Review | American Gods – 3ª temporada (Amazon Prime Video)

Quando começou em 2017, American Gods trouxe para a telinha a obra de Neil Gaiman com aqueles elementos e sintaxe característicos deste grande mestre do fantástico. Mesmo quem não leu o romance original, mas conhecia Sandman, podia reconhecer sua assinatura.

Para quem não conhece a série, ela parte de uma premissa muito parecida com a brazuca Cidade Invisível: deuses antigos e modernos andam entre os encarnados como pessoas aparentemente comuns. Muitos vieram aos Estados Unidos por meio das migrações, outros – principalmente os Novos Deuses – se desenvolveram por lá mesmo, e todos dependem da adoração dos humanos para sobreviver. Para os novatos, indico a primeira temporada, mas, infelizmente, a coisa desanda já na segunda temporada.

Mudanças de showrunner e demissões mal explicadas no elenco indicavam problemas para a terceira temporada, mas os produtores e o próprio Neil Gaiman garantiram que a série retomaria os trilhos.

Isso parecia se confirmar nos primeiros episódios, com a mudança de cenário para Lake Side e do tom do protagonista Shadow Moon (interpretado pelo limitado Rick Whittle, de Os 100), agora com cabelo, mais light e com um novo interesse amoroso. E a partir daqui, SPOILERS!

O problema principal de American Gods não se resolve e até se agrava: muita promessa e pouca resolução. Durante três temporadas esperamos pela guerra que nunca chega, acompanhamos Wednesday (Ian McShane, de Deadwood, cada vez mais no piloto automático) percorrer o país atrás de possíveis aliados, com resultados cada vez mais frustrantes.

Aliás, é difícil não ter uma sensação de déjà vu no – longo –  reencontro com Demeter (Blyhe Danener, também conhecida como mãe de Gwyneth Paltrow), que remete à visita a Easter (Kristin Chenoweth) no fabuloso encerramento da primeira temporada.

A deusa do amor Bilquis (a nigeriana Yetide Badaqui, que andou participando de This is Us), um dos personagens mais legais, faz uma importante conexão com os orixás, o que é duplamente interessante para nós outros, brasileiros, mas novamente fica mais no porvir que no presente.

Mais interessante pela ambientação é o arco de Laura (Emily Browning, protagonista de Sucker Punch, quase unanimemente considerado o pior filme do “cara do momento”, Zack Snyder), com sua passagem pelo pós-vida e subsequente ressureição.

A troca de Mad Sweeney (Pablo Schreiber) por Doyle (Iwan Rheon, o inesquecível Ramsay Bolton de Game of Thrones) não diz a que veio, a não ser tapar o buraco provocado pela demissão do primeiro.

Os fãs do livro se entusiasmaram com a chegada de Moon a Lake Side, um local cercado de mistérios, em que o protagonista parece encontrar um lar, com um relacionamento romântico com Marguerite (Lela Oren, de Power). Mas a trama policial acaba ficando deslocada na trama geral, e se era para o herói encontrar seu destino, francamente!

Anticlimático

O final é tão inconclusivo e anticlimático que eu fui conferir se aquilo era mesmo o último episódio da temporada. Só se explica pela garantia de um quarto e último ano da história, que tem que ser espetacular para compensar as duas anteriores.

Esperemos que Neil Gaiman consiga fazer da adaptação de Sandman, para a Netflix, um produto menos errático e mais focado, porque American Gods prometeu muito e até agora entregou pouco. Nem mesmo a indicação de que o vilão Mr. World (Crispin Glover/Dominique Jackson/Danny Trejo) é, na verdade, um dos mais famosos deuses nórdicos (e anti-herói da Marvel), compensa o desapontamento.

Recomendo a Primeira Temporada. As demais, com muitas ressalvas.

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