Review | A Noite das Bruxas (Star+)

A Noite das Bruxas mal saiu dos cinemas e já está sendo anunciado pelo Star+ para o dia 31 deste mês. É a terceira vez que Kenneth Branagh dirige uma adaptação de Agatha Christie, interpretando seu personagem mais famoso, o detetive belga Hercule Poirot.

Curiosamente, a série dos anos 70 também começou com Assassinato no Expresso do Oriente e continuou com Morte sobre o Nilo. A diferença é que, em sua terceira adaptação, Branagh preferiu um texto menos conhecido, ao invés de Assassinato Num Dia de Sol, como a que foi lançada em 1982 com Peter Ustinov como Poirot.

Além disso, ele mudou o nome original Hallowe’em Party para A Haunting in Venice, ou Maldição em Veneza (sendo que o romance se passa na zona rural da Inglaterra), e encomendou ao roteirista Michael Green uma história praticamente original, em contraste à fidelidade que o mesmo manteve nas adaptações anteriores.

Se o Orient Express de 2017 seguia a fórmula de superprodução do antecessor de 1976, e Morte no Nilo, de 2022, foi uma produção kitsch em meio a locações no Egito, desta vez o diretor decidiu fechar a câmera, num mise-em-scène teatral, que lembra aquelas montagens em que a peça percorre uma casa ao longo da história.

Branagh também prossegue na construção de uma história pregressa de Poirot antes de se mudar para Inglaterra, envolvendo um amor perdido e trauma de guerra – inexistente na obra de Agatha Christie – porém, mais discretamente.

Autoexilado em Veneza (como o Gustav Von Aschembach de Thomas Mann/Luchino Visconti?), o detetive do bigode encerado passa os dias desprezando potenciais clientes e recebendo apenas o confeiteiro, quando a velha amiga e escritora de mistério Ariadne Oliver (a comediante Tina Fey) aparece para desafiar seu ceticismo em relação ao além-morte.

A famosa soprano Rowena Drake (Kelly Reilly, hoje famosa pela série Yellowstone) fará uma sessão espírita em seu palazzo com a médium Mrs. Reynolds (a vencedora do último Oscar de Atriz, Michelle Yeoh) para contatar a filha Alicia, morta no ano anterior.

Como em todo bom whodunit (ou, “quem matou?”), os convidados ficam presos na casa em meio a uma tempestade, enquanto Poirot tenta desvendar o mistério. Entre os ilhados/suspeitos estão o médico Leslie Ferrier (James Dornan, de Cinquenta Tons de Cinza) e seu filho Leopold (Jude Hill, descoberto em Belfast).

O fato do roteiro ter alterado significativamente a obra original faz com que o filme surpreenda os leitores de Christie, e a encenação em Veneza junto com o pano de fundo operístico cria um clima interessante, bem diferente das aventuras pregressas do Poirot de Kenneth Branagh. E, se a bilheteria ajudar, nada indica que o ciclo se encerrará numa trilogia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *