Review | Blade Runner 2049

Expectativa é um problema. Recentemente, o crítico Roberto Sadovski publicou uma crítica elevando Blade Runner 2049 às alturas, elegendo-o como o melhor filme do ano. Justo ele, que muito antes havia sentenciado que a produção era uma continuação desnecessária. Colegas como Ângelo Cordeiro, deste Nerd Interior, e Caio Guimarães, da TV Sol Comunidade, foram na dele e se decepcionaram, achando que o longa (bota longa nisso) não é tanto assim.

Se o filme de Dennis Villeneuve (A Chegada) dificilmente se tornará o clássico que é o original – como sempre digo, só a posteridade é capaz de fazer o veredito final de uma obra – também não é um nota 6 como classificou Ângelo. Dou 8 facilmente, pela concepção conceitual, visual e continuidade em relação à produção de 1982.

O Blade Runner de Ridley Scott (agora, produtor executivo) era uma distopia que refletia o clima pré-apocalíptico da década de 80, e nesta sequência assistimos uma continuidade daquele 2019, em que empresas como Atari ainda existem, assim como a velha União Soviética – o que faz sentido, já que a Guerra Fria era o principal motor da corrida espacial, e nesse futuro alternativo, o homem já coloniza outros planetas.

Nestes trinta anos até 2049, foram vários upgrades tecnológicos. Os replicantes não se restringem apenas às colônias extraterrestres: a nova versão desenvolvida por Niander Wallace (Jared Leto, o Coringa “nutella” de Esquadrão Suicida), que adquiriu a Corporação Tyrrell, é dócil aos comandos humanos, e apenas as versões mais antigas, incluindo os Nexus 6, são caçados pelos Blade Runner. A crise de alimentos foi sanada pelo mesmo Wallace, com fazendas de proteínas, fornecidas por insetos e larvas criadas em cativeiro. As viaturas policiais ainda voam, mas agora contam com drones (uma novidade de 2017) para apoiá-las. E finalmente, uma versão holográfica de Samantha (o software com voz de Scarlett Johansson em Ela), chamada Joi (de joy, prazer, ou gozo, em inglês), está à venda como companhia quase perfeita para homens solitários.

Há diversas referências a outros filmes influenciados por Blade Runner, dos animes como Ghost in the Shell, animações como Wall-E, e também aos quadrinhos da Metal Hurland (The Long Tomorrow, de Moebius e Dan O’Bannon, é inspiração direta para longa de 82). E assim como em 1982 apareciam punks e hare krishnas nas ruas de 2019, neste 2049 a exploração do trabalho infantil é um das imagens que remetem ao nosso 2017.

Estilo

Villeneuve exibe seu estilo, que por vezes beira o maneirismo, mas que neste caso cai como uma luva. Com um orçamento generoso, ele capricha no visual, com uma cenografia que remete, mas também vai além, com imagens deslumbrantes, como o das ruínas de Las Vegas, onde acontece uma sequência chave na trama. E a música de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer cita a trilha original de Vangelis a todo instante, comentando e destacando os momentos climáticos da trama.

Ryan Gosling, como o protagonista K, desfila seu estilo cool que se adequa ao personagem. Robin Wright é a tenente de polícia Joshi, que tem uma queda por K. A holandesa Silvia Hoeks é Luv, assistente e henchwoman de Wallace, que chega a roubar algumas cenas. O holograma de Joi é incorporado pela bela cubana Ana de Armas. Dave Bautista faz uma aparição no começo e Harrison Ford é um Rick Deckard que tem que ser resgatado da desilusão e misantropia para cumprir seu destino.

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