Review | Liga da Justiça de Zack Snyder

Epílogo

Antes de começar a análise do #SnyderCut, uma reflexão: especialista ou não, quando você se propõe a revisar um filme, diversos fatores são determinantes. Seu conhecimento técnico é um dos mais importantes, mas não essencial quando o assunto é entretenimento.

É isso mesmo. Você pode até colocar em xeque a execução de certos pontos de determinado filme, seja sua fotografia, trilha sonora, figurino, efeitos especiais, entre outros. Contudo, ao final da exibição, o que determina sua experiência é o nível de satisfação que aquele produto consumido lhe trouxe.

Pode ser um drama, comédia, suspense, terror ou um blockbuster de ação, como este que analisaremos. A jornada de Liga da Justiça de Zack Snyder é única, por se tratar de um longa-metragem que já fora lançado em 2017, mas que chegou aos cinemas do mundo inteiro bem diferente do que seu autor imaginava.

As razões para tanto, muitos conhecem, mas vamos a um breve resumo: depois de comandar O Homem de Aço (2013) e Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), Snyder emendou a produção de Liga da Justiça.

No entanto, pouco depois do início das filmagens, recebeu a notícia do suicídio de sua filha Autumn. Sem condições de continuar e recebendo pressão dos executivos da Warner para buscar um tom mais ameno para a reunião dos maiores ícones da DC Comics nos cinemas, Zack e sua esposa Deborah, produtora-executiva do filme, optaram por deixar a produção.

Sem cogitar a possibilidade de adiamento, os executivos da Warner resolveram convocar Joss Whedon, que havia dirigido Os Vingadores (2012) e Vingadores: Era de Ultron (2015), com enorme sucesso.

O resultado final, que sequer leva o nome de Whedon como diretor, foi um grande fracasso de público e crítica, com pouco mais de 650 milhões de dólares arrecadados para um filme que custou 300 milhões em sua execução, mais custos astronômicos de marketing.

Liga da Justiça de 2017 chegou aos cinemas mais ‘colorido’ que os filmes anteriores de Zack Snyder, com uma trama rocambolesca e cheia de furos, com Batman flertando com Mulher-Maravilha, Flash como alívio cômico sem graça e Ciborgue como coadjuvante do coadjuvante.

Mas nada poderia ser pior que o retoque digital oferecido ao bigodão de Henry Cavill. Recrutado para refilmagens, o ator estava nos sets de Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018) e contratualmente proibido de tirar o bigode. A solução foi recorrer a efeitos especiais que resultaram em algumas das cenas mais bizarras da história do cinema. Simplesmente inesquecível.

Parte 1 – Internet se movimenta

Passada a decepção com Liga da Justiça, os fãs souberam por meio do diretor Zack Snyder que haveria um outro filme no chão da sala de edição. Aquele que ele imaginou conceber. Assim surgiria o movimento #ReleaseTheSnyderCut, que reivindicava à Warner a possibilidade de permitir que o diretor revelasse ao mundo a sua versão do filme.

Por mais que alguns críticos desconsiderem a importância dos internautas nesta questão – afirmando que toda decisão é meramente empresarial –, a pressão dos fãs é parte integrante desta história. Fomos nós, os nerds e afins, que tornaram este novo filme uma possibilidade. Conviva com isso.

É claro que não dá para simplesmente apagar a figura dos executivos. Prestes a lançar sua nova plataforma de streaming, a HBO Max, a Warner enxergou no #SnyderCut uma possibilidade de angariar novos assinantes. Assim, como dizemos aqui no interior, “estavam reunidas a fome e a vontade de comer”.

Parte 2 – Um novo filme

Com mais 70 milhões de dólares para executar sua versão, o diretor reuniu tudo que havia filmado para conceber esse Liga da Justiça de Zack Snyder. Em memória a Autumn e em respeito aos fãs, além, é claro, de sua própria visão da criação da Liga.

A sinopse é idêntica ao filme de 2017: determinado a garantir que o sacrifício final do Superman (Henry Cavill) não fosse em vão, Bruce Wayne (Ben Affleck) alinha forças com Diana Prince (Gal Gadot) com planos de recrutar uma equipe de meta-humanos para proteger o mundo de um ameaça de proporções catastróficas.

A tarefa se mostra mais difícil do que Bruce imaginava, pois cada um dos recrutas deve enfrentar seus próprios demônios do passado antes que possam finalmente formar uma liga de heróis sem precedentes. Porém, pode ser tarde demais para Batman (Affleck), Mulher-Maravilha (Gadot), Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller) salvarem o planeta dos vilões Lobo da Estepe, DeSaad e Darkseid e seus planos de conquistar a Terra e encontrar a perigosa Equação Anti-Vida.

Parte 3 – Uma jornada

Mais clichê, impossível. Mas como dizem por aí, o que vale é a jornada. E neste ponto, Liga da Justiça de Zack Snyder revela-se a versão definitiva – ou a que deveria ter sido, antes que a outra fosse. Mas diversos pontos devem ser analisados.

Com quatro horas de duração, o filme lançado nesta quinta-feira, 18 de março, dificilmente encontraria espaço nos cinemas. E se fosse dividido em dois, poderia frustrar o público, porque sua primeira metade é lenta e vagarosa.

Imagina só o tamanho do desafio de Snyder: depois de apresentar sua versão de Batman e Superman nos cinemas, e de uma participação da Mulher-Maravilha em A Origem da Justiça, seria preciso contar a origem de Aquaman, Flash e Ciborgue, enquanto caminhava para reuni-los e enfrentar uma ameaça em comum.

O ideal, logicamente, seria fazer o que a Marvel fez com os Vingadores: filmes de origem da maioria dos personagens da equipe, culminando em sua reunião para formar uma superequipe. Mas isso não era possível, o estúdio não podia mais perder tempo.

Se nada de ruim acontecesse e Snyder conseguisse finalizar seu Liga da Justiça em 2017, como o filme teria sido? Ninguém nunca vai saber. Mas poder lançar sua versão no streaming possibilitou chegar nesta versão de quatro horas que, ao final, poderia muito bem ter uma hora a menos, não fossem as câmeras lentas e o fan service.

Parte 4 – Mudanças

Não vou aqui enumerar cada mudança nas versões de Liga da Justiça, mas farei um breve resumo do que realmente importa: antes de tudo, Batman pode reunir os heróis, mas Ciborgue é o coração da equipe. Desta vez, o personagem tem o destaque que merece, mesmo que Ray Fisher não entregue uma atuação de gala.

Batman e Mulher-Maravilha abandonam os flertes, Flash faz piadas com timing correto e Aquaman deixa de ser um bastardo chorão para iniciar seu caminho ao trono de Atlântida. A jornada da ressurreição de Superman é praticamente a mesma, mas melhor explicada e ancorada na necessidade de vencer o desafio à frente.

E que desafio! O raquítico Lobo da Estepe (Ciáran Hinds) da versão anterior dá espaço a um vilão anabolizado, em busca de redenção após trair Darkseid, governante tirano de Apokolips. Em sua missão de reunir as três Caixas Maternas, enfrenta as Amazonas, Mera e Aquaman em Atlântida, e depois a própria Liga da Justiça.

Para todos estes confrontos, chama atenção a nova classificação indicativa do filme. Se a versão de 2017 era indicado para maiores de 13 anos, a sanguinolência do #SnyderCut é voltado para maiores de 18 anos. Mortes para isso, não faltam.

Quando chega ao seu clímax, Liga da Justiça de Zack Snyder já é muito superior à versão dos cinemas. Aos executivos da Warner, fica a pergunta: quem deixou chegar ao público o filme de 2017?

Parte 5 – Imperfeição que faz sorrir

É claro que a versão de Snyder para sua Liga não é perfeita. Poderia ser um pouco mais curto, traz algumas inconsistências no roteiro, efeitos especiais que precisariam de mais atenção (leiam-se recursos) e exagera no tom ‘visionário’ do diretor. Como bem lembrou o amigo Marcos Kimura: porque apresentar o Caçador de Marte se ele sequer participa da pancadaria final?

No entanto, ao final do filme, minha paixão pelos quadrinhos e suas adaptações me trouxeram um sorriso ao rosto. Como disse lá no início do texto, pode não ser perfeito, mas é um sonho de infância transformado em realidade. E depois de tantas idas e vindas, já é suficiente. Por enquanto…

* O Nerd Interior conferiu Liga da Justiça de Zack Snyder após convite enviado pela Warner Play. O filme estará disponível para aluguel em plataformas digitais como Apple TV, Claro, Google Play, Looke, Microsoft, Playstation, Sky, Uol Play, Vivo e WatchBr por três semanas, para ser assistido quando e onde você quiser. Após 8 de abril, o título retornará ao catálogo da HBO Max, que será lançado em junho de 2021.

 

Pós-crédito: os fãs já lançaram a campanha #RestoreTheSnyderUniverse, pedindo à Warner que resgate o universo criado por Zack Snyder. Com o Flashpoint chegando e as Terras Paralelas pintando, quem sabe?

 

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