Review | Um Lugar Silencioso – Parte II

Inicialmente, nem John Krasinski – diretor e astro do primeiro Um Lugar Silencioso – , nem Emily Blunt – sua co-estrela e esposa – botavam fé numa sequência do ótimo suspense de 2018, sucesso de crítica e público. Os roteiristas Scott Beck e Bryan Woods fugiram de uma possível continuação, e coube ao ator-cineasta também escrever a nova história. E não é que ele não apenas deu conta das duas funções, como ainda estregou uma bela obra, que não deixa nada a dever ao original?

Entre um filme e outro, aconteceu a pandemia da Covid-19, e isso mudou muita coisa. Durante o período mais pesado de mortes e lockdown nos EUA, Krasinski manteve um canal no YouTube com notícias boas e conteúdo de esperança chamado SomeGoodNews, e seu roteiro tinha que conter algo sobre o momento que vivemos, sequer sonhado quando Um Lugar Silencioso foi lançado há três anos.

O prólogo mostra o momento em que a vida dos Abbot e de todo o planeta muda, com a chegada das criaturas extraterrestres, que a exemplo dos aliens de Prometheus, parecem projetados apenas para nos eliminar Terra. Boa parte do orçamento deve ter sido gasto nessa sequência, cuja função principal é apresentar o personagem Emmet (Cillian Murphy, o Thomas Shelby de Peaky Blinders).

Sobreviventes

Se antes a ação era centrada exclusivamente na família, agora os sobreviventes devem sair de sua zona de conforto (!?) e buscar outras pessoas. Aí entra o vizinho Emmet, o cara cuja esperança foi enterrada com a mulher e os filhos, que não quer se responsabilizar por Evelyn (Emily) e suas crianças. Embora ele seja a presença física masculina necessária em tempos de crise, é a adolescente Regan (Millicent Simmons, atriz que é deficiente auditiva como a personagem) quem tem a coragem que move a ação.

A Evelyn cabe manter-se viva e aos outros filhos, percorrendo os caminhos do luto do primeiro filme (por isso, recomendo assisti-lo no Amazon Prime antes de ver a continuação). O garoto Noah Jupe, que interpreta Marcus, já tem no currículo também uma minissérie da HBO, Undoing.

Como em The Walking Dead, há os que usem a crise em benefício próprio (numa sequência pra lá de tensa), e há os que representam a esperança, assim como na crise real do Coronavirus, os desastres trazem o pior e o melhor do homem à tona (e tem a CPI  do Covid que não me deixa mentir).

A trajetória de Emmet é a do homem comum, que se despedaça na dor mas encontra uma saída na coragem alheia, no caso, a dos Abbott. Muitos na cabine de imprensa promovida pelo Topázio Cinemas acharam o desfecho aberto, mas eu achei uma imagem de esperança dentro da tragédia.

Um Lugar Silencioso – Parte II é, até o momento, o blockbuster mais relacionado com o momento de desastre global, sem deixar que a mensagem se sobreponha ao entretenimento.

 

Cena pós-crédito: se você nunca assistiu SomeGoodNews, canal no YouTube com notícias boas e conteúdo de esperança criado e apresentado por John Krasinski, confira o último de um total de 14 episódios lançados.

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