Review | Westworld – Primeira Temporada

Terminou no último domingo a primeira temporada de Westworld, o seriado criado para substituir Game of Thrones como cartão de visitas da HBO. E a criação de Jonathan Nolan e Lisa Joy entregou o que a produção milionária e elenco de cinema prometia: uma trama envolvente, instigante e inteligente, valorizada por atuações de primeira.

O ponto de partida é o mesmo do filme de Michael Crichton (criador do Parque dos Dinossauros) de 1973: um parque temático no futuro recebe turistas milionários que vem para viverem aventuras num ambiente de Velho Oeste, em que podem dispor de androides-anfitriões como desejarem, seja atirando neles ou fazendo sexo, por vezes à força. O idealizador, Robert Ford (Anthony Hopkins, em atuação fora do piloto automático de seus filmes mais recentes, ou seja, brilhante), trabalha com seu braço direito, Bernard Lowe, para que os robôs sejam cada vez mais convincentes aos hóspedes. A corporação que controla o resort, a Delos, por um lado acha esse aperfeiçoamento um desperdício de recursos, mas por outro lado cobiça o software dos anfitriões, ou código, que por contrato não pode deixar o parque.

Dentro de Westworld, acompanhamos o despertar de Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood, um talento que ate hoje não ganhou a devida notoriedade), uma das androides mais antigas, embora pareça eternamente jovem nos 35 anos de existência do parque. Isso é importante, porque a trama segue em pelo menos três linhas do tempo. Outra androide que descobre sua verdadeira natureza é Maeve Milay (Thandie Newton, atriz que andava meio sumida e que está sensacional na série), cafetina do bordel da cidade que é ponto e partida das aventuras no resort, e que se lembra se uma outra vida em que tinha uma filha.

Numa das linhas do tempo, acompanhamos um enigmático e inescrupuloso Homem de Preto (Ed Harris, ótimo) em uma busca por um labirinto que teria sido criado pelo falecido sócio de Ford, Arnold. Na outra, vemos dois amigos, futuros cunhados, que chegam para uma temporada, um deles já veterano e o outro, neófito.

Se o Westworld dos anos 70 remete a um parque temático para adultos como o da Universal Studios, esta nova versão é como um game ao vivo, em que os participantes tem que cumprir determinadas linhas de narrativa e completar missões. Os androides são como NPCs (non-player character, ou personagem não jogável) de jogos como Grand Theft Auto, em que o jogador mata transeuntes que ficam no seu caminho, e em versões proibidas, até transa com prostitutas virtuais. Num mundo em que você pode dar vazão aos seus piores impulsos, o que você se tornaria? Esse é um dos temas da série.

Outro é o limite do humano: quando uma inteligência artificial pode ser considerada um ser vivo?  O subtítulo brasileiro do longa de 1973 – Onde Ninguém tem Alma – caberia para esta releitura contemporânea. Como em Blade Runner, os androides parecem manifestar mais o que chamamos de “humanidade” que as pessoas de carne e osso, especialmente no ambiente competitivo e mesquinho de uma grande corporação.

O encerramento da temporada – com a segunda já confirmada, mas apenas para 2018 – fecha algumas questões, mas abre outras que vão alimentar a expectativa por mais Westworld.

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