Review | Carcereiros – O Filme

Inspirado no livro Carcereiros, de Drauzio Varella, há neste Carcereiros – O Filme uma tentativa de assimilar o dia a dia de uma prisão – tema explorado em duas temporadas na série televisiva homônima – aliado ao apelo dos filmes do gênero, mas o resultado é aquém – tanto em ação quanto em drama – e o diretor José Eduardo Belmonte não se faz valer do espaço claustrofóbico, desumano e violento para desenvolver seus personagens ou trabalhar seus temas. E tal superficialidade em um filme escrito a quatro mãos (Dennison Ramalho, Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Marcelo Starobinas assinam o roteiro) é um grave problema de coesão e comunhão de ideias.

Na história, Adriano (Rodrigo Lombardi) é um carcereiro íntegro e avesso à violência, ele tenta garantir a tranquilidade no presídio controlando os líderes das facções locais. A chegada de Abdel (Kaysar Dadour), um perigoso terrorista internacional, aumenta a tensão no presídio. Agora, Adriano terá que enfrentar uma rebelião além de controlar todos os passos de Abdel.

Embora seja louvável ver nosso cinema enveredar por esta seara dos filmes de gênero nos últimos anos, Carcereiros – O Filme abusa dos clichês e das falas risíveis, nos induzindo à vergonha alheia. A frase “eu não sou bandido, só matei minha mulher” ganha tons ridículos em meio a um momento de tensão; além disso, não é de se esperar a superficialidade vista em personagens baseados numa história de Drauzio Varella – que já nos mostrou do que é capaz em Carandiru – no entanto, dada a sequência dos acontecimentos, Belmonte e os roteiristas não parecem dispostos a humanizá-los ou estudá-los, mas apenas em torná-los alvos em movimento e futuras vítimas de algum tiro.

Questionáveis

Pra piorar, algumas escolhas se mostram questionáveis ou mal exploradas, como o carcereiro Adriano, que deveria ganhar em camadas por estar no centro da tensão entre bandidos e Estado, mas tem seu drama familiar limitado a uma cena com a filha e na prisão corre para todos os lados sem conseguir resolver muita coisa. Temos ainda a inusitada escalação do comediante Rafael Portugal, que interpreta um evangélico fanático, sendo difícil conter a risada a cada pregação. Para finalizar as curiosidades absurdas, existe a ala dos gravatas, onde ficam os criminosos de colarinho branco, banqueiros, políticos, empresários, que servem apenas como um gancho para o atual momento político do país onde discute-se as delações premiadas.

Quando o assunto é ação, Carcereiros – O Filme não é capaz de trabalhar com a sonoplastia, explosões e pirotecnias que o cinema atual proporciona. As sequências são escuras e a câmera de Belmonte treme demais, ficando quase impossível sabermos quem atira e quem é alvejado e, por mais que a história tente colocar Adriano no meio desses tiroteios como um ponto de equilíbrio, as sequências nunca se tornam proveitosas ao espectador entusiasta de bons filmes de testosterona – faltam soluções óbvias utilizadas em filmes de sucesso do gênero nos últimos anos: planos-sequência, visão noturna e noção de espaço: por mais que as plantas da prisão e as câmeras de segurança nos mostrem os corredores, alas e cantos do complexo nunca sabemos de fato onde os invasores ou os demais presos estão.

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