Review | Mulher-Maravilha 1984

Sem dúvida alguma, 2020 ficará marcado para a história como um dos anos em que menos houveram estreias nas salas de cinema do mundo todo devido à pandemia de covid-19 que assolou a todos. Os efeitos da pandemia (que parece não ter fim mesmo com os avanços das vacinas) ainda são sentidos em diversos níveis, tanto econômico quanto da saúde, mas um dos setores que mais sofreu foi o entretenimento, mais especificamente os cinemas.

Com o fechamento das salas, o streaming ganhou força. O Disney+ finalmente chegou ao Brasil (ainda sem grandes lançamentos, é verdade), e a Amazon e a Netflix lançaram alguns filmes durante o ano (mas muitos dos que devem concorrer a prêmios só devem entrar em seus catálogos a partir de dezembro). Com isso, os filmes que resistem e insistem em ir ao cinema são vistos como raridade e uma oportunidade única para aqueles que desejam se arriscar nas salas – sem julgamentos, cada um sabe de si, e convenhamos, uma sala de cinema é mais segura que um restaurante onde todos tiram a máscara para comer ou um vagão de metrô lotado, certo?

Mulher-Maravilha 1984, assim como Tenet, é mais um filme da Warner que chega às nossas salas em 2020. Num ano tão difícil, o que esperar de um filme como este? A continuação do longa de 2017, também dirigido por Patty Jenkins e estrelado por Gal Gadot, é entretenimento puro e a oportunidade de se desligar por duas horas e meia (!!!) do caótico mundo lá fora.

E já adianto: Mulher-Maravilha 1984 consegue isso, mesmo que tropece boas vezes durante o percurso. O melhor é que a edição do filme é bastante dinâmica e a duração exagerada não compromete. Só que há um detalhe que deixa a desejar e que está bem no título do filme: 1984.

Estilo

Ora, ao intitular o filme com um ano em específico, espera-se que ao menos tenha algo ali que faça jus. A bem da verdade é que o 1984 do título quase passa em branco. Ok, não serei tão rigoroso. Em paralelo à batida trama de Guerra Fria (que nem ganha tanta atenção da narrativa), há algumas cenas avulsas ali que brincam com as roupas bregas e chamativas e danças que efervesciam à época, como o breakdance, que deve fazer parte dos Jogos Olímpicos pela primeira vez na história em 2024. Só que isso é pouco. Falta coesão e harmonia estilística para que estes elementos incorporem a narrativa. Sabe um filme de super-heróis que assume essa breguice de uma maneira muito mais harmônica? Thor: Ragnarok… e olha que eu nem adoro o filme, hein?

Quando se fala em anos 80, outra coisa que nos vem à mente são as músicas cheias de efeitos sintéticos. E, infelizmente, este é mais um item que Mulher-Maravilha 1984 deixa a desejar. Onde estão os grandes clássicos da época? George Michael, Prince, Alphaville, Stevie Wonder, Chicago, Van Halen e dezenas de outros artistas e músicos poderiam tornar a aventura muito mais saudosa. Por outro lado, a trilha composta por Hans Zimmer é excelente, e os acordes que anunciam a heroína Diana ainda arrepiam.

E é justamente na figura de Diana e na intérprete Gal Gadot que Mulher-Maravilha 1984 se sustenta. Assim como no longa original, Gadot assume o manto da heroína com carisma e personalidade. Só o que me desagrada é que parece haver em Jenkins (ou na DC/Warner) uma necessidade em dar à heroína o manto que o Superman de Henry Cavill abriu mão: o de líder da Liga da Justiça (pelo menos até que outro ator seja anunciado como o kriptoniano ou que Cavill decida voltar).

Evitarei dar spoilers, mas algumas escolhas (de cenas bem específicas mesmo) não surtiram efeito positivo em mim. Pelo contrário, por algumas vezes eu ficava pensando: isso é mesmo necessário? A Mulher-Maravilha já é poderosa e admirada o suficiente sem fazer isso. Sabe quando colocaram a Rey e o Kylo Ren para se curarem sem mais nem menos em Star Wars: A Ascensão Skywalker? É mais ou menos por aí.

Acertos

Se Mulher-Maravilha 1984 falha em algumas escolhas, acerta em outras. A volta de Chris Pine ao elenco tem justificativa aceitável, embora sirva de muleta para reviver o que havia dado certo no filme anterior.

Outro acerto está na escalação dos atores Pedro Pascal e Kristen Wiig. A canastrice e o exagero nos gestos de Pascal atendem bem ao que seu personagem pede, enquanto a Barbara Minerva de Wiig vai muito bem, justamente até virar a Mulher-Leopardo (quando vira uma vilã genérica feita de CGI que não empolga mais).

Aliás, é justamente no embate entre a Mulher-Leopardo e a Mulher-Maravilha que o longa chega ao seu pior momento. Uma cena de luta escura para esconder o CGI da felina e com acrobacias pouco empolgantes. É pena, pois a sequência de abertura do filme e outra sequência no Egito estão entre os melhores momentos da ação aqui.

Para encerrar, pode parecer que eu estou somente falando mal do filme, mas não é bem assim. A Mulher-Maravilha tem a incrível força do amor ao seu lado, como está na mensagem do filme, e é justamente nisso que o longa se sustenta. Os momentos em que Diana anda sozinha e contemplativa pela cidade ou está junto de seu amado Steve Trevor são os melhores do filme. De longe.

 

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