Review | Sly (Netflix)

Desde sua criação, o cinema é feito de verdadeiros ícones. Sejam eles glamourosos, rebeldes, gênios, aproveitadores – ou seja lá qual for o adjetivo usado – estas figuras movimentam a chama de Hollywood e presenteiam (quase sempre) o público com momentos de drama, ação, romance, comédia e suspense.

Mas você já parou para pensar de onde estes ícones surgiram? Como chegaram ao estrelato e marcaram a história da sétima arte? O documentário Sly, disponível na Netflix, nos apresenta uma destas histórias improváveis em que o talento supera qualquer obstáculo, contada por ninguém menos que Sylvester Stallone, criador de personagens como Rocky Balboa e Rambo.

Sylvester Gardenzio Stallone nasceu em Hells Kitchen, bairro na periferia de Nova York, onde viveu sua infância e início de juventude. Aqui, o ‘ideal’ seria dizer que estes anos foram vividos ao lado dos pais Frank Stallone e Jackeline Labofish, mas nenhum dos dois se fez presente em sua vida.

Sem perspectiva, a família muda-se para Maryland, mas a mãe logo desaparece de sua vida. Seu pai, embora pouco presente, é sua única referência, mesmo que pouco positiva. Fã de cinema, Sylvester resolve fazer o que muitos jovens fazem: tornar-se ator.

Início

Os relatos do início de carreira escondem detalhes sórdidos da carreira de Stallone. Enquanto o astro comenta que fez “alguns filmes sem camisa”, o documentário não cita o filme pornô feito em 1970, quando o aspirante a ator passava enormes dificuldades e chegou a dizer, em outras entrevistas, que “era fazer aquele filme ou roubar alguém, porque estava no fim de minhas forças”.

Se o documentário ‘passa pano’ para eventos como este, deixa bem claro que Stallone passou inúmeras dificuldades. No entanto, não são elas que fazem de Sly um documentário poderoso. Mas sim a mensagem que provém da força de vontade do futuro astro.

Depois de conseguir um papel em The Lords of the Flatbush (1974), Stallone voltou a enfrentar dificuldades até que, após assistir uma luta entre Muhammad Ali e Chuck Wepner, teve a inspiração do que viria a ser o grande projeto de sua vida: Rocky.

Escritor de mão cheia, Stallone finalizou o roteiro de Rocky e passou a buscar estúdios que abraçassem seu sonho. Aqui, mais uma vez, o lembraram que sua boca torta (fruto de um parto mal feito) e seus olhos caídos nunca o permitiram ser o que esperava.

Mas Sylvester não estava interessado em negativas e mesmo passando dificuldades, negou diversas propostas por seu roteiro, até que seu pedido foi atendido. Com direção de John G. Avildsen, o filme estreou em 3 de dezembro de 1976 e… o resto é história.

Amor

Diferente do que na época em que o filme estreou, hoje Stallone não tem receio de afirmar que Rocky é uma história de amor com o boxe como pano de fundo. No entanto, também não nega o poder da história do renegado que chega à elite, enfrentando diversos obstáculos poderosos, que permitiram ao público criar uma identificação imediata com o personagem.

Depois do sucesso e de faturar três Oscar, entre eles de Melhor Filme, a pergunta era: qual seria o próximo passo de Stallone? Muito além dos questionamentos, o ator, roteirista e diretor precisou aprender a lidar com a fama repentina.

Bem, aqui a história não é muito diferente de tantos astros, mas daremos um pulo no tempo, até outro ponto importante de sua história: o nascimento do astro de ação.

Rambo

Baseado no livro de David Morrel, lançado em 1972, Rambo: Programado para Matar chegou aos cinemas em 22 de outubro de 1982 e mostrava um soldado regresso do Vietnã com dificuldades de ressocialização, que se torna alvo da polícia do condado de uma cidade no interior dos Estados Unidos.

O longa, um drama pesado e de intensas cenas de perseguição, seria o embrião do Stallone astro de filmes de ação. E aqui vai uma curiosidade, que permeia a obra do astro: ao final da aventura, John Rambo acaba cometendo suicídio.

A cena, que chegou a ser gravada, foi descartada pelo ator, preocupado com sua repercussão, em uma época em que se registrava dezenas de milhares de mortes de ex-soldados, principalmente após a Guerra do Vietnã.

Erros e acertos

Após o nascimento dos personagens que marcaram sua vida, a carreira de Stallone foi marcada por altos e baixos – neste caso, a maioria deles envolto em tentativas de fazer comédia. Enquanto revisitava Rocky Balboa e Rambo, o astro se lançava em outros filmes de ação, evidenciando sua disputa com Arnold Schwarzenegger, hoje um grande amigo, antes um oponente de respeito.

Mas Sly não é apenas sobre sucessos e fracassos. É também sobre família. Stallone lamenta, por diversas vezes, ter permanecido tanto tempo longe dos filhos. Mesmo quando trouxe o primogênito – Sage Stallone, morto aos 36 anos, vítima de um ataque cardíaco – aos sets em Rocky V, foi para evidenciar seus arrependimentos junto à família.

Ao final, enquanto sua mansão em Los Angeles é desmontada – e posteriormente comprada pela cantora Adele – Stallone questiona se todo o esforço valeu a pena. Aqui, o documentário encontra o astro em seu momento mais pessoal: sua paixão evidente pelos personagens que eternizou rivalizará, por todo o sempre, com o tempo ‘desperdiçado’ nos sets, longe de sua família.

E isso, vindo de um homem sem qualquer estrutura familiar e com um pai altamente competitivo, revela o quanto podemos evoluir, mesmo com tantas dificuldades à nossa volta. Nunca escondi minha admiração por Stallone, sentimento renovado após conferir Sly. Mais do que nunca, o astro continua sendo meu canastra favorito.

Com depoimentos interessantes de Quentin Tarantino, Sly não é o documentário definitivo sobre Sylvester Stallone. Muita coisa não é dita aqui. Mas é uma oportunidade e tanto para conhecer o ator, roteirista e diretor, que enfrentou convenções para vencer em um dos locais mais inóspitos do planeta: Hollywood.

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