Review | Branca Como a Neve

Branca Como a Neve chega em meio ao turbilhão dos live-actions da Disney, mas não se confunda, esta sátira apenas se inspira no trágico conto dos irmãos Grimm para se definir como uma versão bem mais moderna da mocinha bondosa que é enclausurada pelos anões em uma casinha no meio da floresta.

A diretora Anne Fontaine é conhecida por suas abordagens femininas e feministas, e aqui não é diferente. Claire (Lou de Laâge de Agnus Dei) é uma bela jovem que trabalha no hotel de seu falecido pai. O local agora é administrado por sua madrasta má, Maud (Isabelle Huppert de Obsessão). Claire desperta um ciúme incontrolável em Maud, cujo jovem amante se apaixonou pela bela enteada. A madrasta decide então se livrar de Claire, que consegue fugir com a ajuda de um homem misterioso. Ele a leva para a sua fazenda em uma pequena aldeia, onde ela causa bastante agitação: um, dois, e logo sete “príncipes” acabam cativados pelo seu charme. Para Claire, este é o começo de uma emancipação radical, tanto romântica quanto carnal.

Fontaine sempre trouxe temas relevantes para seu cinema, seja em Marvin, onde trata da diversidade sexual num repressivo ambiente familiar, ou em Agnus Dei, onde usa um ambiente religioso para discutir abusos sofridos por freiras na Segunda Guerra Mundial. Dessa vez, ela abandona a narrativa naturalista para seguir por uma vertente muito mais ousada e fabulosa, apresentando Claire a um choque (ela é sequestrada e quase morta) e depois tendo a chance de recomeçar sua vida, como num conto de fadas, só que muito mais sensual e até erótico.

Sem abrir mão de suas características, Fontaine lança um olhar feminista sobre sua protagonista. O aspecto frágil da bela Lou de Laâge não a transforma em uma presa fácil para aqueles homens que vão se apresentando um a um, pelo contrário, Claire toma as rédeas da situação e se encanta por cada um deles de formas diferentes, se permitindo desfrutar das sensações e prazeres que até então havia sido privada pela madrasta e da qual o sequestro enfim a despertou.

Os sete homens, assim como os sete anões, apresentam personalidades e belezas distintas, desde o músico hipocondríaco vivido por Vincent Macaigne (Marvin) aos gêmeos interpretados por Damien Bonnard (Baseado em Fatos Reais), com cada um deles Claire vai descobrindo algo novo e se relacionando de maneiras distintas, e o trunfo de Fontaine é não problematizar essas relações com tabus (as conversas com o padre interpretado por Richard Frénchette são reconfortantes) nem com moralismos e julgamentos tacanhos. O tom fantasioso ajuda a tornar estas relações libertadoras e sinceras, como o caso com o personagem de Macaigne, uma pessoa avessa a toques, com isso, Claire e ele se regozijam através da música.

Com uma estrutura divida em três capítulos, Branca Como a Neve se torna uma coletânea de momentos sensuais e cômicos entre Claire e aqueles homens que não consegue fugir da típica história da madrasta ciumenta e invejosa que quer eliminar a enteada bela e desejada. Huppert é uma presença de luxo em cena, como sempre, mas sua personagem não tem muito a entregar a não ser olhar para Claire com intenções misteriosas que nunca ficam muito claras para o espectador. O resultado é positivo pela subversão que Fontaine se propõe a fazer com uma história clássica e por colocar uma personagem feminina sempre à frente das situações.

Em tempos onde os clássicos da Disney ganham cada vez mais versões desnecessárias e caça-niqueis, Branca Como a Neve pode não ser inventivo, mas, ao menos, distrai ao espectador, assim como parece ter divertido o elenco; a cena em que Lou de Laâge chicoteia Benoît Poelvoorde (Coco Antes de Chanel) diz muito sobre o tom e da intenção do filme: rir daquele bando de homens de quatro por Claire que parece se divertir muito com a situação.

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