor até o fim.

No presente e no futuro a história se repete, ou melhor, os mesmos personagens são colocados nestas épocas distintas, compartilhando apenas o amor entre Pedro e Inês, sendo que no futuro – pra mim, a mais envolvente das histórias – encontramos uma sociedade distópica que vive sob estilo rural, quase naturalista, onde os casamentos são arranjados por um guru espiritual em prol da perpetuação da linhagem e espécie.

Nas três histórias, apesar de Afonso (João Lagarto), o pai de Pedro, ser sempre uma ameaça, o maior papel de oposição ao amor de Pedro e Inês fica para Constança, aquela que a princípio parecia ser a sua prometida, mas que sempre se revela uma amarga rejeitada em busca de vingança.

O amor entre Pedro e Inês é tão forte que é capaz de superar estas três divisões de tempo e ir para uma além, onde Pedro está numa espécie de clínica de repouso e, entre devaneios e visões de sua amada, anseia pelo momento em que finalmente ficarão juntos.

Apesar do tom novelesco e episódico, principalmente na transição seca das cenas e dos períodos que não conversam entre si, a repetição dos plots e dos personagens (sempre a mesma luta pelo amor proibido), assim como o pobre design de produção exageradamente clean, o diretor António Ferreira consegue harmonizar as peças deste romance com tons de tragédia de uma maneira que compreendemos a ideia de que o amor destas duas almas pode superar quaisquer adversidades, sejam as barreiras sociais, a família, a inveja e, principalmente, o tempo.

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A Odisseia de Peter – Nota 7.0

A Odisseia de Peter é um coming-of-age russo levado de maneira sutil e delicada mesmo com as provações que o jovem protagonista passa. O garoto Peter de 12 anos, após mais um verão na casa de campo da avó, recebe dos pais a dura notícia de que a família se mudará para a Alemanha. Ele encara sua odisseia com as dificuldades de alguém que ainda não se preocupava com as mazelas do mundo, por isso, enfrentá-las de maneira abrupta e solitária é visto como uma tortura por alguém tão jovem.

A princípio, Peter se isola, tem dificuldades para se adaptar ao alemão e em fazer amigos na escola, além disso, constantemente perde a hora por causa dos sonhos que tem toda noite, mas é justamente nessas memórias que ele encontra sua zona de conforto e calor humano, mesmo que por memória afetiva.

A dupla de diretores Anna Kolchina e Alexey Kuzmin-Tarasov tem absoluto controle do drama de Peter, seja para simbolizar o isolamento do garoto, como na cena em que crianças estão correndo pelo pátio da escola e, repentinamente, somem com a chegada de Peter, como também ao recriar as memórias e ilusões em espaços abertos ou ensolarados, onde Peter reencontra a amiga por quem é apaixonado, sua avó e a casa de campo que tanto adora e até mesmo lendas de sua terra natal.

Há também algumas cenas e passagens típicas e clichês de um coming-of-age, como o primeiro beijo e a briga com os valentões da escola, mas até nisso a direção acerta, misturando amargor e doçura na mesma medida, levando o protagonista a experiências que o ajudarão em seu amadurecimento.

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Família Submersa – Nota 4.0

Família Submersa, da diretora María Alché, é um filme difícil. É o estilo argentino de Lucrécia Martel (Zama) fazendo escola, que confesso não ser meu tipo de cinema favorito. Para piorar, não me agrada a mistura fantasia/realidade quase que lynchiana que Alché faz aqui.

Uma família como outra qualquer, mãe, pai e filhos dividindo o mesmo pequeno apartamento, com o enterro da irmã da protagonista sendo o ponto de partida do luto que aflige a mãe, vivida por Mercedes Morán, que passa a ter que se dividir entre encarar os fantasmas do passado e seguir com sua vida.

É difícil acompanhar o dia a dia desta família porque a história parece não sair do lugar, ficamos presos no apartamento cercados daquelas pessoas, objetos e plantas a todo instante, vemos a mãe sempre chorando pelos cantos, tendo visões de pessoas de outra época e acabamos sentindo toda aquela angústia e mal-estar.

Isso dá a Família Submersa a sensação de que estar ali naquele apartamento é estar submerso e parado no tempo. Uma sensação provavelmente causada de forma proposital por Alché, mas que deixa a história sem uma grande mensagem a ser passada, contentando-se em ser um filme sensorial e introspectivo, sem redenções ou maiores propósitos para seus personagens.

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