Review | Wolfenstein II – The New Colossus

Você pode até dizer que Wolfenstein II – The New Colossus chegou em um momento completamente atípico. Enquanto a indústria de jogos caminha para transformar os títulos cada vez mais em um serviço, as experiências completamente singleplayer estão cada vez mais raras. No entanto, o segundo título desta tentativa de renovar a franquia Wolfenstein, produzido pelo estúdio sueco MachineGames e distribuído pela Bethesda, encontra seu espaço em meio aos jogos puramente online e, em uma experiência quase cinematográfica, continua a boa história trazida para nós em Wolfenstein – The New Order, mostrando que, com o tempero certo, ainda há como se cozinhar uma ótima história nos videogames.

O primeiro Wolfenstein da nova era, lançado em 2014, fez o seguinte questionamento: “E se a Alemanha nazista tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial?” Essa distopia histórica, que inverte os polos da dicotomia que foi o até hoje conhecido como maior evento de guerra que o mundo já viu, foi bastante elogiado por, neste cenário, tratar temas como racismo e intolerância. Em Wolfenstein II – The New Colossus, a narrativa começa exatamente quando o primeiro título termina, só que nela conhecemos mais das motivações de William Joseph Blazkowicz, ou B.J para os íntimos,  e o que o impulsiona na batalha contra o nazismo, além do óbvio que já conhecemos.

Neste segundo episódio da franquia (que deve ser uma trilogia), B.J é confrontado com o seu passado e encara as responsabilidades de não ser apenas o símbolo do Circulo de Kreisau, grupo da resistência contra o regime autoritário nazista, mas também ser o futuro pai de gêmeos. Então, no lugar de um sanguinário ativista esfolador de nazistas, encarnamos agora um combatente que pensa em algo maior que tudo isso: a sua família.

Entre as megalomaníacas e frenéticas sequências de ação, a história de The New Colossus é contada de forma competente e primorosa. As cenas são bem dirigidas e, com uma excelente cinematografia, não caem na armadilha de se tornarem repetitivas e comuns. Um dos exemplos da incrível capacidade da MachineGames de criar cinema dentro de um jogo é a sequência em que B.J discute a importância do conflito entre comunismo e fascismo com outro personagem ao som de tiros de sniper e um jazz puxado por um clarinete que vai ficando cada vez mais frenético conforme a discussão se intensifica.

Algo que também faz the Wolfenstein II uma bela história são as personalidades em volta de B.J, que não são apenas meros coadjuvantes. Os personagens do seu grupo de resistência deixam de ser apenas um monte de pixels que te passam missões e, cada um ancorado em sua personalidade única, proporcionam momentos na história que são fáceis de serem relembrados. Desde as viagens de LSD de Probst Wyat IIIt (só se você salvar ele no início do jogo) ao temperamento da guerrilheira Grace Walker, tudo é dosado a perfeição com o humor. Sim, apesar de The New Colossus ser uma história que amplifica as questões sobre intolerância e racismo e seus reflexos na sociedade proposta ali, já debatidas no primeiro título, o humor está presente em muitas cenas, como a veneração a um banheiro plenamente funcional por um dos personagens ou a conversa entre o Dr. Set Roth e B.J enquanto soldados nazistas são pegos em armadilhas no plano de fundo da cena.

OK! Mas e quando estamos jogando?

Calma! Eu sabia que perguntariam isso. Assim como o primeiro título, Wolfenstein II é um shooter competente. As possibilidades de iniciativa e abordagem durante as missões são bastante diversas e o sistema de evolução de B.J premia e dá bônus de acordo com as ações realizadas pelo jogador durante o confronto, moldando-se ao modo de jogo de quem está com o controle nas mãos. Ou seja, se você é mais uma espécie de ninja, que se esgueira pelos cantos na tentativa de chamar menos atenção possível dos inimigos, as suas habilidades de furtividade crescerão mais rápido que as de combate. Mas se você é um Rambo da era moderna que atira com duas armas (como eu fiz) suas habilidades de combate receberão mais atenção pelo sistema do jogo.

No entanto, The New Colossus não é de todo perfeito. Alguns pecados capitais são cometidos na jogabilidade, o que tornam o título frustrante em determinados momentos e aquém do que se espera de mecânicas para um jogo de ação como ele. O primeiro destes pecados são os picos de dificuldade enfrentados durante a jornada que te obrigam a oscilar entre os níveis de dificuldades disponíveis (que podem ser alterados a qualquer momento, ainda bem). Eles ocasionam situações em que, depois de tanto morrer seguidamente em algumas sequências, você se rende e reduz a dificuldade em um nível. Ao superar o desafio, você retoma à dificuldade anterior, para mais tarde ter que descer novamente um degrau porque está travado em outro ponto. A falta de um nivelamento justo e progressivo por igual compromete o andamento do jogo e da história e isso, definitivamente, te tira um pouco do sério. E convenhamos, não é legal.

Saber para onde ir também é um problema em alguns pontos de Wolfenstein II, principalmente em cenários externos, como as sequências passadas nas ruínas de New York. Sempre bonitos e com iluminação excelente, os cenários deixam a desejar na questão de level design e mais confundem o jogador do que ajudam quando a agilidade em saber o caminho a se seguir é requisitada. Em meio ao combate, por muitas vezes você quer procurar um lugar mais calmo para se recuperar ou então pensar por mais uns dois segundos sobre o que precisa fazer, mas acaba falhando miseravelmente. Nos ambientes externos o mapa pouco ajuda e o caminho nunca é claro, obrigando o jogador a usar o recurso de dica (uma seta acompanhada de um número que mostra a distância do objetivo) para conseguir se localizar e sair do inferno pelo que está passando.

Por fim, o maior dos pecados (na minha opinião) é a baixa resposta de dano dada ao jogador. Em meio ao tiroteio desenfreado você será atingido por diversos e incontáveis projéteis de todos os tipos e tamanhos possíveis e saber de onde eles estão vindo e quanto resta de vida para você realmente sucumbir seria algo essencial para deixar a ação na medida certa para o que o título se propõe. No entanto, saber isso é algo praticamente impossível. Culpa do sistema de retorno de dano existente no jogo que mostra muito pouco (quase nada) ao jogador o quão grave as coisas estão ficando para o seu lado. Ao ser atingido, o que se ouve é um som seco e o que se vê é uma tela que se mancha de sangue, mas não na intensidade que deveria para acender o sinal de alerta e fazer o jogador procurar um local seguro. Por causa disso, inúmeras foram as vezes que morri acreditando que a situação da minha barra de energia não estava tão crítica assim.

Mas no final, os problemas não são suficientes para apagar o que Wolfenstein II – The New Colossus traz de melhor: uma história bem contada, com bons personagens e com a pitada certa de tudo. Afinal, jogos ainda servem para se contar boas histórias.

 

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Wolfenstein II – The New Colossus está disponível para PS4, Xbox One e PC. A versão para Nintendo Switch sai ainda em 2018.

Este review foi produzido com uma cópia cedida pela assessoria de imprensa da Bethesda no Brasil.

 

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