Review | Eternos

Mais uma vez, a Casa de Ideias da Marvel se superou. Conseguiu adaptar de forma convincente um conceito bizarro das HQs e encaixá-lo nos acontecimentos da Saga de Thanos, explicando por que seres tão poderosos não ajudaram os Vingadores na crise da Guerra Infinita e Ultimato.

Jack Kirby criou os Eternos sob o impacto de Eram os Deuses Astronautas?, livro de Erich Von Daniken, há anos desacreditado, mas que ainda ocupa grande parte da grade do History Channel. De um lado, havia os belos seres intergaláticos criados pelos quase divinos Celestiais, e do outro, o subproduto desse processo, mutações genéticas malignas, os Deviantes, feios e disformes. Era tolo, maniqueísta e uma apologia à eugenia, quase o oposto simbólico dos X-Men.

O roteiro de Patrick Burleigh, Ryan e Kaz Firpo e da própria diretora Chloé Zao muda tudo isso e só não gerou um tsunami de críticas como Homem de Ferro 3 porque ninguém se importa com os Eternos das HQ. Isto é um elogio, porque acho a solução dada para o Mandarim naquele filme engenhosa e adaptada aos nossos dias (O tempo não para…).

O filme começa com os Eternos chegando à Terra em 5.000 a.C., exatamente na Mesopotâmia, considerado pelos livros de História escolares como o Berço da Civilização (hoje isso já é contestado, mas vá lá). Eles evitam que os Deviantes exterminem os sumérios ante que eles ergam seus zigurates. Salto no tempo e encontramos Sersi (Gemma Chan) em Londres, onde atua como professora e namora o colega Dane Whitman (o fã de quadrinhos já sabe quem ele é, porque não se se escala Kit “Jon Snow” Harrington à toa).

Quem também mora na capital inglesa é Sprite (Lia McHugh, de O Chalé), condenada a ser uma eterna pré-adolescente (maldição pior, não há). Um ataque deviante traz de volta Ikaris (Richard Madden, o Robb Stark de Game of Thrones), ex de Sersi, que a abandonou há meros cinco séculos.

Descobrimos que a equipe original se dispersou no México, durante a queda do império Azteca, quando supostamente haviam eliminado os Deviantes. Com o ressurgimento destes, Sersi, Sprite e Ikaris partem em busca de seus colegas Ajak (Salma Hayek), Kingo (Kumail Nanjiani, de Doentes de Amor), Thena (Angelina Jolie), Gilgamesh (Don Lee, de Invasão Zumbi), Fastos (Bryan Tyree Henry, de Se a Rua Beale Falasse), Druig (Barry Keoghan, de Dunkirk) e Makkari (Lauren Lidloff, de O Som do Silêncio), espalhados pelo mundo.

Zona de conforto

A direção de Chloé Zao realmente tira a Marvel de sua zona de conforto, focando nas relações entre os personagens (rola até sexo!) em meio a vastas paisagens naturais deslumbrantes, como já visto em Nomadland (mas há um erro de Geografia de lascar envolvendo a nosotros). Ao contrário do filme ganhador do Oscar, esta é uma aventura de super-herói, e é aí que os questionamentos surgem.

O ritmo incomodou muita gente, assim como as cenas de ação. Sobre o primeiro, acho necessário para o que se pretende fazer, pois a despeito da ameaça planetária, são as interações dessa família disfuncional que faz a trama andar e se resolver. Quanto ao segundo, há uma certa razão, já que não é a especialidade da diretora, mas não chega a comprometer o todo.

Surpreende o protagonismo da desconhecida Gemma Chan em meio a um elenco com duas estrelas veteranas e dois dos irmãos Stark. A própria atriz achava que tinha queimado seu cartucho na Marvel ao interpretar Minn-Erva em Capitã Marvel, mas ela foi abordada por Kevin Fiege durante a turnê promocional de Podres de Ricos para um novo trabalho.

Foi um acerto, porque ela segurou o rojão e tem tudo para se firmar com uma nova heroína do Universo Cinematográfico Marvel. No resto do elenco, se destacam Kumail Nanjiani como alívio cômico e o ótimo Bryan Tyree Henry, colocado num contexto delicado, mas que é conduzido de forma digna e sem apelações.

Atenção para as duas cenas pós-créditos, que são importantes para o que vem a seguir.

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